Ativos reais e privados, flexibilidade… o que procuram os investidores

Juan Carlos Dominguez Ramon Carrasco Daniel Oingarrón
Juan Carlos Dominguez Ramon Carrasco Daniel Pingarrón

Numa discussão entre três responsáveis de vendas de gestoras internacionais procurou-se a resposta sobre onde vão os investidores encontrar rendimento nesta conjuntura e, na ausência desse rendimento, para onde se estão a dirigir os fluxos?

O contexto económico e financeiro atual é, no mínimo, desafiante. Não que alguma vez o trabalho de gestão de ativos e distribuição de fundos de revele fácil, mas um contexto de taxas de juro nulas ou baixas que perdura há uma década, e deverá prevalecer durante alguns anos, levanta um obstáculo adicional a quem procura investir em ativos geradores de rendimento. Foi neste contexto que numa discussão entre três responsáveis de vendas de gestoras internacionais se levantaram dois temas. Por um lado, onde vão os investidores encontrar rendimento nesta conjuntura e, por outro, na ausência desse rendimento, para onde se estão a dirigir os fluxos?

Para Juan Carlos Dominguez, responsável de vendas da AXA Investment Managers, o período pós-pandemia tem sido caracterizado pelo acentuar de um movimento em direção a carteiras mais barbell. Numa das extremidades “zero risco em rendimento fixo. Os investidores não veem valor na classe de ativos”. No meio, “uma menor tração dos fundos balanceados, em geral. Embora existam exceções, a verdade é que durante a correção originada pela pandemia e na subsequente recuperação, muitos destes fundos mostraram um comportamento aquém do esperado”. Na outra extremidade, “vimos os fundos de cariz temático e em particular de tecnologia a disparar. Vemos mais apetite por estas estratégias porque o investidor entende a dinâmica que está por detrás”, explica. 

Dentro do universo de rendimento fixo, por seu lado, Daniel Pingarrón, responsável de Vendas para a Península Ibérica da Natixis Investment Managers tem dois destaques a realçar. “Primeiramente, estamos a ver a maioria dos nossos investidores a reduzir o risco de duration. O apetite que temos verificado por estratégias de short duration é extraordinário. O outro movimento significativo que vemos é um interesse significativo por risco de crédito numa procura por yield adicional em mercados desenvolvidos”. Encontra, assim, um mercado interessado em estratégias que se posicionam na fronteira entre investment grade e high yield, numa abordagem de duração reduzida no sentido de “encontrar aqueles anjos caídos cujo risco de default está bastante controlado”. Estas preferências refletem-se também na componente de liquidez, como substituto de fundos do mercado monetário ou cash, nomeadamente, e como indica o profissional, em fundos de duração ultra curta - 0,5 anos - com algum risco de crédito. 

Por outro lado, aponta, vê também a classe de ativos de dívida de mercados emergentes em hard currency como uma alternativa que interessa aos investidores, pelos 300 ou 400 pontos base de spread que proporciona. “Nos mercados emergentes podem-se dar mais ineficiência no equilíbrio de risco e retorno que nos desenvolvidos, pelo que torna possível adicionar um prémio de yield às carteiras sem risco de crédito adicional”, explica. 

Já Ramón Carrasco, responsável de vendas da Carmignac, aporta uma perspectiva diferente que se traduz nos fluxos que observam na entidade gestora francesa. “No atual cenário, os riscos inflacionistas estão em cima da mesa. Não só em nos Estados Unidos ou Reino Unido, mas também em Portugal e Espanha. Perante o tapering nos EUA e a maior inclinação da curva de yields, os preços dos ativos de rendimento fixo ressentem-se. E neste contexto, o que os clientes estão a pedir é uma coisa muito simples: flexibilidade”. Para o profissional, em tal cenário, é importante que os gestores tenham a flexibilidade para implementar duration negativa nos portefólios e agir em conformidade com o que se espera do comportamento do mercado. “Os fundos que não têm essa flexibilidade serão penalizados nos próximos 12 a 24 meses”, comenta.

Por outro lado, Ramón Carrasco aponta as estratégias de retorno absoluto como uma alternativa que tem atraído interesse dos investidores. “No final do dia, quando se enfrentam tantos desafios no mercado o que é que os investidores pedem de um fundo de retorno absoluto? Retornos positivos, baixa volatilidade, baixa correlação… se olharmos para estes parâmetros estamos muito satisfeitos com os resultados e a confiança dos investidores portugueses tem sido muito forte”, aponta. 

Ativos privados e ativos reais

Das alternativas cotadas para os ativos privados ou reais, Daniel Pingarrón é categórico ao afirmar que “o mercado português está a prestar cada vez mais atenção a estas classes de ativos”, nomeadamente dívida privada e infraestruturas. Especificamente, aponta os estímulos para acelerar a recuperação que terão origem nas instituições europeias como algo de que os investidores querem colher frutos. 

Por outro lado, a dívida privada. “A verdade é que no contexto de muito baixas taxas de juro como o que vivemos atualmente, muitos investidores estão dispostos a assumir algum risco de iliquidez no sentido de obter uma yield adicional. Em 2012 poderíamos comprar dívida portuguesa ou espanhola com yields de 7% ou mais. Hoje em dia, se queremos algo próximo desses níveis, é preciso abdicar de liquidez. Algumas estratégias de dívida privada conseguem proporcionar 5 ou 6% em emissões sénior”, explica. 

Juan Carlos Dominguez, também vê interesse no segmento das infraestruturas no universo segurador, ao qual a AXA IM tem grande ligação. “Temos recebido muitas questões destes clientes sobre ativos reais e muita tração em ações e dívida de infraestruturas nas carteiras das companhias seguradoras. Vemos a mesma tração em emissões hipotecárias. Algumas destas estratégias acabam por apresentar uma yield relativamente baixa, mas encaixam muito bem nos requisitos de Solvência II”, expõe. Para o profissional, fica evidente que as entidades seguradoras estão focadas em muito mais que o perfil de risco e retorno de uma estratégia. “Há muitas implicações do ponto de vista contabilístico. Importa o P&L da estratégia, a sua volatilidade… São investidores muito sofisticados e estas estratégias vão ao encontro dessa sofisticação”.