Posicionamento da carteira de estratégias temáticas de ações

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TRIBUNA de Daniel Pingarrón, responsável de Vendas para a Península Ibérica da Natixis Investment Managers. Comentário patrocinado pela Natixis IM.

Os dados preliminares das nossas análises da carteira (Portfolio Clarity) indicam que existe uma forte tendência para as estratégias temáticas de ações na Europa. Segundo os dados da Bélgica, Itália, Espanha, Reino Unido, França e Alemanha, as alocações médias aos investimentos temáticos passaram de 1,75% antes de março de 2020 para mais de 5% no período posterior à COVID1 e representam uma das tendências de carteira mais significativa observadas até à data. Segundo a Morningstar, nos três anos decorridos até março de 2021, o total de ativos geridos nestes fundos triplicou com lucros, passando de 174.000 milhões de dólares a 595.000 milhões em todo o mundo. 

Durante o ano 2020 confirmou-se o papel das estratégias temáticas na eleição dos investidores, que ficaram contentes com a rentabilidade superior à média da maioria delas. No período de um ano até março de 20212, mais de dois terços dos fundos temáticos globais obtiveram bons resultados e superaram os mercados de ações mundiais (utilizando o índice Morningstar Global Markets como referência). Por isso, a maioria dos investidores tende a atribuir às estratégias temáticas uma função de melhoria da rentabilidade. No entanto, a nossa análise mostra que também podem ser um fator de diversificação e que são capazes de reduzir a volatilidade das carteiras, não só pelo fator de volatilidade, mas sim pelo aproveitamento de uma menor correlação. Estas estratégias costumam ter um maior risco específico (e, possivelmente, um menor risco sistemático) que os investimentos tradicionais nas ações. Por exemplo, quando se acrescentem a uma carteira típica de um investidor retail, os temas Robótica e Segurança podem oferecer um lucro de cerca de 30% em termos de diversificação3

Portanto, coloca-se a questão de como considerar as estratégias temáticas no contexto da construção de carteiras. A resposta não é simples e, ao fim e ao cabo, ainda não há um lugar claro para elas na alocação tradicional de ativos. Em geral, os investidores optaram até agora por uma alocação de ações baseada em critérios geográficos e têm utilizado estratégias temáticas com fins táticos nas carteiras, de forma similar às alocações setoriais. Dado o caráter global da maioria das estratégias temáticas, é possível que os  investidores prefiram substituir as estratégias de ações globais por estratégias temáticas globais diferenciadas ou complementares na sua carteira atual com estas últimas. 

No entanto, há argumentos de peso para acreditar que o investimento temático poderá melhorar o rendimento de toda a carteira, sobretudo em comparação com a exposição geográfica tradicional. Vários estudos académicos, como o realizado por Dimson, Marsh e Staunton4, têm demonstrado que não existe uma relação clara entre as yields reais (ajustadas à inflação) das ações e o crescimento real do PIB. Por exemplo, a recuperação que seguiu a crise financeira mundial nos Estados Unidos fez com que os mercados bolsistas tivessem um retorno excelente em 2009, embora com um crescimento inferior à média. Este aspeto vê-se acentuado pelo caráter globalizado das empresas de elevada ou muito alta capitalização, cujas receitas provêm de distintas zonas geográficas. Cerca de 40% da faturação das empresas do índice S&P 500 origina-se fora dos Estados Unidos. Portanto, é pouco provável que o investimento nos mercados regionais seja uma opção de pure play dirigida a uma região específica. Segundo muitos opinion makers e analistas, o baixo rendimento relativo das ações europeias face às norte-americanas durante a última década é atribuível ao menor crescimento na Europa; no entanto, outros dados sugerem que está mais relacionado com a composição setorial e os fatores de estilo, na prática o triunfo do componente Growth sobre o de Value. O investimento temático oferece uma solução eficaz para este problema, na medida em que os gestores podem ter mais controlo sobre os temas e os motores de investimento e estar menos à mercê das constantes mudanças na composição dos índices de ações, que podem depender de uma série de fatores conhecidos e desconhecidos. 

Como todos os investimentos, a alocação a estratégias temáticas implica naturalmente riscos. Como acima mencionado, um maior risco específico faz com que algumas estratégias temáticas se concentram mais em determinadas ações e/ou subsetores. Para o mitigar, uma opção prudente poderá ser diversificar em diferentes investimentos temáticos. O risco mais evidente é o perigo de eleger um tema antiquado ou, ainda pior, uma moda passageira. Todos recordamos, no início da década de 2000, a forte rentabilidade dos REIT americanos durante a bolha tecnológica e a crise financeira, ajudados pelas baixas taxas de juro e pela flexibilização da normativa sobre empréstimos, mas quanto às taxas de juro voltaram a subir e o crédito acabou, o jogo chegou ao fim. Certamente, não basta investir no setor tecnológico, como sabe qualquer pessoa que tenha investido recentemente em ações tecnológicas chinesas do setor educativo. É imprescindível que a reflexão vá mais além dos fatores macro e que os investidores não confundam uma tendência a longo prazo com uma tendência cíclica, fixando-se unicamente nas baixas taxas de juro ou outros fatores. Como se pode ver no gráfico abaixo, o tema da Segurança é interessante porque não há uma correlação clara entre os resultados superiores a longo prazo e os fatores macroeconómicos típicos, como o crescimento, a inflação ou as taxas de juro. Além disso, as tendências reais e sustentáveis devem ter um componente de irreversibilidade: é muito pouco provável que as fontes renováveis voltem aos combustíveis fósseis e é igualmente claro que a robótica e a automatização estão a substituir os processos manuais e não ao contrário.

Perguntemo-nos então se os investimentos temáticos poderão assumir o lugar da exposição geográfica tradicional e tornar-se num componente essencial da carteira. Temos boas razões para acreditar que esta abordagem tem algumas vantagens inegáveis, porque introduz uma forma mais centrada e transparente de aceder aos mercados e porque, ao colocar de lado as tendências seculares, tem o potencial de superar os resultados a longo prazo. Atualmente, estes investimentos mantêm uma função como alocações satélite na carteira, mas continuaremos a vigiar a evolução desta tendência nos próximos anos.

Rentabilidade relativa do universo de segurança com fatores macro Safety vs GDP 10Y Yields and CPI


1 Fonte: Natixis Investment Managers Solutions, dados baseados na análise de 84 carteiras modelo no período de fevereiro de 2019 a fevereiro de 2020 e 104 carteiras modelo no período de março de 2020 a junho de 2021

2 Morningstar, Global Thematic Funds Landscape, 2021

3 Fonte: Natixis Investment Managers Solutions. Dados baseados na composição típica de uma carteira de retalho europeia a partir de junho de 2021. Cálculos em euros, baseados em dados diários durante um período de três anos até julho de 2021.

4 Dimson, Marsh y Staunton, Triumph of the Optimists: 101 Years of Global Investment Returns, Princeton University Press (2002)


Notas Adicionais

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