2015: será o ano das ações nacionais voltarem à mó de cima?

9638669838_d70ac2056a_b
Role Bigler, Flickr, Creative Commons

Depois de se perceber quais as principais nuances que prejudicaram a rentabilidade dos fundos de ações nacionais e também ibéricas em 2014, importa igualmente nomear as perspetivas dos profissionais responsáveis por estes produtos, depois de um final de ano em que as dificuldades se adensaram.

Diminuição do universo de investimento

Precisamente sobre esses entraves, os gestores, na primeira pessoa, nomearam alguns deles e, pelo menos um, é quase consensual: o (ainda) mais reduzido universo de investimento proporcionado pelo PSI 20. Paulo Monteiro, da Invest Gestão de Activos, que gere o Invest AR Medias Empresas Portugal, nomeia como principal dificuldade de gestão do produto “o reduzido universo de investimento e o número de alternativas para diversificação da carteira do fundo”. Com a mesma opinião, Nuno Marques, gestor do Banif Acções Portugal e do Banif Ibéria, da Banif Gestão de Activos, salienta que o fundo de ações nacionais “viu o seu universo de investimento ser reduzido, tanto em número, como na diversidade das empresas disponíveis”.  Neste sentido, também o BPI Iberia e BPI Portugal, a cargo de Catarina Quaresma Ferreira, da BPI Gestão de Activos, sofreram com o “forte aumento da volatilidade concentrada em acções com peso relevante no índice”, relata a profissional.

Pedro Pintassilgo, gestor do Millennium Acções Portugal, da Millennium Gestão de Activos, por seu lado, lembra também a “onda de desconfiança de uma boa parte dos investidores institucionais no mercado português no seguimento dos eventos BES/GES”. A par deste problema, recorda ainda a “manutenção de fracos níveis de liquidez de vários ativos da bolsa portuguesa que perante vendas externas com alguma dimensão sofreram, nalguns casos, depreciações significativas”.

PSI 20: menos representativo do que nunca?

De certa forma pode dizer-se que 2014 marcou uma barreira para o modelo de gestão dos fundos nacionais, já que o PSI 20 passou a estar mais fragmentado do que nunca. Jorge Guimarães, também gestor do Banif Ibéria, assinala a alta concentração do índice, “composto por apenas 18 empresas (o que inclui 2 grupos económicos com 2 empresas cada – EDP/EDPR e Semapa/Portucel)”. Por estes motivos, o profissional considera que o índice nacional “não faz sentido como parâmetro de referência de um fundo de acções harmonizado, que tem requisitos de diversificação obrigatórios, destinados a minimizar o risco específico suportado pelos participantes”.

Catarina Quaresma Ferreira e Pedro Pintassilgo consideram que a saída do BES do PSI 20, e que os choques causados tanto por essa situação como pelo ‘caso PT’, foram prejudiciais para o índice. Pedro Pintassilgo, entende, no entanto, que embora o PSI 20 seja um índice fragmentado “é ainda assim representativo da realidade do nosso mercado e encerra um conjunto de empresas de qualidade e com forte potencial de valorização.” Da mesma opinião é Paulo Monteiro, que entende que “as empresas cotadas encontram-se em níveis historicamente interessantes e com potencial de recuperação, ainda que com a volatilidade própria de um mercado pequeno e concentrado em ‘meia dúzia’ de empresas”. Com uma perspetiva positiva sobre o assunto a gestora do BPI considera que “a gestão destes produtos terá de se saber adaptar à nova realidade e continuar a aproveitar as melhores oportunidades de investimento”.

Perspetivas positivas para 2015

Para o novo ano os gestores continuam esperançosos. Diogo Pimentel, gestor do Santander Acções Portugal, da Santander Asset Management, refere que apesar das adversidades de 2014 acredita que “as empresas do PSI 20 continuarão a beneficiar da trajectória de recuperação do PIB em Portugal”, sendo que ultimamente vários eventos suportam essa convicção: “o desagravamento da carga fiscal em 2015; a queda de preço do petróleo; as baixas taxas de juro; e a desvalorização do euro face ao dólar”. Pedro Pintassilgo espera que “o mercado acionista português possa regressar em 2015 às valorizações absolutas e relativas, e que o fundo possa fazer ainda melhor que o seu índice de referência”. No caso do Banco Invest, Paulo Monteiro, salienta que “numa perspectiva relativa, as avaliações dos mercados europeus são mais interessantes do que a do mercado norte-americano e, entre os mercados europeus, os mercados periféricos são os que apresentam, na nossa opinião, o maior potencial de subida. Num cenário de recuperação dos mercados europeus, acreditamos que o fundo se encontra bem posicionado para beneficiar da mesma”.

Catarina Quaresma Ferreira assume que “os investidores internacionais estarão mais cautelosos no que respeita ao investimento em acções portuguesas”. Entende que “o desempenho do PSI20 em 2015 estará relacionado com a evolução da economia da Zona Euro”, estando a eficácia das eventuais medidas de estímulo por parte do BCE relacionadas com “o andamento das economias europeias e consequentemente da economia portuguesa”. Por fim, Jorge Guimarães assinala que “o consenso dos diversos analistas apontam para um crescimento de resultados na ordem dos 29% para o PSI-20 e dos 25% para o Ibex”. Ainda que estes crescimentos possam ser ligeiramente revistos em baixa, diz, o atual ambiente “deverá ajudar a uma evolução favorável do mercado acionista”.