Dois anos de pandemia: a evolução da exposição setorial dos fundos portugueses de ações americanas

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Créditos: Patrick Tomasso (Unsplash)

Apesar de ainda não ter terminado, já é possível fazer um rescaldo de como estes últimos dois anos de pandemia afetaram a alocação setorial dos fundos de ações portugueses. Depois de termos observado essa evolução nos fundos de ações europeias, chega a vez de olharmos para os fundos de ações americanas. Será que se notam diferenças significativas ao nível dos setores que os gestores destes fundos foram preferindo desde 2020 a 2022 face aos gestores de ações europeias?

De sublinhar que, para esta análise, foram considerados apenas os produtos de investimento direto inseridos na categoria Morningstar US Large-Cap Blend Equity. Trata-se do BPI América, gerido pela BPI Gestão de Ativos, do Caixa Ações EUA, sob responsabilidade da Caixa Gestão de Ativos, do IMGA Ações América, sob gestão da IM Gestão de Ativos e do NB FCP America Growth Fund, da GNB Gestão de Ativos.

Detalhes da carteira

Relativamente ao número de ações que cada fundo detém em carteira, em média, os números revelam-se ligeiramente superiores face ao número de ações nas carteiras dos fundos de ações europeias. Deste conjunto, e à data mais atual, o fundo com mais ações no seu portefólio é o IMGA Ações América, com 99 ações. Segue-se o NB America Growth Fund com 80, o BPI América com 66, e o Caixa Ações EUA com 40.

De realçar também o diferente grau de concentração de exposição no Top 10 de cada carteira. Enquanto o produto de ações europeias com menor concentração registava 25% de concentração, o produto de ações americanas com menor concentração verifica 15% - sendo este o NB America Growth Fund. Nesta métrica, o valor máximo pertence ao Caixa Ações EUA, cujo 50% do seu portefólio está concentrado nessas 10 primeiras posições.

Evolução da exposição setorial

Materiais básicos

Fonte: Morningstar Direct.

O setor dos materiais básicos é claramente menos preponderante nas carteiras dos fundos norte-americanos face à sua presença na carteira dos fundos de ações europeias.

Ao longo dos últimos dois anos, principalmente desde o início de 2020 até ao segundo semestre de 2021, o fundo líder na alocação a este setor foi o NB America Growth Fund. De facto, no primeiro semestre de 2021, este fundo contava com posições na Linde, LyondellBasell Industries, Martin Marietta Materials e Albemarle. Já no final de 2021, a única posição neste setor era na Celanese Corp.

A partir do segundo semestre de 2021, o IMGA Ações América foi o produto que ficou com maior percentagem da sua carteira alocada a este setor. Atualmente, conta com mais de 2,9% de exposição ao mesmo e a DuPont de Nemours é a ação com maior peso.

O BPI América, por outro lado, tem vindo a reduzir desde o início de 2020 a sua alocação ao setor. Aliás, consta atualmente com 0% de alocação, reduzindo-a a zero no mesmo momento em que o NB America Growth Fund diminui a sua alocação.

 Serviços de comunicação

Fonte: Morningstar Direct.

no setor dos serviços de comunicação, a tendência de exposição é decrescente, como se pode ver pelo gráfico acima. Nenhum fundo detém à data de janeiro de 2021 uma maior alocação a este setor do que detinha em janeiro de 2020.

Ao longo dos anos, o IMGA Ações América foi o fundo com maior exposição a este setor, sendo que o valor máximo de alocação ao mesmo foi em dezembro de 2020, altura em que registava mais de 13%. Atualmente, conta com 9,8% de exposição e a grande responsável é a empresa Alphabet.

De notar também que o fundo da GNB Gestão de Ativos reduziu para metade a sua alocação ao mesmo a partir do segundo semestre de 2021 - momento em que reduziu a exposição à Disney e à Verizon Communications.

Serviços financeiros

Fonte: Morningstar Direct.

Relativamente ao setor dos serviços financeiros, o Caixa Ações EUA foi quem, ao longo dos últimos dois anos, mais esteve exposto ao setor. A sua máxima exposição registou-se em janeiro de 2020 com cerca de 21,3% de alocação.

É de notar que os outros três fundos de ações nacionais registam um comportamento de alocação semelhante, pelo menos até ao segundo semestre de 2021 - altura em que o NB America Growth Fund reduziu drasticamente as suas posições neste setor.

Com a subida das taxas de juro por parte da Fed, nos últimos meses, a tendência tem sido de aumento de alocação por parte de todos os fundos.

Saúde

Fonte: Morningstar Direct.

No setor da saúde, os comportamentos de decisão de alocação ao mesmo são algo distintos por parte dos produtos em análise.

No começo de 2020, todos detinham uma alocação semelhante a este setor, no entanto, com o decorrer do tempo, as alocações foram-se diferenciando. O que é certo é que, atualmente, todos os fundos – à exceção do IMGA Ações América – têm mais percentagem da carteira investida neste setor do que tinham no começo de 2020.

De notar as maiores variações ao longo dos últimos dois anos, estas pertencentes ao Caixa Ações EUA, no terceiro trimestre de 2020, altura em que abriu posição na Amgen. Mas também o NB America Growth Fund que, no final do segundo trimestre de 2021, aumentou a sua exposição à Intuitive Surgical.

Indústria

Fonte: Morningstar Direct.

No setor industrial, há dois fundos claramente destacados em termos de exposição: o Caixa Ações EUA e o NB America Growth Fund. À data de janeiro de 2022, ambos contam com mais de 13% de alocação a este setor, sendo as maiores posições, respetivamente, a Honeywell International e a Old Dominion Freight Line. No entanto, nem sempre foram estes os fundos com mais exposição ao mesmo.

Como se pode ver, a grande variação no gráfico corresponde à alteração de alocação do NB America Growth Fund em junho de 2021, momento em que mais do que duplicou a sua exposição a este setor.

Adicionalmente, quando eclodiu a pandemia a nível mundial, é de notar diminuições na alocação por parte de todos os fundos, mas mais significativamente no Caixa Ações EUA e NB America Growth Fund.

Tecnológico

Fonte: Morningstar Direct.

Ao nível do setor tecnológico, é clara a maior preponderância do mesmo face aos restantes setores.

Mesmo na altura em que a incerteza relativamente à pandemia pairava, os fundos, em geral, não se desfizeram significativamente de posições neste setor. Nessa altura, as alocações mantiveram-se constantes, e até aumentaram ligeiramente.

Atualmente, o fundo gerido pela GNB GA é o que detém maior percentagem de empresas tecnológicas no portefólio, apresentando mais de 35% do portefólio alocado a este setor. Curiosamente, atualmente, não é nenhuma das famosas FAANG a maior aposta do NB America Growth Fund, é sim a Arista Networks.

O Caixa Ações EUA, por outro lado, regista a menor alocação, com 18% do seu portefólio. De facto, chegou mesmo a registar apenas 13,6% da carteira alocada a este setor em agosto de 2020. A partir desse momento a alocação por parte do fundo gerido pela Caixa GA manteve-se relativamente estável.

Consumo cíclico

Fonte: Morningstar Direct.

Interessante observar que, no setor do consumo cíclico, em março de 2020, alguns gestores decidiram aumentar a alocação ao mesmo, enquanto outros nem por isso. Entre os que decidiram aumentar estão os gestores do Caixa Ações EUA e NB America Growth Fund, enquanto os profissionais responsáveis pelo IMGA Ações América e BPI América decidiram o oposto. De facto, nesta altura, o fundo da IMGA reduziu a exposição a este setor de 10 para 6,6%. No entanto, a partir desse momento, a tendência foi crescente situando agora a sua alocação nos 11,2%.

Mas o produto com menor exposição a este setor é atualmente o fundo da GNB GA, com 4,19% Um valor muito baixo comparativamente aos restantes peers. Já o fundo da Caixa GA regista mais de 14% de exposição – um valor que se tem mantido constante ao longo dos últimos dois anos. Relativamente a este setor, a ação com maior peso no portefólio deste fundo é a Walmart.

Consumo defensivo

Fonte: Morningstar Direct.

Por fim, no que diz respeito ao setor do consumo defensivo, o fundo que, no geral, registou maiores variações na alocação foi o NB America Growth Fund, principalmente no ano de 2021. Deste setor, em dezembro de 2020, a ação com maior peso no portefólio deste fundo era a Target Corp. Já em janeiro de 2021, essa posição foi significativamente reduzida e a Mondelez International passou a ser a maior aposta da equipa de gestão. Aos dias de hoje, a Church & Dwight é aquela com maior preponderância.

E, se recuarmos ao início de 2020, este fundo da GNB GA era o produto com maior exposição ao mesmo, contando com mais de 12% de alocação. No entanto, e este é um comportamento transversal aos restantes fundos, depois do aumento da exposição em março de 2020, a partir dai todos reduziram a alocação ao mesmo.

Atualmente, é mesmo o fundo da GNB GA que regista a menor exposição a empresas inseridas neste setor. Já o IMGA Ações América tem registado um comportamento interessante nos últimos meses, ao aumentar a alocação a este setor significativamente até chegar aos 10,6%. A convicção da equipa de gestão tem sido na Procter & Gamble.

Outros

Fonte: Morningstar Direct.

Neste caso, o gráfico Outros refere-se aos setores de utilities e energia. Uma vez que estes setores têm pouca ponderação nas carteiras dos fundos analisados, não se encontram apresentados individualmente como os restantes.