A batalha pelo regresso das obrigações será travada em 2023

Créditos: Vitor Duarte

Poucos são os anos vistos como fáceis nos mercados de investimento, mas os últimos tempos têm sido particularmente desafiantes para os investidores de obrigações. Apesar de 2023 apontar para um mercado de obrigações mais atrativo, o futuro é profundamente incerto e as ações não perderam, ainda, popularidade. Dito isto, são várias as estratégias à disponibilidade dos gestores quando equilibram os seus portefólios e foi nesse sentido que a FundsPeople, em conjunto com a Carmignac, promoveu uma discussão centrada nestas classes de ativos.

“Olhando para a subida das taxas de juro e para a pressão que têm exercido no preço das obrigações, a pergunta que se impõe é: quão severa será a recessão? Essa é a pergunta para um milhão de dólares! De momento, não temos visibilidade para dizer, vai com tudo, mas é verdade que eventualmente começaremos a aumentar a nossa exposição a ações, logo que as obrigações reajam e os bancos centrais mudem a sua estratégia.” introduziu Ramón Carrasco, responsável pelo Desenvolvimento de Negócio da Carmignac. Destacando ainda que, “também temos que ter presente que atualmente as yields em rendimento fixo estão muito interessantes. Yields simpáticas não só em obrigações soberanas, como também em crédito”.

Para Nuno Pereira “há muito valor em providenciar alocação dinâmica aos cliente no atual contexto e é importante trazer a gestão ativa de volta para cima da mesa. Não só geograficamente ou em termos de ativos individuais, mas também entre diferentes setores”. O CIO da Sixty Degrees está igualmente certo de um cenário macroeconómico negativo e do fator-chave para um ponto de inversão, afirmando que “os ativos de risco continuarão em sofrimento enquanto não soubermos até onde vão os bancos centrais”. No entanto, na sua perspetiva, “existem certos eventos geopolíticos, como a resolução do conflito na Ucrânia, que podem desbloquear esta situação e trazer retornos positivos”.

Qual a melhor estratégia?

Paulo Pacheco, responsável de Gestão de Ativos do Banco Português de Gestão, também espera um longo período de inflação e um Banco Central interventivo tanto por motivos técnicos, como também pela pressão política dos líderes europeus. Na sua perspetiva, “a realidade económica é muito distinta e o impacto da inflação é muito grande entre as diferentes economias. Vemos taxas superiores a 20% nas balcãs e abaixo de 7% em França”. Neste contexto, relembra que nem o clássico portefólio 60/40 serviu de refúgio, vendo um dos seus piores anos, e sublinha duas estratégias: “Incrementar a duration e reduzir as posições curtas que tínhamos através de futuros e ETF inversos”.

Para Pedro Fernandes, os bancos centrais estão a lutar uma luta que não podem ganhar. “Como a inflação tem origem do lado da oferta, poderiam subir as taxas para 10% e não venceriam. Acreditamos também que já fizeram demasiado e as pessoas vão começar a sofrer. Subimos taxas num mundo que é velho e carregado de dívida”, acredita o profissional. O CIO da Heed Capital diz não haver preferência entre ações e obrigações. “A longo prazo preferimos government bonds e a curto prazo corporate credit. Mas gostamos de ações em qualquer horizonte temporal porque não tentamos fazer timing no mercado”. Afirmou ainda que garantem a sua exposição ao crédito através de índices, pelos elevados níveis de incerteza. Visão e estratégia que Paulo Pacheco revelou terem em comum.

Já Nuno Pereira partilhou uma abordagem diferente. “Não acreditamos que seja essencial escolher os melhores créditos individuais, mas sim focar em cinco ou seis que estão bem avaliados e que providenciam uma yield interessante. Emitentes e emissões com que nos sentimos confortáveis em investir e a explicar aos investidores. No que diz respeito a duração, não olhamos para as durações mais longas como uma oportunidade porque acreditamos que os bancos centrais necessitam de dar uma lição aos governos gastadores e, para isso, vão manter as taxas de juro a níveis elevados”, refere.

Rámon Carrasco contrapôs com um exemplo: “Olhemos para o setor energético de Itália. A companhia petrolífera ENI com o aumento dos preços do petróleo gerou excelentes fluxos de caixa, fortaleceu o seu balanço e o preço das ações valorizaram, no entanto, o seu rendimento fixo caiu. De facto, os ativos de rendimento fixo descontaram no seu preço os piores cenários económicos em comparação com outras classes de ativos, o que os torna particularmente atrativos neste momento. E são estas incongruências de mercado que nos recordam da importância de diversificar”. Assim, contam que decidiram aumentar a duração dos seus fundos, como no Carmignac Patrimoine, no qual passaram de uma duração negativa há três meses para uma duração positiva. Acrescentando ainda que “este contexto dá-nos carry, dá-nos yield e com as yields a atingirem níveis históricos, podemos agora ter acesso a rendimentos muito elevados e atrativos em todo o espectro do universo do rendimento fixo. Daí a importância de ter o mandato certo para gerir ativamente a sua duração”.