A configuração do negócio e as próximas gerações de clientes: os desafios do serviço de consultoria para investimento

“São precisas entidades que contribuam para a literacia financeira em Portugal”

Para o responsável da entidade, os próximos 10 anos ainda serão de um grande caminho a percorrer no campo da consultoria para investimento, nomeadamente no esclarecimento do que significa este serviço. “Nestes anos de trabalho nunca contactei um cliente que fosse já cliente da BlueCrow ou da Baluarte. Acredito que os bancos dão um serviço cada vez pior, e existem muitas oportunidades por explorar nos próximos anos. Acredito que o nosso serviço é super útil… mesmo!”, frisou o profissional. 

Para o responsável, as empresas de consultoria para investimento podem ter também um contributo na literacia financeira em Portugal, mais concretamente agindo “com os clientes que não queiram ficar a 100% na mão dos intermediários financeiros”. Em termos de negócio, Pedro Assunção vê também em cima da mesa outra possibilidade. “A dimensão do nosso mercado não é assim tão grande e, portanto, talvez haja a necessidade de alguma concentração e ligação a entidades externas para tornar o processo mais fazível”, confessa.  

“O perfil de risco de um determinado cliente está relacionado com aquilo que esse cliente percebe que está a acontecer na sua carteira” 

O responsável da BlueCrow Capital, por seu lado, durante os últimos 10 anos percebeu uma importante lição sobre o seu tipo de cliente, que também lhe serve no presente e futuro. “O perfil de risco de um determinado cliente está mais relacionado com aquilo que esse cliente percebe que está a acontecer na sua carteira, do que propriamente com a existência ou não de volatilidade. Nesse sentido, a nossa perceção de volatilidade mudou drasticamente desde que tomámos consciência disso”, confessou. 

Ao nível da perceção que tem sobre as gerações vindouras de clientes - a BlueCrow já serve mesmo segundas e terceiras gerações de clientes - António Mello Campello vê diferenças grandes na forma como se encara o património. “A segunda geração tem uma necessidade muito grande de ajudar os filhos financeiramente”, refere. “Nas três gerações que já assisti de clientes, percebo que é comum que a primeira geração construa, a segunda mantenha e a terceira gaste. Há que contrariar isso”, exclama. 

“Temos conseguido atrair pessoas estrangeiras com um património interessante que, em média, é maior do que o dos portugueses”

Para Pedro Assis, na sua perspetiva de futuro sobre o negócio, continua a preocupá-lo a forma como as pessoas abordam a auto-gestão do seu património. “Muitos particulares gerem diretamente os seus ativos através de plataformas que lhes colocam à disposição verdadeiras armas financeiras de destruição maciça do património que têm. Entendo que acreditam que sabem os riscos que correm, mas infelizmente nem sempre é assim. O Mike Tyson, que não é conhecido por ser um investidor financeiro, mas tem algumas citações brutalmente claras, disse uma vez que ‘everybody has got a plan until they get hit’, apontou o sócio da entidade. “Nós gostaríamos de evitar que isso acontecesse”, acrescentou.

Também na opinião do profissional, abraçar a literacia financeira deve ser uma das prioridades contínuas do setor financeiro. “Isto diz-se mais vezes do que aquilo que se pratica. Nós fazêmo-lo, pois acabamos por ter uma relação muito próxima com o cliente”, referiu. 

Para o futuro, os desafios das empresas que fornecem consultoria para investimento estarão ligados ao crescimento do negócio. Pedro Assis recorda que o país não é grande, mas que, na verdade, “tem conseguido atrair pessoas estrangeiras com um património interessante que, em média, é maior do que o dos portugueses”.  “Essas pessoas procuram serviços financeiros de qualidade internacional que podem e estão a ser prestados pelas sociedades de consultoria para investimento portuguesas”, concluiu.