A curva de taxas americana eleva-se: estará o fim da crise à vista?

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José_Eduardo, Flickr, Creative Commons

No passado mês de agosto, as yields das obrigações do Tesouro norte-americano a 10 anos caíram abaixo das dos treasuries a dois anos. Dito de outro modo, a curva de taxas norte-americana inverteu-se e entrou em terreno negativo, o que provocou um grande tumulto porque cada uma das nove recessões que a economia americana sofreu desde 1955 esteve precedida de uma inversão da curva de taxas. E voltou a acontecer pela décima vez: o National Bureau of Economic Research declarou oficialmente que a expansão económica dos EUA se finalizou em fevereiro.

“Pode-se argumentar que foi pura coincidência, já que ninguém podia ter previsto a pandemia de COVID-19 no verão passado. Não obstante, a expansão mundial já há algum tempo que abrandava e o próprio indicador de recessão da DWS já mostrava uma probabilidade de aproximadamente 50% no início de 2020. Por outras palavras, a recessão nos EUA era cada vez mais provável e o vírus só foi um dos possíveis desencadeadores. Além disso, os especialistas há muito tempo que avisam para este tipo de pandemias”, sublinham na gestora alemã.

Segundo explicam, o facto de que as bolsas não entraram em pânico até meio de fevereiro talvez nos diga mais sobre os mercados do que sobre os riscos económicos. Ao fim e ao cabo, uma das razões pelas quais a inversão das curvas de taxas se torne num indicador geral de recessão é que os movimentos dos mercados de dívida soberana costumam ser mais fiáveis do que as mudanças de sentimento dos mercados de ações. Portanto, se não foi um acaso que a curva de taxas tenha previsto a recessão, é possível que o aumento da inclinação assinale o fim?

“Se nos fixarmos nas crises anteriores, um aumento da inclinação é consistente com uma continuação da recessão. Mas, em primeiro lugar, menos de 10 observações representam um conjunto de dados históricos um pouco escasso para fazer previsões. Em segundo lugar, a resposta mundial à recessão, em forma de pacotes de ajudas governamentais, tem uma das dimensões sem precedentes. E, em terceiro lugar, os bancos centrais também estão a ampliar a qualidade e a quantidade das suas intervenções em forma de taxas de juro negativos, empréstimos garantidos ou compras de obrigações corporativas”, indicam da empresa.

O último recurso é o controlo da curva de taxas, algo que o Japão já implementou e que a Reserva Federal dos Estados Unidos está a equacionar. “Se os bancos centrais fixarem como objetivo controlar diretamente a maior parte da curva de taxas, o mercado de obrigações ficará privado da sua função para fixar os preços e, com ela, do mecanismo que deverá permitir a alocação eficiente de uns recursos escassos aos investimentos mais prometedores. Ainda que, bem pensado, o dinheiro já não é um recurso escasso”, concluem.

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