A grande dispersão setorial ou o motivo para a tecnologia e a saúde estarem a despertar interesse entre os investidores

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Se observarmos o relatório Sector Compass que elabora a gestora State Street de forma mensal, apercebemo-nos que este ano está a ver-se uma grande discriminação por parte dos investidores quanto aos ativos ou estratégias de ações que incluem nas suas carteiras, pelo menos quando o veículo que elegem  é um ETF.

Com dados do fecho de maio, o balanço deste ano no que diz respeito aos ETF domiciliados na Europa mostra que há duas estratégias que  concentram a maioria das subscrições dos investidores. São os setores da tecnologia e da saúde que açambarcam 3.219 e 2.288 milhões de dólares, respetivamente. O investidor europeu parece ter coincidido com o americano já que ambas as categorias de ETF são também as que concentram as maiores subscrições líquidas este ano como se pode ver no seguinte gráfico. Em Portugal também se tem visto a mesma tendênciaJoão Queiroz, diretor da banca online do Banco Carregosa comentava recentemente que estas “acabam por ser os sectores que no meio da incerteza observam maior resiliência pelo seu maior equilíbrio financeiro entre ativos e passivos, forte capacidade de gerar meios libertos líquidos e diversificação das suas fontes de receitas e de clientes (segmentos, perfis, geografia, etc.)”.

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“Os investidores dos EUA tendem a utilizar os ETF setoriais de forma mais agressiva, utilizando-os como parte das estratégias de rotação do setor ou comprometendo-se como parte das estratégias de negociação a longo prazo. Isto requer às vezes diferentes padrões de compra. Não obstante, devido ao alto risco sistémico do mercado de valores e ao domínio da macroeconomia, não há uma perspetiva muito diferente neste momento”, afirma Rebecca Chesworth, chefe de estratégia de ações e setores da SPDR ETF.

E apesar da subida que se viu no mercado de alguns setores mais ligados ao ciclo económico, esta especialista considera que a tendência vista nesta primeira parte do ano para setores defensivos manter-se-á também a curto prazo. “Estamos a ver claramente uma certa recuperação económica agora a partir de mínimos de março/abril, mas é pouco provável que o progresso em direção à recuperação total seja suave e curto. Por esta razão, preferimos as oportunidades entre os setores defensivos e os que poderão ser menos afetados pela crise. Além disso, acreditamos que o crescimento e a qualidade continuam a ser necessários num mercado frágil”, afirma.

Por isso, defende que as melhores perspetivas em termos de setores continuam a ser nas áreas de tecnologia e saúde, porque “as suas previsões de lucros permaneceram relativamente bem e devem ser destacadas pelas relativas surpresas positivas na próxima temporada de relatórios do segundo trimestre”. Um novo setor também começa a despertar o interesse dos investidores: o das utilities.

“A regulamentação de uma grande proporção de serviços de eletricidade, gás e água dá como resultado uma maior certeza de rendimentos e retornos e ajuda o setor a ganhar as suas características defensivas. Durante a crise de COVID-19, o uso comercial e industrial diminuiu, mas o uso residencial aumentou, o que ajudou a que este último tivesse um preço mais alto. O setor também tem uma história importante em termos de ESG, particularmente na Europa, com muitas das empresas a liderar os esforços de transição, como aumentar a proporção do fornecimento de eletricidade a partir de fontes renováveis”, afirma esta especialista.

Considerando a forte natureza defensiva apresentada pelas recomendações de Chesworth para o segundo semestre, a pergunta é impelida: o que é necessário para começarmos a assistir a esta grande rotação setorial? Vimos investidores fazerem alocações antecipadas para cíclicos por meio dos ETF SPDR, Europe Cyclicals and Materials, em particular. O investimento dos ETF é frequentemente tomado como um primeiro passo para aumentar a exposição a um setor prioritário. No entanto, a recuperação do risco vacilou recentemente; e para que a rotação cíclica continue, podem ser necessários tanto rendimentos mais altos das obrigações como dos PMI”, afirma este especialista.