A primeira abordagem da Bluemint IA ao mercado

Bluemint golf
Vítor Duarte

A Bluemint Investment Advisors (antiga Absolute Midas) apresentou-se recentemente ao mercado de ‘cara refrescada’, levando a cabo a sua 1ª Investment Conference & Golf day, na Quinta do Peru - Golf and Country club. A entidade foca-se na administração de um sistema best of breed de serviços para investidores institucionais, family offices e UHNWI, numa perspetiva de aconselhamento de soluções para a gestão de ativos, nomeadamente portfolio advisory, fundos de investimento mobiliário, consultoria em Solvência II e Investimentos Socialmente Responsáveis (SRI) e acesso a soluções de investimento alternativas e/ou complementares, incluindo fundos de private equity e fundos de investimento imobiliário.

A Bluemint Investment Advisors, sublinhe-se, é uma sociedade de consultoria para investimento (SCI), regulada pela CMVM. Na Quinta do Peru, apresentou-se apoiada nas parcerias que desenvolve em particular com a OFI Asset Management, com a Foyer International e com o Lombard Odier.

Perante uma plateia repleta de investidores, foram precisamente as três entidades lombard1referidas atrás as convidadas a apresentarem as suas visões de mercado, e configurações de negócio. Os suíços do Lombard Odier abriram as hostes, com a exposição de Samy Chaar, chief economist. O profissional começou a sua apresentação com uma tese quase que combativa: “Hoje em dia existe uma ideia demasiado negativa sobre o crescimento global. Queremos combater essa ideia”, referiu.

De Fórmula 1 a Peugeot: será isso assim tão mau?

No gráfico seguinte, o especialista demonstra que a linha azul – que representa a evolução da balança comercial – e a linha amarela - que representa a atividade económica – têm seguido juntas durante os últimos anos. “Tem sido assim desde há vários séculos: é através das trocas comerciais que se faz dinheiro e as economias crescem”, apontou. Olhando contudo para a parte mais recente do  gráfico – com mais altos e baixos - o profissional é perentório: “Particularmente na Europa e nos EUA, existia uma economia que podia ser apelidada de Fórmula 1. A parte verde do gráfico reflete, contudo, o mundo em que vivemos atualmente, que acaba por ser um grande reflexo de uma mudança de paradigma. Trata-se de um mundo bastante ‘flat’ em termos de trocas comerciais, bem como ao nível da atividade económica”, especifica.

balança comercial mundo

Em termos metafóricos, o especialista simplifica: “Hoje em dia na equação da economia entram questões como o Brexit e a ‘história’ de Donald Trump. Antes estávamos habituados a uma economia Fórmula 1, que se tornou numa economia Peugeot. Não quero com isto dizer que a economia Peugeot tem uma má performance. O problema é que estávamos habituados à Formula 1. Mas os dias da Fórmula 1 acabaram, e é importante ter isso em mente”, referiu. Neste novo paradigma entram mudanças na própria engenharia da economia, como por exemplo o envelhecimento da população em centros de engrenagem fulcrais como é o caso de países como a China, Bangladesh ou Índia.

Outro ponto da engenharia da economia que o especialista fez questão de tocar trata-se das taxas de juro. “É desconfortável para todos existirem taxas de juro tão baixas, mas temos de nos habituar a elas e encontrar alternativas. Perdemos as tradicionais fontes de retorno, mas existem outras. Em vez do investimento em obrigações soberanas, importa olhar para as obrigações corporativas”, referiu. Outra alternativa, que poderá permitir fugir às já esgotadas fontes de retorno tradicionais, são os investimentos em mercados emergentes (ME), que para o profissional devem ser sustentados através de três crenças, que não podem ser perdidas de vista.

Petróleo, Dólar e China

Em primeiro lugar fala da manutenção da crença no preço do petróleo. “Se acredita que o preço do petróleo chegará aos 20 dólares, não invista nos mercados emergentes. Se esse nível for alcançado, países da América Latina ou ainda a Rússia, poderão ser afectados”. O segundo elemento de forte crença para investir em ME é o dólar. “Se acredita que o dólar vai valorizar não invista em mercados emergentes. Muitas das empresas emergentes estão a endividar-se em dólares. Se este subir a pressão será muito forte”, reforçou. Por fim, a última: “Se quer investir em mercados emergentes tem de acreditar na China. A economia chinesa tem vindo a ser muito bem suportada pelas políticas fiscais e monetárias, apesar dos desequilíbrios de crescimento. Muito embora a dívida do país seja um dos principais problemas, não nos podemos esquecer que a dívida pública não é assim tão grande”, indicou. Para cada uma das crenças atrás referidas o profissional foi perentório: “Acredito que o preço do petróleo, o dólar e a China estão numa fase de estabilização”. Sobre os mercados emergentes deixou uma nota ainda mais elucidativa: “Acredito que estes mercados estão a viver uma fase económica muito próxima da ‘Fórmula 1’”.

Por fim, algumas palavras sobre a Europa e EUA. O velho continente mereceu do especialista o seguinte raciocínio: “Sendo atualmente a Europa um Peugeot, será que ele vai quebrar ou continuará o seu trajeto? Para pensar na Europa há que ser muito objetivo”. Concretizou no gráfico seguinte:

 

grafico crescimento EUA europa

“Nesta comparação entre Europa e EUA há algumas conclusões a tirar. Nos últimos 12 meses a Europa superou o crescimento dos EUA, por causa de várias razões: a pro-atividade do BCE , o dinheiro que este empresta aos bancos, etc”. Existem muitos elementos que acabam por favorecer a Europa: “Quando se pensa na situação fiscal da Europa há que olhar para a conta corrente. Na Zona Euro apesar de existir um ligeiro défice orçamental, existe um excedente financeiro porque as entidades privadas começaram a poupar mais ”, explica.

Relativamente aos EUA falou-se das eleições, como não poderia deixar de ser. “A probabilidade de que Trump ganhe é bastante pequena. Isto não se trata de uma eleição nacional, mas sim de uma eleição federal. No Estado do Texas, por exemplo, as pessoas estão na sua maioria a favor de Trump, mas nos Estados a vermelho (ver no mapa abaixo) onde muito poucas pessoas vivem, como por exemplo o Nebrasca, que é um swing state, se Trump ganhar consegue 2 votos, mas se a Hillary ganhar na Florida ela consegue 29 votos”.

Elections

OFISeguiu-se Jean-Marie Mercadal, CIO na OFI Asset Management, uma entidade gestora francesa focada na gestão de ativos de clientes institucionais, nomedamente grandes mútuas como a Macif e Matmut, que deu uma visão relativamente otimista dos mercados. O profissional, especialista em Asset Liability Management,vê os seus clientes “um pouco perdidos” num universo de investimento em que grande parte dos mercados de obrigações cotam com yields negativas ou nulas e os mercados desenvolvidos apresentam valuations perto de máximos. No entanto, “estamos ainda num bull market bastante forte”, segundo Mercadal, que vê, inclusivamente, “muito dinheiro a entrar nos mercados emergentes”. O profissional justifica esta resiliência com a falta de alternativas de investimento e um brexit “bem gerido” colocando em suas palavras uma velha máxima dos mercados: “Quando o mercado está cheio de cepticismo é um bom sinal”.

O principal risco, para Mercadal, vem da China e da incerteza inerente a um país que pesa cada vez mais na economia global, mas é ainda muito pouco transparente. Por outro lado, o especialista destaca a importância da estabilidade do dólar para esta economia, considerando o seu caráter exportador. “Se o dólar estiver muito forte, pode destabilizar os mercados e especialmente a China”, destaca. Por fim, focando na política monetária nos EUA, Mercadal destaca que “Janet Yellen tem noção da importância da Reserva Federal e do dólar na economia global pelo que, certamente, não vai querer criar instabilidade e as taxas deverão subir a um ritmo reduzido”.

Veículos alternativos para investimento

FoyerPor fim, foi a  vez da Foyer International ter destaque com a apresentação de Letícia Soares, Country Manager para Portugal. Aquele que é o maior grupo de seguros luxemburguês dedica-se exclusivamente a fazer contratos de seguro vida, sendo um parceiro privilegiado de consultores financeiros, bancos privados, banqueiros privados e gestores de ativos. “Um seguro de vida luxemburguês tem aquilo que é considerado um triângulo de segurança: nenhum banco pode receber um destes fundos desta seguradora se não for devidamente aprovado pelo regulador no Luxemburgo”, especificou.

Ainda sobre as vantagens destes produtos, a profissional destacou  a segurança e explicou que “a seguradora tem de prestar trimestralmente informações ao regulador sobre quais são e onde estão esses ativos, e que bancos recebem estes ativos. Caso exista algum problema numa seguradora, o regulador tem todo o poder de chegar ao pé de um banco e mandar bloquear esses ativos”.