A sustentabilidade nas carteiras de investimento do setor segurador e dos fundos de pensões nacional

borboleta ESG verde natureza
Créditos: Cédric VT (Unsplash)

À semelhança de anos anteriores, no Relatório de Estabilidade Financeira de 2022, a ASF (Autoridade de Supervisão de Seguros e Fundos de Pensões) voltou a analisar o perfil de risco ESG ao nível das carteiras de investimentos do setor segurador e do setor dos fundos de pensões, com base em dados referentes ao final de março deste ano.

No relatório, a entidade começa por esclarecer que este exercício permitiu mapear 98,2% do portefólio do setor segurador nacional (exceto unit-linked), considerando “100% do portefólio afeto a seguros ligados, e 92,2% da carteira afeta a fundos de pensões”.

Além desta nota inicial, a ASF alerta também que a análise deste ano “não é diretamente comparável com a análise temática publicada no relatório de estabilidade financeira, referente a junho de 2021”. Tal deve-se ao facto de a entidade ter utilizado dois prestadores de informação distintos, pelo que, “dado o atual contexto de maturação incipiente de avaliações ESG, ainda se observam resultados muito díspares entre os diversos prestadores de informação”, indica a ASF.

As carteiras de investimentos

O relatório mostra que a carteira de investimentos das empresas de seguros nacionais apresentam, em termos globais, um risco ESG de nível médio-alto. "Não obstante, é possível verificar a existência de portefólios de investimento com risco ESG de nível médio baixo, nomeadamente em algumas empresas que operam nos ramos Não Vida (carteira exceto unit-linked) e nas carteiras de ativos afetos a seguros ligados de duas entidades", aponta o regulador.

No que diz respeito ao setor dos fundos de pensões, “com a exceção do portefólio agregado de fundos de pensões geridos por uma entidade gestora, que regista uma classificação ESG de nível médio baixo, todas as restantes entidades evidenciam classificações de risco médio alto”.

De facto, segundo a ASF, a maioria (mais concretamente 51,9%) do portefólio afeto a seguros (exceto unit-linked) encontra-se alocado a títulos com risco ESG médio alto. "Esta proporção aumenta para 72,8% e 73,1% quando se observam as carteiras associadas a seguros ligados e ao setor dos fundos de pensões, respetivamente", complementa a entidade. Desta forma, quando comparamos os portefólios em questão, a carteira de investimentos das empresas de seguros (exceto unit-linked) é o que apresenta um menor risco ESG.

Em que ativos estão investidos?

Quando analisados os portefólios por tipologia de ativos, os dados deixam evidente que a maioria se encontra entre os níveis de risco ESG médio baixo e médio alto. "Em particular, a dívida pública associada a obrigações supranacionais representa a categoria de ativos conotada com melhor sustentabilidade na carteira, exibindo um baixo risco ESG", especifica a ASF.

De acordo com a entidade, os restantes títulos, aqueles com maior expressão nos portefólios, tendem a verificar classificações ESG de nível médio-alto, "contribuindo assim para carteiras com essa classificação global de risco, conforme referido anteriormente".

Títulos de dívida e risco ESG

Precisamente num contexto de transição para uma sociedade mais sustentável, a ASF destaca que o potencial de stress adicional apresentado pelos riscos ESG é maior nos títulos "cuja permanência em território de investment grade é menos robusta (i.e., CQS3 e qualidade inferior)".

A ASF vê que algumas empresas de seguros têm os níveis agregados na sua carteira de dívida correspondentes a CQS3, com títulos associados a um risco ESG de nível médio-alto. Realça, nomeadamente, as carteiras de investimentos associados a seguros Vida não ligados e Não Vida, em que "67,5% do total classificado como CQS3 está associado a títulos com um risco ESG médio alto".

Neste sentido, o regulador deixa o alerta que "o setor segurador afigura-se como mais exposto ao risco de variação adversa do valor dos títulos ou emitentes com qualidade creditícia menos robusta, não se evidenciando diferenças significativas entre as carteiras afetas a seguros ligados e a restantes seguros".

Assim, o fator qualidade creditícia média (corresponde a CQS3) conjugado com ratings ESG de nível médio alto "poderão constituir vulnerabilidades adicionais num cenário de downgrades de qualidade creditícia".