"A união bancária vai ser fortemente contestada pela Alemanha e outros países que pensam que a sua regulação é superior"

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Pode parecer incrível. Mas Bruno Bertocci, diretor de investimentos sustentáveis da UBS Global Asset Management e gestor do fundo bem-sucedido UBS (Lux) Equity Fund Eco Performance - que acumula rendibilidades de dois dígitos a um ano e a três anos, graças a um rigoroso processo de selecção - tem que pensar duas vezes para mencionar quais os riscos que lhe dão dor de cabeça. "Há ainda alguns problemas estruturais que temos pela frente, mas, dentro do equilíbrio europeu há mais pontos positivos do que negativos e isso  está a refletir-se no mercado".

Neste sentido, o especialista mostra uma atitude muito positiva perante a recuperação da Europa e, em geral, da economia global. "Eu tenho um bom grau de confiança na recuperação da Europa", diz seguro. "Os sinais económicos são positivos, todos os PMIs, os dados de exportação estão a subir, e o mais importante, a diferença entre os salários e a produtividade diminuiu na Europa. Espanha, e até mesmo a Grécia, tornaram-se muito mais competitivas", acrescenta.  

Bertocci observa que “o cenário económico é guiado muito pelas exportações e a economia dos EUA está claramente numa fase de recuperação. E as economias asiáticas também estão a começar a recuperar, o que também será favorável”. O gestor não tem dúvidas de que “dias melhores virão”.

Bertocci é um exemplo construtivo a respeito da decisão da Reserva Federal de começar a subir as taxas de juros. "Devemos preocupar-nos quando os bancos centrais estão a começar a subir as taxas de juros para tentar desacelerar a economia. Isto é frequente nos finais de ciclos. Nas fases iniciais do ciclo, quando as taxas de juros aumentam porque a economia se está a recuperar e vêm de um nível muito baixo, tradicionalmente os mercados de ações têm um bom  desempenho ", diz, devido ao facto de se estar a produzir um processo de normalização da economia "as receitas aceleram”.

Bruno Bertocci acredita que as valorizações estão baixas - "não há muito otimismo incluído nos seus preços, pelo que é permitido entrar" – confirmando que a sua equipa está a prestar mais atenção aos valores periféricos "mais do que no norte da Europa, Reino Unido, França e Alemanha". O responsável da UBS Global AM acredita que "de todas as economias periféricas, Espanha é a que tem feito maiores progressos estruturais, o que dá motivos para se ser otimista". 

O setor que mais pondera no UBS Eco Performance é o bancário. "Depois de um período económico muito desafiante, os bancos americanos já restruturaram os seus balanços... os bancos europeus estão um pouco atrás, mas acredito que estão, neste momento, com essa tarefa", diz, ao mesmo tempo que indica que o real estate "está a mostrar sinais de estabilização", sendo mais fácil obter visibilidade para o setor financeiro. No entanto, Bertocci esclarece que os bancos europeus precisam de se capitalizar. "Comparado com os americanos, é certo que muitos vão precisar de aumentar capital", particularmente "os bancos periféricos." 

O diretor de investimentos da gestora suíça acredita que a união bancária vai acabar por acontecer, mas acredita que "a resistência por parte da Alemanha será forte e também por parte de alguns outros países que pensam que os seus regimes regulatórios são superiores", pelo que não acredita que isso vá acontecer no curto prazo. "Creio que politicamente é muito difícil que algo assim aconteça, especialmente quando se tem a França, Alemanha e Reino Unido a aprofundar o seu próprio sistema de regulação, não necessitando que este faça parte de um sistema europeu”, conclui Bertocci, que em seguida reitera que “o problema que realmente está em cima da mesa é o de alguns países que no passado tiveram regimes de regulação mais leves relativamente à qualidade dos balanços e dos empréstimos e pelo facto de se terem metido num “buraco” de crédito, estão agora à procurar de uma saída”. O gestor deteta uma nova percepção nos mercados, em que se castigam os bancos que não cumprem as novas normativas.

O segundo setor com mais peso no fundo é a tecnologia. Como entre as primeiras posições do fundo está a Apple, é obrigatório perguntar ao gestor se está preocupado com os fracos resultados recentemente apresentados pela empresa. O especialista começa por dizer que comprou o título quando ele ainda estava abaixo dos 400 dólares, e defende a sua posição afirmando que "muitos investidores não entendem a estratégia da Apple", já que para a empresa o mais importante "não é maximizar a quota de mercado, mas sim maximizar a rendibilidade". Bertocci está convencido de que eles vão continuar com esta estratégia devido ao "muito bom posicionamento da marca", graças ao seu sistema operativo próprio que está integrado unicamente nos seus aparelhos.

O gestor também dá uma pista de como acredita que se vai desenvolver o modelo do negócio do sector tecnológico: desenvolvendo as suas próprias televisões. "Parece-me que vão ser capazes de criar uma televisão que funcione tão bem como o resto dos seus dispositivos e que seja igualmente bem-sucedida", explica, observando que atualmente é difícil conectar uma TV a outros dispositivos, como os telemóveis ou plataformas de aluguer de filmes. 

Indo do particular para o geral, o responsável afirma que a tecnologia é provavelmente "o melhor “sítio” para se estar se se espera uma recuperação económica contínua", com ênfase nas "melhores empresas de tecnologia, que estão com um posicionamento  e know-how únicos a nível tecnológico, cujos resultados são refletidos em margens fortes, e quando as receitas se recuperaram, num aumento de rendibilidade.