No relatório The Future of European Competitiveness: A Competitive Strategy for Europe, a Comissão Europeia, com a colaboração de Mario Draghi, ex-presidente do Banco Central Europeu, apresenta um plano integral para revitalizar a competitividade da União Europeia num contexto económico globalizado. Além de oferecer uma avaliação profunda da posição atual da UE, traça um conjunto de medidas estratégicas.
O documento sublinha a importância da gestão de ativos como um motor fundamental para mobilizar capital privado para investimentos estratégicos que promovam o crescimento sustentável e a inovação tecnológica na Europa. Isto inclui a criação de um contexto regulamentar mais favorável para os gestores de ativos que permitirá uma maior diversificação das carteiras e facilitará o investimento em setores emergentes, como as tecnologias verdes e digitais.
Importância da ESMA na regulamentação financeira europeia
Neste contexto, destaca-se o documento da Autoridade Europeia de Mercados de Valores Mobiliários (ESMA) na regulamentação e supervisão do mercado financeiro europeu. O relatório defende um mercado de capitais mais profundo e integrado como um componente essencial para a competitividade. Salienta-se a necessidade de fortalecer o mandato da ESMA para garantir a transparência, a integridade e a estabilidade do sistema financeiro da UE, permitindo-a enfrentar desafios emergentes.
Desta forma, é mencionada a necessidade de adaptar o quadro regulamentar às novas tecnologias, como a inteligência artificial, a blockchain e outras tecnologias disruptivas que impactam os mercados financeiros e a gestão de ativos. Também é enfatizada a padronização e harmonização da regulamentação a nível europeu, melhorando a competitividade do setor de gestão de ativos ao operar sob um quadro comum que protege os investidores e fomenta a confiança no mercado.
O papel das gestoras na otimização da alocação de recursos
O relatório salienta a criação e promoção de novos veículos de investimento, como fundos de capital de risco, fundos de investimento sustentáveis (fundos verdes) e outros mecanismos inovadores que atraiam tanto capital público, como capital privado para setores estratégicos. Estes veículos são essenciais para canalizar recursos para pequenas e médias empresas, start-ups e projetos de infraestruturas, facilitando o seu acesso ao financiamento necessário para crescer e competir a nível global.
Além disso, é proposta a criação de fundos pan-europeus de investimento que permitam uma maior mobilização de capital ao longo da região e uma melhor distribuição do risco. Isto incentivará a cooperação entre os diferentes agentes do mercado financeiro, como investidores institucionais, gestores de ativos e reguladores.
Para alcançar esta maior mobilização de capital, Mario Draghi salienta a necessidade de um mercado de capitais europeu mais integrado e acessível que fomente o fluxo de investimentos dentro da UE. Isto permitirá uma maior diversificação das carteiras de investimento a nível europeu, otimizando a alocação de recursos em toda a região e oferecendo maiores oportunidades de investimento.
Prioridades de investimento estratégico
O relatório identifica várias áreas-chave em que é fundamental aumentar o investimento:
- Transição verde: perante os desafios existenciais que as alterações climáticas levantam, Mario Draghi solicita investimentos massivos em esforços de descarbonização e projetos de energia sustentável. Isto inclui o financiamento para infraestruturas de energia renovável, melhorias na eficiência energética e investigação em tecnologias verdes de próxima geração;
- Infraestruturas digitais: reconhecendo o papel central das tecnologias digitais na competitividade económica futura, o relatório defende investimentos substanciais em infraestruturas digitais, desde redes 5G e 6G até à computação quântica e investigação em inteligência artificial;
- Defesa e segurança: num contexto geopolítico cada vez mais instável, Mario Draghi argumenta que a UE deve investir mais nas suas capacidades de defesa e segurança, não só na despesa militar tradicional, como também na cibersegurança e em tecnologias de defesa emergentes;
- Investigação e inovação: para manter uma vantagem competitiva, o relatório recomenda aumentar significativamente o financiamento para a investigação e o desenvolvimento em vários setores, desde a biotecnologia até aos materiais avançados e à tecnologia espacial.
Reformas estruturais para uma UE mais dinâmica
Mario Draghi também enfatiza a necessidade de se implementarem reformas que melhorem a competitividade da UE, tais como:
- Completar o mercado único: o relatório sugere que a UE deve aprofundar e fortalecer o seu mercado único, eliminando as barreiras que ainda subsistem à livre circulação de bens, serviços, capital e pessoas. Isto poderá contribuir para a harmonização de regulamentações entre os estados-membros e abordar as tendências protecionistas recentes;
- Simplificação regulamentar: para criar um contexto mais favorável para os negócios, recomenda-se simplificar e modernizar as regulamentações da UE, reduzindo as cargas burocráticas, especialmente para as PME, e garantir que as normativas são suficientemente flexíveis para se adaptarem à rápida mudança tecnológica.