A visão para 2014 da Fidelity

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@Doug88888, Flickr, Creative Commons

Os investidores, provavelmente, veem com bons olhos o ano de 2014, sobretudo após as boas perspetivas para o crescimento económico real e duradouro dos Estados Unidos da América. Com o crescimento económico nominal e a inflação que será provavelmente baixa, a Fidelity Worldwide Investment crê que não há razão para que as taxas de juro subam durante o ano e as ações, com distribuição de dividendos, serão muito atrativas para os investidores.

Na gestora consideram que é possível que haja uma revisão em alta das valorizações bolsistas, desde dos níveis atuais que são razoáveis, se bem que há o risco das ações passarem a estar mais caras se este movimento for muito forte. “Dado que os investidores, provavelmente, vão melhorar a sua visão sobre as empresas que acumulam propriedade intelectual, também é provável  que aumentam as diferenças  entre os sectores e um bottom-up será mais evidente, caso aconteça”, afirma Dominic Rossi, diretor mundial de investimento na área das ações da entidade no seu relatório de perspetivas para 2014.

A principal visão dos principais gestores de ações da entidade

Dan Roberts, gestor do FF Global Dividend Fund, espera outro ano de rendibilidades reais positivas em 2014. “Observam-se sinais encorajadores de estabilização económica e crescimento renovado. O mercado imobiliário continua a recuperar e a atividade económica está a correr bem em muitos sectores, mas o crescimento económico não recuperou por completo a normalidade. Se o crescimento futuro do PIB decepcionar, poderão aparecem algumas turbulências nos mercados. Como resultado, creio que existe uma probabilidade reduzida de vermos movimentos que destabilizem a taxa de juro. A percentagem de lucros distribuídos, através dos dividendos, está abaixo dos 50%, ou seja, um nível muito confortável. As empresas têm muito dinheiro em caixa e as politicas de gestão em todos os sectores económicos têm como objetivo o incremento gradual dos dividendos. Em resumo, creio que tanto as valorizações como as perspetivas dos dividendos vão continuar a apoiar a estratégia de ações orientada para os dividendos em 2014. E mesmo que a económica enfraqueça e se o crescimento do PIB for menor do que o preciso, será positivo para as ações.

Adrian Brass, gestor do FF America Fund e do FAST US Fund

As ações norte-americanas saíram favorecidas como classe de ativos defensiva e de risco em diferentes momentos de crises de crédito, o que provocou um aumento importante das médias históricas. Se a isso somarmos níveis de volatilidade baixos, vemos que não há preocupação  com os problemas estruturais mas sim uma certa complacência no mercado, o que faz o gestor estar cauteloso. No entanto, a economia continua a melhorar e a recuperação do emprego e da habitação reforça a confiança do consumidor, apesar da subida recente dos impostos. A recuperação ainda tem muita margem, já que há um número considerável de trabalhadores desempregados e a atividade de construção permanece abaixo da sua tendência. Ao mesmo tempo,  quando a incerteza em torno das contas públicas se dissipar, a confiança das empresas também deverá aumentar e isso vai traduzir-se numa recuperação do investimento empresarial. Isto deverá ajudar a compensar a alta carga de cortes no orçamento do sector público. Para o mercado em geral, o consenso reduziu as expectativas de lucros para níveis mais razoáveis. Portanto, no futuro, o desenvolvimento do mercado depende provavelmente do crescimento dos lucros, em vez de uma revisão em alta das valorizações das ações. Neste contexto, procuro empresas baratas e que os lucros superem provavelmente as expectativas devido à sua exposição aos motoros económicos mencionados anteriormente.

Matt Siddle, gestor do FF European Growth Fund e do FF European Larger Companies Fund

A situação financeira da Europa melhorou, o que se traduziu numa importante descida dos custos de financiamento dos bancos. Este facto pode ser visto através da descida das taxas de juro durante os últimos doze meses. Além disso, os principais indicadores, incluindo manufatura e confiança empresarial, têm recuperados nos últimos meses. Eles fizeram progressos em várias frentes, tais como a competitividade e os défices em conta corrente nalguns países periféricos, embora nem todos tenham atingindo um grande progresso. Ainda assim, os problemas associados aos gastos públicos vão levar algum tempo a serem resolvidos.

A nível empresarial, existem muitas empresas multinacionais de grande qualidade na Europa, com redes fortes, modelos de negocio sólidos e balanços saudáveis, estando assim bem posicionadas para beneficiarem de oportunidades de crescimento a longo prazo em todo o mundo. Em geral, a melhoria da situação económica e as valorizações atrativas  em relação a outras classes de ativos e regiões trouxeram um aumento nos fluxos de entrada em ações europeias e isso pode gerar um grande apoio nas valorizações no futuro.

Firmino Morgado, gestor do FF European Aggressive Fund e do FF Iberia Fund

As economias de Portugal e Espanha estão a registar melhorias tangíveis. Recentemente, o crescimento do PIB maior do que o previsto em Portugal no segundo trimestre foi encorajador depois de dez trimestres consecutivos em contração. Em Espanha, embora o desemprego continue elevado, a confiança dos consumidores, a vendas do retalho e os PMI subiram ligeiramente nos últimos meses. A progressiva reorientação da economia espanhola  para a exportação  também é um desenvolvimento muito positivo. As exportações para países fora da União Europeia subiram e as totais estão agora 20% acima dos máximos de 2008 e isso é um passo importante para os investidores recuperarem a confiança e atrair investimentos produtivos de longo prazo. Por outro lado, o governo tomou algumas medidas drásticas para reduzir os custos e assim tornar o mercado de trabalho mais flexível. Os custos salariais médios por hora são 33% mais baixos que em França, e através dessas reformas estruturais, Espanha está a recuperar a sua competitividade. Além disso, Espanha está a avançar muito no processo de limpeza dos seus bancos descapitalizados e a fortalecer o seu sector financeiro. Juntos, estes fatores positivos poderão ser os catalisadores para aumentar o interesse dos investidores nas empresas dos países periféricos em 2014. Também é importante recordar  que as empresas espanholas são algumas das mais internacionais da Europa, como mais de metade das vendas do Ibex35 a serem no exterior. Assim, as perspetivas das empresas não estão limitadas ao potencial do crescimento interno.

June-Yon Kim, gestor do FF Japan Fund e FAST Japan Fund

O dados económicos têm sido animadores. A pesquisa Tankan, publicada recentemente pelo Banco do Japão, pôs em evidência uma melhoria geral na confiança das empresas. O PMI industrial aponta para uma aceleração na produção. A condições do mercado laboral também estão a melhorar. Portanto, considero que as perspetivas são favoráveis para os próximos 12-18 meses. Durante o ano, houve uma correção devido à decepção que levou a uma estratégia de crescimento por parte do primeiro-ministro japonês, a qual chamou de “terceira flecha”. No entanto, o mercado moveu-se de forma muito rápida e foi imposto um período de consolidação. Embora eu esperasse uma correção mais abrangente e duradoura, houve uma parte importante dos excessos que se acumularam no mercado desde maio. A boa noticias é que os fundamentais estão a começar a refletir os preços e o beta está a descer. Este regresso à normalidade vai permitir estabelecer uma maior diferenciação entre a qualidade das empresas e prestar mais atenção às previsões de lucros a médio prazo. Este ambiente favorece os especialistas em seleção como eu. Acredito que o Banco do Japão vai ser o motor mais importante da recuperação que vai continuar em 2014. As reformas estruturais do governo japonês facilitaram um crescimento sustentável em 2015-16. No entanto, as próximas decisões em tornos das politicas de crescimento serão mais difíceis de tomar, quando comparadas com as primeiras “flechas”. Embora a estratégia económica do primeiro-ministro continue, será mais difícil cumprir as expectativas dos mercado. As tendências que vimos em 2013 – subidas das cotações e a debilidade da moeda – provavelmente continuarão, mas num ritmo mais lento. No entanto, o mercado japonês estará bem apoiado em 2014 para uma forte recuperação dos lucros empresariais, especialmente quando comparados com outras regiões do globo.

Teera Champongsang, gestor do FF Emerging Asia Fund e do Fidelity South East Asia Fund

A preocupação em torno da desaceleração das economias da região tem dificultado a confiança, especialmente na China, onde o processo de transformação económica abrandou o crescimento do PIB. Enquanto isso, alguns países asiáticos como a Índia e a Indonésia têm enfrentado problemas cíclicos, como défices em conta corrente. A confiança dos investidores também foi prejudicada pela perspetiva dos EUA em reduzir o seu programa de expansão monetária. Agora a questão é se essas preocupações vão continuar em 2014. Creio que existem três fatores-chave que irão apoiar os mercados asiáticos no próximo ano. O primeiro é sobre a mudança que temos observado em toda a Ásia. Por exemplo, espera-se que a China adote reformas económicas e sociais que a ajudem a cimentar a sua transição económica para um modelo mais baseado no consumo. Espero que as empresas privadas desempenham um papel mais ativo na economia chinesa no futuro. Estas reformas prolongam-se ao longo do tempo e vão ajudar a economia a sustentar-se a longo prazo.

Em segundo lugar, já deixamos para trás o pior em matéria de dados económicos negativos no segundo e terceiro trimestre de 2013. A economia chinesa tocou o fundo do poço no segundo trimestre do ano e o défice em conta corrente da Indonésia  atingiu máximos no terceiro trimestre.

Por último, as valorizações são agora mais atrativas e acredito que as empresas vão começar a registar aumentos nos seus lucros à medida que as economias vão recuperando. Em resumo, Ásia será um excelente lugar para investir no longo prazo, uma vez que está a beneficiar do comércio inter-regional e uma grande base de consumidores. Muitas empresas asiáticas estão a converter-se em líderes mundiais graças ao maior numero de marcas de consumo e à liderança tecnológica. Creio que existem diversas oportunidades de investimento  no amplo espectro dos mercados asiáticos que oferecem aos investidores um grande potencial de crescimento.

A visão dos principais gestores de obrigações da Fidelity

Segundo Andrew Wells, diretor mundial de investimento da área de obrigações da Fidelity Worldwide Investment, as obrigações irão viver, provavelmente, outro ano intenso em 2014. Os rendimentos estão em níveis baixos em todas as classes de ativos, apesar de ser uma consequência lógica do ambiente económico difícil a que temos assistido, e o medo de uma grande rotação desde das obrigações e das ações por parte dos investidores é exagerado. Os investidores deveriam re-calibrar as suas expectativas em torno do crescimento e comparar o valor com os períodos de crescimento e de inflaçãoo fortes das décadas anteriores”, afirma o gestor.

Apesar das preocupações em torno das subidas das taxas de juro que aconteceu no verão, Wells acredita que os investidores podem ficar surpreendidos ao verem as rendibilidades das obrigações corporativas que se mantiveram positivos em 2013. “Acho que em 2014 poderemos voltar a viver uma situação similar. Embora as taxas de juro estejam baixas existe a possibilidade de que subam em 2014. A dívida corporativa ainda é atrativa, pelo que os investidores devem dar preferência as estratégias centradas nesta classe de ativos e enfatizando a diversificação e proteção contra as incertezas levantadas pelas autoridades”.

Andy Weir, gestor do FF Global Strategic Bond Fund e do FF Global Inflation-linked Bond

Em 2014, as obrigações têm poucas possibilidades de repetir as evoluções favoráveis dos últimos anos. Os rendimentos caíram de uma forma generalizada em todo o mundo como resultado dos cortes concertados. EU acho que os rendimentos da dívida pública seguem em níveis demasiado baixos quando comparado com qualquer indicador de valor razoável a longo prazo. O Quantitive Easing vai continuar por algum tempo, provavelmente até início de meados de 2014, altura em que Janet Yellen deve anunciar alguma forma de reduzir os estímulos. As subidas das taxas de juro por parte da FED taram a chegar. Yellen propôs um quadro de “controlo óptimo” em que a inflação mais alta será um preço a pagar para conseguir a redução da taxa de desemprego, mantendo as taxas de juro em níveis baixos mais tempo. No entanto, quando terminar, o aumento provavelmente será como a regra de Taylor para a FED. Dentro das obrigações, espero que as obrigações de alto rendimento sobressaiam graças aos fundamentais. O fator técnico dominante que levaram os investidores monetários ao longo da curva da maturidade e aprofundar a curva da dívida corporativa em busca de rendibilidades continuará a compensar qualquer pequena elevação das taxas de juro sobre a dívida pública. Na continuação da flexibilização quantitativa , o risco de inflação extrema vai aumentar. Além disso, a turbulência no mercado no verão de 2013 causou uma distorção dos preços das obrigações indexadas à inflação . Tendo em vista esses fatores , acredito que as obrigações indexadas à inflação ainda são atrativas.

Andrei Gorodilov, gestor do FF European High Yield Fund e do FF Emerging Market Corporate Debt Fund

A visão macro proporciona um ambiente favorável para títulos de alto rendimento na Europa em 2014. A Europa está no caminho da recuperação, mas o crescimento é pequeno, o desemprego elevado e a austeridade continua a pesar. Tendo em vista esses fatores e a ausência de pressões inflacionistas, o BCE confirmou o seu compromisso de manter as taxas de juro “baixas durante mais tempo”, com o interesse em investimentos em títulos High Yield. Os fundamentais são sólidos. As empresas seguem, ainda, em modo defensivo e a maior parte das companhias fazem novas emissões como o objetivo de se refinanciarem. O mercado tem uma elevado qualidade creditícia, de modo a que dois terços das empresas são classificadas BB, em comparação com os 40% dos EUA. O quadro técnico é bem suportado pela busca de rendimento que alimenta o fluxo de capitais para a classe de ativos e rotação fora do mercado de empréstimo europeu, contribuindo para mais emissões. Embora os rendimentos estão historicamente baixos, apresentam um dilema quando às valorizações. Tal como tem acontecido historicamente , os cupons são, provavelmente, o principal impulsionador do retorno no próximo ano, a taxa de cupão média é ligeiramente superior a 7%.