Ações e commodities impulsionam carteira da Fundação Champalimaud

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Créditos: Dessy Dimcheva (Unsplash)

2020 foi muito o ano que não desejávamos. Pôs à prova as nossas capacidades e foi uma espécie de stress test da vida real”. Esta frase introdutória da presidente da Fundação Champalimaud Leonor Beleza, no relatório e contas de 2020, provavelmente também se aplicará aos próprios investimentos e contas da entidade no ano passado.

No ano de início da pandemia de COVID-19, a fundação conseguiu uma valorização positiva da carteira de investimentos, mas que não foi além de 1%. Um número bem mais modesto face aos 12,6% de valorização alcançados um ano antes pela fundação.

Mercado cambial prejudica performance

Em 2020, os ganhos cifraram-se, portanto, em mais 5,4 milhões de euros, o que elevou o valor de mercado da carteira para mais de 565,6 milhões de euros. Tal como já tinha acontecido também em 2020, “todas as classes de ativos tiveram retornos positivos durante o ano”, escrevem. Contudo, foi o segmento de mercado cambial que acabou por prejudicar a performance global. No documento indicam que isso se deveu “ao custo de cobertura de ativos não denominados em euros, e à queda do dólar em mais de 8% em relação ao euro”.

“Geralmente passiva”. Assim dizem também ter-se mantido a política de investimentos da entidade.  A alocação top down, escrevem, foi “determinada por tipos de ativos, uma perspetiva de longo prazo e a diversificação de investimentos”. Atestam aquela que pretende ser a estratégia da entidade. “A fundação visa ultrapassar o desempenho do mercado, dentro do seu perfil de risco, selecionando os melhores fundos para cada categoria de ativos e escolhendo-os em função simultaneamente do reconhecimento dos gestores e de resultados comprovados”, pode ler-se.

Além da gestão passiva, há também espaço para “investimentos em títulos específicos”, que são escolhidos “na perspetiva de otimização de resultados”. Nos últimos anos esta estratégia tem sido conseguida com o investimento em obrigações de bancos convertíveis.

Ações com ganhos de quase 8%

De acordo com o relatório, as ações voltaram a destacar-se na carteira de investimentos. Voltaram a ser o segmento que mais contribuiu para o resultado global, e renderam 7,9%, o correspondente a 10,9 milhões de euros. “Esta performance deve-se em grande parte ao elevado desempenho dos gestores desses ativos, que estimamos que tenha contribuído em mais de 5% para o resultado final”, atestam. Em contrapartida, falam de um detrator do potencial de retorno. “As estratégias de derivados que foram implementadas para mitigar quedas de património limitam significativamente o retorno deste segmento de ativos financeiros”, notam.

Ouro e prata: ganhos de 25%

Na componente de alternativos o retorno foi positivo em 7,2%, o que correspondeu a 10 milhões de euros. Nesse sentido, destacam um principal impulsionador, “o segmento de commodities, centrado em ouro e prata, que proporcionou um ganho de cerca de 25%”. Recentemente, Francisco Amorim, da Jupiter AM, explicava o outlook positivo que traçam precisamente para os dois metais.

Por outro lado, sublinham também o sub-segmento de hedge funds que contribuiu para o bom desempenho. A maioria dos fundos escolhidos baterem mesmo os benchmarks correspondentes, segundo indicam. Igualmente, os investimentos em mercados não cotados saíram-se bem. “Os fundos de capital de risco (private equities), os fundos de dívida (private debt) e os de real estate, geraram também retornos positivos de 6%, 2.9% e 4,5%, respetivamente”, apontam.

O mercado de rendimento fixo, contrariamente ao ano anterior, traduziu-se em ganhos inferiores. Registou então ganhos de 2,6%, o referente a 6 milhões de euros. Este desempenho positivo, dizem, teve o impulso da "posição da carteira em títulos de alto rendimento, no que se inclui a exposição da fundação a obrigações convertíveis de Bancos (AT1 ou CoCos), e aos denominados títulos de senior bank loans (SBL), tendo ambos proporcionando retornos positivos ao longo de 2020”.

Ativos de risco: olhos em 2021

A fundação deixa ainda palavras sobre o investimento no futuro. “As políticas monetárias acomodatícias, os estímulos fiscais extraordinários, a implementação de um programa de vacinação e, em última instância, a libertação duma procura reprimida, provavelmente serão muito favoráveis ao crescimento global e, por isso, favoráveis aos ativos de risco”, dizem.

A alocação de ativos, apontam, em 2021 está já “posicionada de forma a beneficiar deste sentimento geral positivo para a alocação dos investimentos da carteira”. Preveem uma volatilidade elevada este ano, podendo produzir “ajustamentos nos mercados”. Assim, estimam que a alocação da carteira deva “permanecer estável”.