No meu último artigo, abordei o tema dos riscos dos investidores, especialmente a questão da economia chinesa que considerei ser um dos principais focos de preocupação nos próximos tempos. Os meus receios infelizmente materializaram-se de forma rápida e bastante precipitada a partir de 11 de Agosto, após a desvalorização da moeda chinesa pelas autoridades monetárias do país.
Desde esse dia, a ventania que assistimos nas bolsas mundiais foi muito forte. Para quem esteve de férias em Agosto, não foi só o vento que se assistiu em alguns dias (embora este não tenha vindo do mar da China) que trouxe o indesejado stress!
Hoje em dia, uma boa parte do fluxo de transações das bolsas desenvolvidas (especialmente em Wall Street) é ditado por máquinas. Como disseram há poucos dias vários analistas internacionais, o descarregar de ordens de venda nos últimos dias, especialmente nos dias 21 e 24 de Agosto, pelos potentes sistemas informáticos levou a que o índice de volatilidade VIX por exemplo tivesse ultrapassado os 40 pontos e que o índice Dow Jones tivesse caído 1000 pontos em poucos minutos.
Mas será este comportamento racional, ou seja, haverá razões fundamentais para que de repente e apesar dos fatores de risco mencionados no meu artigo de Julho, as bolsas caiam precipitadamente? Penso que não: o problema são as emoções!
A época de resultados relativa ao segundo trimestre de 2015 foi boa, tanto nos EUA como na Europa, os dados macroeconómicos mantêm uma trajetória positiva (PMI, IFO, entre outros) e até as expetativas de subida dos juros pelo FED em Setembro têm diminuído à medida que os preços das commodities caiem e a inflação é inexistente.
A preocupação reside essencialmente nos mercados emergentes, mais dependentes e correlacionados com a evolução económica chinesa e dos preços das commodities.
Estes movimentos bruscos das bolsas, mais técnicos do que fundamentais e mais emocionais do que racionais, acabam por ser positivos segundo alguns analistas porque segundo eles, os preços dos ativos ficam novamente atrativos. Bem, isso é verdade para os investidores que estavam com pouca ou nenhuma exposição ao risco e com bastante liquidez antes das fortes quedas e, portanto, puderam realizar investimentos de oportunidade que compensaram a perda de valor nos poucos ativos em carteira. Ou para os investidores que estavam curtos antes da queda das bolsas.
Contudo, estes movimentos bruscos de descida e de subida das bolsas têm igualmente um lado negativo, uma vez que aumentam a desconfiança nos investidores, afetando mais cedo ou mais tarde a evolução económica e a performance de negócios e resultados das empresas.
Num período de reduzido crescimento económico global e em que a Europa começa finalmente a recuperar da crise, esta volatilidade excessiva não é benéfica. Oxalá a poeira se abata e os investidores vejam que o valor dos ativos não desapareceu de um dia para o outro!