Alfa em tempos de volatilidade: ideias de três gestores da Franklin Templeton com Rating FundsPeople

David Zahn, Derek Deutsch e Will Vaughan. Créditos: Cedida (Franklin Templeton)

Em que ponto se encontra a economia global e que implicações tem para o investimento? Três gestores da Franklin Templeton de fundos com Rating FundsPeople 2022 partilham a sua visão.

Contexto macro

Na opinião de Derek Deutsch, gestor do Clearbridge US Sustainability Leaders Fund, as probabilidades de uma recessão nos Estados Unidos são de 75%. O que leva o gestor a não estar 100% convencido de uma contração da economia? Por um lado, a inflação. “O IPC já atingiu, potencialmente, o seu pico nos Estados Unidos, com fatores como as cadeias de abastecimento a normalizarem”, afirma. Isto pode levar a Reserva Federal a virar a sua estratégia no sentido da neutralidade, ou, pelo menos, a ser menos agressiva.

Por outro lado, a resiliência do mercado de trabalho norte-americano. O desemprego norte-americano permanece a níveis muito baixos, certamente longe do que se esperaria numa recessão. “Os pedidos iniciais de subsídio de desemprego atingiram o mínimo em 50 anos”, sublinha Deutsch. É o indicador-chave que o gestor observa e que, até agora, não está a dar razão para pânico.

Will Vaughan, gestor associado do Brandywine Global Income Optimiser Fund, tem uma visão semelhante: “É importante recordar que indicadores estão a marcar o caminho da Fed”. Até que o emprego e a habitação apresentem falhas, o banco central norte-americano não vai abrandar. Mas mesmo após o aumento de 300 pontos base das taxas norte-americanas, a saúde do consumidor não se deteriorou, insiste Vaughan.

David Zhan, gestor do Franklin Euro Short Term Duration Bond Fund, é mais pessimista em relação às perspetivas para a Europa. Atribui uma probabilidade de 98% de uma recessão na Europa. Indica até uma data: final de 2022 ou o primeiro trimestre de 2023. “O Banco Central Europeu está a subir as taxas, mas a inflação que enfrenta não se deve ao excesso da procura, mas sim a fatores exógenos. É provável que este inverno haja medidas de racionamento de gás na Europa”, afirma.

Por isso, estima que o BCE só irá aumentar as taxas até aos 2% este ano. “É preciso relembrar que até há três meses tinham uma política monetária acomodatícia”, destaca.

Ideia 1: obrigações europeias

Dito isto, a recessão que Zahn prevê é uma contração leve, uma vez que haverá apoio fiscal. “A União Europeia está habituada a gastar”, afirma. Precisamente por isso, o gestor considera as obrigações europeias interessantes. Em particular, o crédito investment grade. “Ao contrário da dívida norte-americana, a parte curta da curva europeia já está a refletir uma recessão. Neste momento, podem ser compradas obrigações a três anos que rendem 3,5-4%. Pensando no momento em que estamos, parece-me uma das melhores oportunidades que existe atualmente”, assegura.

Encontra até ideias interessantes nas obrigações soberanas. Por exemplo, a Estónia, cuja emissão a 10 anos negoceia com um prémio de risco de 200 pontos base, castigada por estar geograficamente próxima da Rússia. No entanto, o gestor sublinha que é o país europeu com menor taxa de dívida sobre o PIB. “Eu diria que é preciso começar a comprar, lentamente, mas temos de começar. Dentro de dois anos olharemos para trás para este momento e vamos desejar ter comprado mais”, prevê.

Ideia 2: obrigações norte-americanas

Por outro lado, Vaughan foca-se noutro extremo da curva se analisarmos os ativos norte-americanos. Com a Fed a empurrar agressivamente a parte frontal da curva, algo tem de ceder, afirma o gestor. Claro que tudo tem um preço. E, na sua opinião, parece-lhe ser um ponto muito interessante que a parte longa da curva do Tesouro norte-americano se mova para os 3,6%. “Não estamos a entrar de repente, mas temos liquidez preparada. Assim, se tivesse que analisar algo, fá-lo-ia nessa zona”.

Ideia 3: ações

Embora o S&P 500 tenha corrigido 22% até à data, Deutsch não exclui a possibilidade de os múltiplos se poderem comprimir ainda mais. Nesse contexto, o gestor acredita que os nomes mais cíclicos são mais vulneráveis. Por outro lado, os líderes sustentáveis, que é onde foca a sua carteira, têm balanços sólidos, geram free cash flow e estão a procurar soluções para os problemas do momento (mantendo a procura forte). Assim, o especialista concorda com os seus colegas ao defender que este é um período em que mais do que sair do mercado, deveríamos estar a entrar. E se o fizerem, defende a concentração em empresas de crescimento e alta qualidade.