Durante a segunda edição do CAIA Iberia Day fez-se uma revisão da evolução do investimento em capital privado na Península Ibérica durante o último ano.
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Os mercados privados continuam a alargar o seu lugar nas carteiras de investidores que a eles recorrem como fonte de rentabilidade adicional, bem como uma via de diversificação das mesmas. No entanto, as estruturas que compõem os mercados privados, bem como o acesso aos mesmos, não são iguais quando se analisa mercado a mercado.
Enrique Ramos Cobo, senior associate na Preqin, explicou algumas dessas particularidades que o mercado ibérico apresenta em comparação com o resto da Europa na segunda edição da conferência organizada pela Associação CAIA - o CAIA Iberia Day - celebrado em Madrid.
Uma dessas diferenças é o nível de entrada que o capital privado oferece na Península Ibérica em comparação com outros mercados europeus. “No que diz respeito ao acesso, os fundos são mais acessíveis na Península Ibérica, com mínimos de cerca de 100.000 euros, enquanto na Europa esse mínimo continua a situar-se próximo de um milhão de euros”, explica Enrique. Além disso, na região, são muito poucos os produtos que requerem investimentos mínimos superiores a cinco milhões de euros, ao contrário do que acontece na Europa, onde essa percentagem se situa entre 20% e 30%.
Outra das diferenças está nas rentabilidades que os fundos apresentam. Embora tanto na Península Ibérica como no resto da Europa haja uma concordância em assinalar as áreas de infraestruturas e de private equity como as duas que ofereceram as melhores rentabilidades em média no período entre 2012 e 2021, há que ter em conta que esses dados de rentabilidade são obtidos a partir da informação que as próprias gestoras divulgam, ao contrário do que acontece em regiões como o Reino Unido, onde há mais informação pública.
Em todo o caso, a área de infraestruturas é a que apresenta a maior divergência quando se observam os dados da Península Ibérica com a média europeia. Segundo explica Enrique Ramos Cobos, isto deve-se ao facto de, na Península Ibérica, existirem vários fundos oportunísticos muito pequenos que apenas fizeram um par de investimentos e venderam-nos em pouco tempo, conseguindo uma taxa interna de retorno líquida muito elevada, sendo uma estratégia observada apenas a nível local. Ainda assim, eliminando essas estratégias, a taxa interna de retorno líquida média ibérica continua a superar a europeia (15,2% na Península Ibérica vs. 13,8% na Europa).

Talvez essa seja uma das razões pelas quais a área das infraestruturas é agora a que está a receber melhores números de fundraising. “Em infraestruturas, é a segunda estratégia que mais capital capta, mas também vemos muito interesse em venture capital”, afirma. Não obstante, afirma que 75% do capital captado em infraestruturas ibéricas foi captado apenas por um fundo.
Pelo contrário, no resto da Europa, destaca o volume que os fundos de private equity estão a receber, um segmento de mercado que na região ibérica não concentra tantos investimentos. Em Espanha, embora os números de fundraising pareçam baixos, as expetativas são muito positivas. “Na Península Ibérica, há mais de 3.800 milhões de euros já levantados em fechos intermédios - se só esse capital terminasse este ano, já seria um ano recorde para o private equity na Península Ibérica. Como os fundos, a nível geral, passam cada vez mais tempo no mercado, o capital demora mais a entrar nos nossos registos de fundraising oficiais - 2023 é mais um ano de ajuste em que muitas gestoras de private equity voltaram ao mercado ou alargaram o seu fundraising de 2022”, explica o especialista.

Além disso, a julgar pelos números da Preqin, o mercado ibérico de capital privado está muito mais alinhado com a SFDR do que outros países europeus. Uma prova disso é que, do capital levantado previsto, calcula-se que 40% será de produtos classificados como Artigo 8.º e Artigo 9.º, face aos 30% que se veem na Europa (excluindo o Reino Unido).
Os maiores obstáculos do setor
Até agora foram referidas as diferenças, mas o mercado ibérico também apresenta outra série de caraterísticas comuns às do mercado europeu. Uma delas é a dificuldade que se observa em ambos no momento de captar fundos, causando um alargamento dos períodos de comercialização. “76% dos fundos encerrados em 2024 estiveram em fundraising durante mais de dois anos. Observa-se que os fundos demoram cada vez mais a encerrar, mesmo que atinjam o seu objetivo”, explica o senior associate da Preqin.
Também se observa que, nessa captação de fundos, participam cada vez menos gestoras. É o famoso the winner takes it all que também se valoriza no negócio tradicional de ativos, seja no especializado em gestão ativa ou no de gestão passiva. “No primeiro trimestre, vimos uma tendência de gestoras e fundos a tornarem-se cada vez maiores. Foram levantados quase 300.000 milhões de dólares, mas com o menor número de fundos desde 2018”, explica o especialista. E dá um exemplo: enquanto em 2023 a dimensão média de fundos foi de 500 milhões de dólares, em anos anteriores esse número era de 300 milhões de dólares.