Numa entrevista com a FundsPeople, Amol Gogate destaca alguns países como alternativa à China, e setores como a tecnologia, a indústria transformadora e o consumo que lideram o crescimento.
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No evento anual da Carmignac em Paris, Amol Gogate, gestor do Carmignac Portfolio Asia Discovery, apresentou a sua análise sobre as tendências e oportunidades nos mercados emergentes. O profissional destacou o ressurgimento da Turquia e da Argentina e o protagonismo do Vietname como alternativa à China. Também destacou as cadeias de abastecimento de semicondutores de Taiwan e da Coreia do Sul, sublinhando que estes mercados, embora parcialmente classificados como emergentes, representam uma “evolução tecnológica fundamental para o mundo”.
Para o gestor, os mercados emergentes oferecem uma grande variedade de oportunidades, mas muitas estão “fora do radar”. Setores como a tecnologia, a indústria transformadora e o consumo estão a liderar o crescimento, enquanto a evolução da governança está a criar um ambiente mais favorável para os investidores. “O entusiasmo não é generalizado, o que faz com que esta seja uma grande oportunidade”, sublinha.
China e Índia: contrastes e conexões nos emergentes
Amol Gogate sublinhou que a China representa um caso particular nos mercados emergentes devido à sua estrutura política e económica. “A China é extremamente complexa e a sua informação é muito controlada, o que dificulta a sua análise”, afirmou. Embora as oportunidades neste mercado sejam limitadas em comparação com a sua dimensão económica, as ações que oferecem elevados dividendos podem ser atrativas para os investidores. No entanto, destacou que, ao contrário da China, a Índia oferece um panorama mais acessível e dinâmico.
A Índia, por sua vez, foi apresentada como uma das histórias mais promissoras dentro do universo emergente a médio e longo prazo. Segundo Amol Gogate, o país tem registado um significativo desenvolvimento estrutural sob a liderança de Narendra Modi. “A Índia reparou muitas das suas instituições e está a permitir que as empresas impulsionem o crescimento, o que é fantástico”, afirmou. Além disso, o país beneficia de ser um dos principais destinos da produção deslocalizada, juntamente com o Vietname e o México, o que reforça o seu papel de protagonista nos mercados emergentes.
Apesar das suas diferenças, ambos os mercados desempenham papéis essenciais na narrativa global dos emergentes. Enquanto a China se destaca pelo seu peso económico e desafios de transparência, a Índia emerge como um modelo de crescimento sustentado e reformas estruturais, atraindo investidores que procuram oportunidades claras e acessíveis.
Turquia, Argentina e Vietname: histórias de ressurgimiento e transformação
Mercados anteriormente desafiantes, como a Turquia, a Argentina e o Vietname, estão a emergir como destinos atrativos para os investidores, cada um com caraterísticas únicas que impulsionam a sua evolução.
Na Turquia, a implementação de políticas financeiras ortodoxas após as eleições de 2023 geraram um renovado interesse no país. “Quando um mercado passa de ser não investível a investível, as oportunidades são enormes”, explicou Amol Gogate. Esta mudança reflete um esforço para estabilizar a sua economia e restaurar a confiança dos investidores. De maneira semelhante, a Argentina está a transitar um caminho de reformas económicas que poderão estabilizar o seu contexto financeiro. A escolha de uma liderança mais orientada para políticas de mercado tem sido fundamental para este processo.
Por outro lado, o Vietname posiciona-se como uma alternativa estratégica à deslocalização da produção da China. Amol Gogate descreveu o Vietname como um destino atrativo devido ao seu contexto favorável para o investimento e aos baixos custos. “É um mercado de ações extremamente barato com empresas interessantes, embora seja de difícil acesso”, comentou. Este país, juntamente com a Índia e o México, lidera o processo de captação de indústrias transformadoras, consolidando a sua posição na região.
Embora os seus contextos económicos e políticos sejam diferentes, estes três mercados partilham um elemento comum: o potencial para atrair capital estrangeiro através de melhorias nas políticas e na governança, bem como a sua capacidade para responder às necessidades do contexto global.
Governança e ESG: fatores-chave para o futuro dos emergentes
A melhoria da governança e a implementação de critérios ESG (ambientais, sociais e de governança) foram destacados como elementos cruciais para o desenvolvimento sustentável nos mercados emergentes.
Países como a Coreia do Sul, África do Sul e Arábia Saudita estão a adotar reformas para melhorar a transparência e a eficiência das suas economias. “A melhoria da governança será um grande motor de retorno no futuro”, prevê Amol Gogate. Estas reformas, inspiradas em exemplos de sucesso como a Índia e o Japão, estão a transformar os mercados locais e a atrair novos capitais internacionais.
Relativamente aos critérios ESG, Amol Gogate diferenciou entre o espírito e a burocracia envolvidos. Embora sublinhando a importância das boas práticas, assinalou que “as exigências regulamentares podem ser dispendiosas e injustas para pequenas empresas”. Apesar disso, a Carmignac mantém elevados padrões ESG para este fundo, com 70-80% de alinhamento com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU. Esta postura reflete um equilíbrio entre apoiar o desenvolvimento sustentável e compreender as limitações específicas dos mercados emergentes.
“Se não se pode confiar numa empresa para fazer o que é correto para o ambiente e para a sociedade, provavelmente também não será fiável para os investidores”, explica Amol Gogate. Esta visão destaca a conexão entre as práticas responsáveis e a geração de rendimentos sustentáveis.