Há 13 anos a ser a cara da Fidelity International em Portugal, Ana Carrisso sabe que atualmente há que ser seletivo no conteúdo e nos produtos que apresentam. Dos ativos totais da gestora na Península Ibérica, 7% corresponde a dinheiro nacional.
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A Fidelity International tem Ana Carrisso como responsável pelo contacto com o mercado português desde 2010. Em linha com o que tem acontecido nos últimos cinco anos, a gestora de ativos internacional tem consolidado o seu negócio no nosso país, com quotas de mercado que, segundo conta agora a profissional, se têm mantido “bem acima dos 5,5%”.
Para a diretora associada de Vendas da Fidelity International, o reforço do compromisso com o mercado português tem sido grande e mantém-se, atualmente, mais concretamente a dois níveis: no serviço de qualidade que prestam aos clientes, mas também através da colaboração com determinados organismos e associações nacionais. Os planos de negócio continuam a passar, então, por “estar perto de todos os clientes” e ouvir e entender as suas necessidades, para assim oferecerem “soluções mais personalizadas para cada segmento ou tipo de investidor”.
No contexto atual de mercado, servir o cliente tem requerido alguma mestria por parte das gestoras internacionais. No caso da Fidelity International, a profissional relata que tanto a incerteza atual - devido à inflação persistente, ao ciclo de subida de taxas ou à volatilidade - como os riscos políticos, têm provocado “uma maior fragmentação e antiglobalização, com ritmos e expectativas muito divergentes para diferentes regiões”. Nesse sentido, as propostas que fazem ao nível dos produtos e ativos têm sido, necessariamente, mais abrangentes. Nessa mostra incluem-se, por exemplo, “ETF smart beta com tracking error e custos de gestão muito baixos comparativamente com os fundos de gestão ativa tradicionais”, mas também “fundos de retorno absoluto/market neutral, ou até mesmo o possível lançamento de um ELTIF de private debt para o ano que vem”, revela.
No que se refere ao serviço que prestam, as dificuldades têm sido outras. Ana Carrisso menciona “a capacidade de filtrar o que previsivelmente pode acrescentar valor ao cliente, e encontrar o equilíbrio entre o regime online e o presencial”. Na sua opinião, existe mesmo uma saturação do mercado. “Tenho a impressão de que o mercado português está saturado, e há que ser cirúrgico com os temas a apresentar, e a relevância dos conteúdos deve ser cada vez mais personalizada para continuar a acrescentar valor”, comenta.
Portugal representa 7% dos ativos ibéricos
Em termos de preponderância de mercado, Ana Carriso salienta que Portugal representa já mais de 7% do total de ativos que gerem na Península Ibérica (excluindo ETF), segundo os dados da Broadridge.
A habitual atribuição de um maior conservadorismo ao cliente final português face ao espanhol também é partilhada pela profissional de vendas. Essa caraterística, diz, faz com que a seleção de fundos feita pelos profissionais acabe por recair em produtos mais conservadores. Mas esta não é a única diferença que vê entre mercados. O processo de registo de fundos e classes (para o canal de retalho e aconselhamento financeiro por parte das bancas privadas) é também algo que difere do mercado espanhol, o que requer uma maior carga administrativa.
Por outro lado, a abertura dos selecionadores portugueses face aos espanhóis é maior. Ana Carrisso encontra uma maior abertura e interesse quanto a determinadas categorias de produtos, tais como “os ETF smart beta ou novas alternativas no espaço de dívida privada”.
Como vem sendo hábito quando o tema é comparação entre mercados, o último ponto salientado não surpreende, e também a especialista aponta a desvantajosa “impossibilidade de realizar um switch entre fundos sem penalização fiscal”, como uma diferença entre Portugal e Espanha.
Ativos refúgio na mira dos selecionadores
Mais concretamente, no último ano, Ana Carrisso assistiu a uma maior procura pelos chamados ativos refúgio por parte dos selecionadores nacionais, mas sem surpresas. “Nos últimos 12 meses, por exemplo, as classes de ativos que mais entradas capturaram foram as obrigações governamentais e corporativas de investment grade, sobretudo para o curto prazo, ou seja, um posicionamento na parte curta da curva das taxas de juro”, salienta.
Por outro lado, e do lado das ações, a mudança teve que ver com passagem da preferência por value, em 2022, para uma “procura intensa pela tecnologia, especialmente devido ao entusiasmo dos investidores no desenvolvimento de aplicações de AI, como é o caso do ChatGPT”. Mas estas não são as únicas tendências. “O que constatamos ser cada vez mais importante para os selecionadores é a procura por novos produtos diferenciados, um due dilligence cada vez mais profundo e muito focado na temática de ESG e um serviço de disponibilidade e acesso de dados cada vez mais rápido e eficiente”, conclui a profissional de vendas.
Maior atenção: seguradoras
Embora todos os clientes que dispõem em Portugal sejam cruciais para o negócio que desenvolvem, Ana Carrisso aponta a especial atenção que têm dado ao setor segurador. Devido às alterações normativas recentes que esta área tem atravessado, a profissional entende que estas empresas requerem, agora, soluções diferentes e uma atenção especial. A área de tesouraria de grandes empresas, por seu lado, é um dos segmentos de interesse que ainda não cobrem. “Ainda não conseguimos dar a cobertura desejada em Portugal na área de tesouraria de grandes empresas, seja em colaboração com consultores externos, seja de forma direta”, atesta.
ESG: potencial total do tema ainda vai demorar
A opinião da gestora sobre o tema do ESG não difere muito de outras casas de investimento nacionais ou internacionais. Ana Carrisso acredita que “ainda poderá demorar algum tempo até todo o potencial das diretrizes SFDR se concretizar enquanto motor de mudança para as finanças e os investimentos sustentáveis”. Apesar das diferentes interpretações e alguma falta de clareza sobre o tema, a Fidelity é da opinião de que a “regulamentação está a ajudar a acelerar ainda mais a transição para uma economia mais sustentável e uma sociedade inclusiva”, mas ainda existe muito trabalho pela frente. Na Fidelity International, a verdade é que a procura e o interesse por este tipo de produtos existe, principalmente no que diz respeito à implementação das métricas.