À conversa com a FundsPeople, Ana Harris, da MSCI, e André Themudo, da BlackRock, enfatizam o crescimento do investimento em ETF e a responsabilidade na construção de índices, influenciada pelo papel da IA e dos riscos geopolíticos.
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Um compromisso pautado pela comunicação e dedicação. É isto que podemos inferir das palavras de Ana Harris, responsável de Global Market Capitalization-Weighted Indexes, da MSCI e André Themudo, responsável de Negócio da BlackRock em Portugal, sobre a parceria entre a BlackRock e a MSCI, numa conversa recente com a FundsPeople. “Na MSCI, nós temos uma equipa de vendas dedicada especialmente à BlackRock, tanto na Europa como nos Estados Unidos”, conta Ana Harris. Uma parceria que André Themudo não tem dúvidas de que confere “credibilidade” à entidade gestora e, como tal, também a usam como “argumento de vendas”.
A arte de criar um índice
Consciente da responsabilidade que a construção de um índice representa, a profissional da MSCI refere que a disciplina, o acompanhamento de perto dos mercados e o escutar parceiros importantes, são fatores-chave para o sucesso. “Apesar de não trabalharmos diretamente com investidores individuais, sabemos perfeitamente como os clientes utilizam os nossos índices e a responsabilidade que isso implica. Se, por exemplo, a MSCI mudar a classificação de um país de emergente para desenvolvido, o mercado vai reagir”, refere. Ana Harris menciona ainda as mudanças na frequência de reconstituição “mais profunda” dos índices da MSCI, “que agora ocorre trimestralmente e não semestralmente como era hábito, para melhor refletir as dinâmicas do mercado”.
Um dos fatores de influência na construção dos índices é, por exemplo, a geopolítica e os riscos a ela associada, nomeadamente as tensões no Médio Oriente ou em certos países emergentes, como de resto temos vindo a observar. Ana Harris destaca o impacto que essas dinâmicas têm nos mercados emergentes, com particular foco no MSCI Emerging Markets, “um dos principais indicadores da saúde dos mercados emergentes”, como descreve. “Os investidores olham cada vez mais para estes países de uma forma heterogénea, ou seja, caso a caso. E há uma tendência que temos observado que é a separação da China de outros países emergentes”, refere. Neste contexto, a tendência de nearshoring e friendshoring, (transferência de operações de produção e fornecimento para países geograficamente próximos ao mercado final ou aliados) impulsionada pela interrupção das cadeias de abastecimento durante a pandemia da COVID-19, estará, na opinião da profissional, também a conduzir a uma reorganização económica, criando novas oportunidades para alguns países enquanto outros perdem relevância.
Também o papel crucial da inteligência artificial (IA) e do universo de Big Data na gestão de índices e ETF é destacado pela profissional. Explica que, embora a quantidade de dados disponíveis seja vasta, o verdadeiro desafio está em combinar esses dados de forma eficiente. A MSCI utiliza IA, “especialmente através de técnicas de Natural Language Processing, para garantir que os dados sejam devidamente analisados, harmonizados e validados, garantindo a sua qualidade”. Além disso, para ajudar investidores a identificar padrões, entender riscos e encontrar oportunidades de investimento, a entidade disponibiliza uma ferramenta, baseada em inteligência artificial, chamada Portfolio Insights.
A ETFização do mercado
Ainda que os fundos tradicionais representem a maior fatia do bolo, principalmente na Europa, segundo dados da Morningstar, a quota de mercado dos ETF mais do que duplicou na última década, passando de 14 para cerca de 32%. Uma trajetória que não surpreende a profissional da MSCI que explica que “os investidores estão mais confortáveis com a natureza dos ETF e com a transparência que estes proporcionam, não apenas em relação à intenção da estratégia de investimento, mas também em termos de acesso diário às empresas que compõem esses fundos”.
Também por isso a gestão ativa destes produtos se tornou uma realidade. Ana Harris relata que as entidades gestoras que tradicionalmente ofereciam só fundos tradicionais estão também a apostar nos ETF, porque sabem que há muita procura e o acesso aos clientes e investidores é mais direto e mais fácil, comparativamente com universo de fundos tradicionais. Nesse sentido, a profissional da MSCI conta que a colaboração com vários parceiros se estende já ao nível da gestão ativa desses produtos.
Sobre esta matéria, André Themudo é claro ao afirmar que “os ETF sempre foram e serão um dos principais motores da BlackRock”. Só em Portugal, 80% do dinheiro gerido pela entidade está em ETF, confirma. Na sua opinião, a motivação para investir neste tipo de produtos é hoje muito diferente de há 10 anos, quando eram uma novidade. “Grandes instituições financeiras, fundos de pensões ou seguradoras, começaram a perceber que a alocação de ativos é mais relevante para o alfa do que a seleção de ações. Isto está provado em várias teses de investimento”, refere.
Esta "ETFização do mercado”, como lhe chama, continuará, na sua perspetiva, a crescer consideravelmente e recorre a uma metáfora, bastante ilustrativa, para o explicar. “Imaginemos uma ampulheta com uma parte que é o alfa e outra o beta, onde se incluem os ETF. Tudo vai convergir para um lado ou para o outro. Para o alfa vão convergir apenas e só aqueles fundos por que realmente vale a pena pagar. Tudo o que está no meio, os fundos medíocres ou maus, tendem a desaparecer”. Assim, os ETF continuarão não só a crescer, mas a superar os produtos de gestão ativa, “que enfrentam pressão tanto em custos como em desempenho”. A classe obrigacionista, por exemplo, é um campo onde o profissional vê enorme potencial para desenvolvimento destes produtos.