Andreas Frushcki (Allianz GI): “Não sou um entusiasta de um tema em específico. Dou muito mais atenção à metodologia”

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O know-how da Allianz Global Investors em investimento temático não é novo. São já cerca de quinze anos a desenvolver estratégias que capitalizam as grandes tendências da humanidade para as próximas décadas, o que permite a Andreas Frushcki, CFA, portfolio manager dos fundos Allianz Global Water e Allianz Thematica, saber o que determina o sucesso deste tipo de estratégias. No seu escritório em Frankfurt, o profissional foi rapidamente ao cerne da questão:  “Este tipo de fundos tem corrido bem porque são abordagens de investimento que as pessoas entendem facilmente”, introduziu. Uma ideia que contrasta com os fundos de ações ‘plain vanilla’, nos quais por vezes é “difícil, quando se lê as notícias, perceber se estas terão ou não algum impacto na carteira”.

Mas nem tudo são boas ideias e, mais do que isso, “o que soa como uma boa ideia nem sempre é um bom investimento”. É com esta premissa em mente que Andreas Frushcki sublinha que um fundo temático deve sempre ser construído com base numa “ideia em crescimento estrutural”. Na panóplia de fundos temáticos, a casa alemã debruça-se já sobre a água, inteligência artificial ou o mercado de produtos e serviços relacionados com animais de estimação, com produtos especialmente dedicados a cada uma das temáticas. “Um bom fundo temático deve sempre tratar de assuntos atuais. Não queremos um fundo que se debruce sobre um tema obsoleto. Por isso estamos sempre a questionarmo-nos: “Este tema ainda é válido? Está a capturar a essência do caso de investimento, ou as emoções?”, explica.

O todo-o-terreno Allianz Thematica

O Allianz Thematica pode dizer-se que é o fundo todo-o-terreno da casa no campo do investimento temático. “Trata-se de um fundo gerido por uma equipa multiselecção que investe em cinco ou sete temas, escolhidos a partir de quatro megatendências que tentamos identificar. Essas megatendências, ou mega drivers, são a tecnologia/inovação, a escassez de recursos, a urbanização e as mudanças socio-económicas ou demográficas. O que não fazemos é escolher todos os temas de apenas de uma megatendência. Tem de haver uma fotografia geral balanceada. Este é o primeiro set-up para assegurarmos que temos uma carteira bem feita”, explica. 

Dado este primeiro passo, a equipa concentra-se em escolher as ações dentro de cada tema que têm maior pureza temática no modelo de negócio, o que para o portfolio manager acabam por ser as “ações que realmente se movem em correlação com o tema”. O tema, como já referido, tem de resultar de uma mudança estruturalmente crescente, “que pode ser o resultado da evolução tecnológica ou  inovação, ou então de tendências socioeconómicas”.

Para um verdadeiro tick the box, Andreas Frushcki explica que o tema deverá estar numa fase de entrada no mass market, mais do que ser apenas comentado. Os investidores têm de estar efetivamente a investir nele. De forma a chegarem a essa perceção, o profissional fala de encontros com os CFOs das empresas, aos quais dirigem as seguintes perguntas: “em que é que vão investir no próximo ano?; Como é que o vosso orçamento em cibersegurança está definido para 2020 face a 2019, por exemplo?”. “Isto permite-nos perceber em quais dos grandes temas estão os investimentos realmente a acontecer. Escolhemos aqueles em que o orçamento corporativo está verdadeiramente a ser alocado, porque essa é a melhor garantia de que se traduzirá em encomendas às empresas relacionadas com o tema, e de que o momentum e o entusiasmo daquela história dá suporte ao investment case”, elucida.

A benevolência para um tema que não funciona, dentro da carteira, dura seis meses. “Se nesse tempo o tema não mostra performance, colocamo-lo numa lista vermelha, revemo-lo e, provavelmente, acabamos por excluí-lo e trocá-lo por outro que faça sentido”, diz o porfolio manager, falando de um processo em andamento, “muito ativo, e com muita gente por trás”.

Quão pura?

Como já referido, a pureza do negócio da empresa relativamente ao tema tem de ser bem determinada antes da sua entrada em carteira. Para Andreas Frushcki essa pureza “depende do ponto no tempo em que a ação começa a reagir ao fluxo de notícias referentes ao tema”. Exemplifica: “Quando se está perante uma empresa em que quase 50% do negócio vem da indústria de petróleo e gás, e mais de 50% da indústria de bombas hidráulicas, podemos inferir que se trata de uma empresa do ramo da escassez de água, pois mais de metade do seu negócio vem das bombas de água. Mas, provavelmente, se quase metade das receitas provêm do petróleo e do gás, a ação vai negociar consoante aquilo que esse sector está a fazer. Neste caso, então, eu não investiria nessa empresa, mesmo que a esmagadora maioria das suas receitas proviesse da extração hidráulica. Em resumo, o que quereremos são ações que estão correlacionadas com o tema”, ratifica.

Tipicamente, dentro deste fundo um tema tem uma janela de oportunidade de cerca de cinco anos. “Com estes cinco a sete temas no fundo, provavelmente substituímos um tema, ou em última análise dois, a cada ano”, diz. Com mais frequência são mudadas as ações dentro de cada tema. “Olhamos para as que são mais “puras” dentro de cada um, com um bom retorno potencial e liquidez suficiente para investir. Revemos as ações uma vez por trimestre”, acrescenta.

O contacto que Andreas Frushcki tem com todos estas abordagens a megatendências não lhe faz ter qualquer deslumbramento. Bem pelo contrário. “Não sou propriamente um entusiasta dos temas em si. Dou muito mais atenção à metodologia, porque muitas das vezes os temas sobre os quais somos mais entusiastas, ou não são “investíveis” ou são demasiado caros. Contudo, aponta pelo menos dois que por esta altura chamam mais à sua atenção:

  • Água e desperdício – “acreditamos que os investimentos em infraestruturas ligadas à água vão subir nos próximos tempos. Se existir um ciclo de reeleição nos EUA haverá provavelmente dos dois lados políticos uma proposta de um pacote de infraestruturas. Atualmente, os EUA gastam cerca de 0,5% a 0,7% do seu orçamento a mudar as infraestruturas de água, o que significa que esse processo irá demorar pelo menos 100 anos a ser feito. Neste momento há muitas empresas de redes de água que estão a começar a ser privatizadas, ou seja é uma grande oportunidade para se investir”.
  • Impacto das mudanças regulatórias na China – “A China está a fechar a porta a ativos poluidores, retirando o excesso de capacidade no mercado. Isto significa que em certas partes da cadeia de fornecimento, como a mineração ou o gás natural – onde a China tem vindo a produzir em demasia  - o excesso de empresas está agora ser removido do mercado, o que significa que o lucro de certas indústrias irá subir outra vez. Desta forma não estamos a investir em empresas chinesas, mas sim nos concorrentes da China que poderão fazer dinheiro nos próximos anos”.