De acordo com o gestor, a combinação de um crescimento robusto, pleno emprego e um défice elevado deverá manter a inflação em níveis elevados. Assim, não prevê nenhum corte de taxas nos EUA durante o ano.
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A inflação manter-se-á persistente nos EUA e a Fed poderá não ter margem suficiente para reduzir as taxas. Perante este cenário de incerteza, uma estratégia eficaz no mercado obrigacionista consiste em concentrar-se em títulos de curto prazo. O risco de crédito deve ser assumido com prudência e a exposição aos títulos titularizados dos EUA deve ser aumentada. Estes são, em suma, os pontos-chave do cenário macroeconómico apresentado por Andrew Norelli, gestor do JPMorgan Funds Income Fund.
Desde a eleição de Donald Trump, os analistas têm-se interrogado sobre os possíveis efeitos inflacionistas nos Estados Unidos decorrentes da agenda do novo presidente. Trump prevê a imposição de tarifas, a redução dos impostos sobre as empresas e um maior controlo sobre a imigração. Andrew Norelli, no entanto, tem uma visão mais decidida sobre a inflação nos EUA. O profissional acredita que esta permanecerá elevada e persistente, uma dinâmica que provavelmente teria se manifestado mesmo sem a vitória de Trump.
Desde junho de 2024, quando a inflação atingiu um mínimo nos Estados Unidos, o IPC voltou a acelerar. "De acordo com a nossa análise, esta tendência já era evidente e foi confirmada pelo relatório de janeiro. Este relatório assinalou um aumento acentuado da inflação em todas as suas componentes. No entanto, esta recuperação dos preços não se reflete no PCE, a métrica preferida da Fed. O IPC assinala claramente uma aceleração inflacionista”, explica o especialista numa entrevista à FundsPeople.
Porque é que a inflação nos EUA continuará a ser persistente
Andrew Norelli, licenciado em economia pela Universidade de Princeton, explica a persistência da inflação nos EUA recorrendo à teoria económica de base e à Teoria Monetária Moderna (MMT). “A economia tradicional ensina que, num contexto de pleno emprego, se o crescimento exceder a taxa de crescimento potencial, segue-se a inflação. Nos últimos três trimestres, a economia dos EUA cresceu acima deste nível. Os dados do IPC de janeiro confirmam a tendência inflacionista”, afirma. “A Teoria Monetária Moderna, por outro lado, defende que os défices públicos podem permanecer sem limites até que a inflação se instale. Atualmente, estas condições verificam-se: o défice é igual a 7% do PIB e a inflação é evidente. Por conseguinte, tanto a teoria económica tradicional como a MMT indicam que a inflação deverá manter-se nos Estados Unidos”, afirma o profissional.
A Fed não reduzirá as taxas em 2025
“O crescimento nos EUA continua a ser muito forte. No primeiro trimestre de 2025, poderá ser ligeiramente mais fraco, mas continua a ser superior ao potencial, pelo que a inflação deverá manter-se elevada. Quanto ao défice, Trump e Scott Bessent, o Secretário do Tesouro, manifestaram a intenção de o reduzir. Este seria um fator de desinflação, mas, na prática, é muito difícil de concretizar”, continua. “Em suma, um crescimento económico robusto, o pleno emprego e um défice elevado devem manter a inflação elevada. Consequentemente, a Fed não deverá reduzir mais as taxas em 2025”, afirma.
Atualmente, os mercados descontam entre um e dois cortes em 2025. No entanto, de acordo com o especialista da J.P. Morgan AM, estes cortes devem ser retirados dos preços de mercado. “Para manter a inflação sob controlo, as condições financeiras têm de voltar a ser mais rígidas. Se isso acontecer, a Fed poderá não ter de aumentar mais as taxas. As condições financeiras fariam o trabalho por ela. Pelo contrário, se a Fed continuar a orientar o mercado para novas reduções, será forçada a aumentar as taxas no futuro. Isto deve-se ao facto de as condições financeiras demasiado flexíveis alimentarem a pressão inflacionista”, argumenta.
As tarifas e o dólar
Embora muitos observadores considerem as tarifas como um fator inflacionista fundamental, na análise de Andrew Norelli a questão das tarifas não é central. De acordo com o especialista, é essencial incluir a força do dólar na equação. Esta atenua o impacto das tarifas para os consumidores americanos, graças à taxa de câmbio favorável do dólar.
“Embora as elevadas tarifas possam agravar a inflação, até agora o seu impacto parece limitado. Um elemento-chave é a força do dólar, que se fortaleceu em 8% desde a eleição de Trump. Se as tarifas aplicadas fossem da mesma ordem de grandeza, os exportadores estrangeiros poderiam absorver os seus custos através da taxa de câmbio. Isto evitaria um aumento dos preços para os consumidores finais dos EUA. Para o governo dos EUA, as tarifas tornar-se-iam um instrumento para gerar receitas sem sobrecarregar a população".
"Por esta razão, Trump e Bessent veem atualmente o dólar forte como uma vantagem. Isto porque lhes permite impor tarifas sem afetar diretamente os consumidores. Por conseguinte, é provável que continuem a favorecer o seu reforço”, sublinha o especialista.
Obrigações, onde está o valor?
Quanto às oportunidades em obrigações, o JPMorgan Funds Income Fund centra-se essencialmente no crédito americano. A inflação melhora a solvência de dívida dos balanços e dos lucros das empresas. A conjuntura atual é, portanto, favorável aos fundamentais de crédito. De acordo com o especialista, este deve ser privilegiado em relação à componente soberana. A principal abordagem, segundo Andrew Norelli, é evitar a exposição à duração, que num ambiente inflacionista pode representar um risco.
Simultaneamente, a estratégia do gestor consiste em maximizar o carry do crédito, otimizando o rendimento em relação ao risco assumido. Para o gestor, uma classe de ativos com elevado potencial nesta fase do mercado é representada pelos produtos titularizados (securitized products). Estes oferecem yields mais elevadas do que as obrigações tradicionais das empresas. “Atualmente, as obrigações corporativas investment grade, as high yield e as obrigações de mercados emergentes têm spreads de crédito em mínimos históricos. Por conseguinte, são menos vantajosas”, defende.
“Em contrapartida, o crédito titularizado oferece spreads muito mais amplos em todo o espetro da qualidade do crédito. Isto torna o crédito titularizado uma opção mais atrativa”, afirma. Por estas razões, cerca de 70% da carteira do JPMorgan Income Fund é investida em títulos titularizados dos EUA. Segundo o gestor, estes proporcionam uma yield mais elevada para o mesmo nível de risco. Para além disso, como explicou, a preferência é por instrumentos de baixa duração. “Quando a inflação norte-americana atingiu um mínimo no verão de 2024, esperávamos que recuperasse. Por conseguinte, a carteira foi reorientada para obrigações capazes de beneficiar de um cenário inflacionista”, conclui o gestor.