Argumentos a favor do investimento em dívida subordinada financeira

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jwellsrobinsonpc, Flickr, Creative Commons

As vendas de obrigações nas semanas posteriores às eleições nos EUA – que também incluíram o referendo constitucional de Itália e as últimas reuniões do ano do BCE e da Fed – têm provocado a inclinação generalizada das curvas da dívida soberana americana e das curvas de referência europeias. Esta inclinação tem uma interpretação unânime para os agentes de mercado: é lucrativa para a banca, especialmente para a Europa, depois de atravessar um duro ano marcado pelas taxas negativas, o peso da regulação e as dúvidas sobre a solvência de banca italiana e alguns bancos alemães.

Como observa Richard Casey, gestor senior de crédito da Pioneer Investments, “o momento recente tem sido mais positivo para os títulos financeiros que nos últimos meses e vemos que continua, pelo que em termos gerais as obrigações financeiras estão a bater em rentabilidade o resto das obrigações corporativas”.

Desde o segundo trimestre deste ano, tendo por base a nossa análise, estas obrigações têm apresentado mais atratividade em termos de yield to maturity”, indica. O especialista detectou melhorias tanto no plano fundamental como no técnico: “Taxas mais altas e curvas mais inclinadas são boas para os bancos e para as seguradoras. Também acreditamos que pode haver uma mudança de postura por parte dos reguladores e da Comissão Europeia. Querem que os bancos funcionem, pelo que não podem ser mais duros com eles”.

A isto deve-se acrescentar que a dívida subordinada está excluída do universo de obrigações elegíveis pelo BCE: “As obrigações corporativas não financeiras tornaram-se muito caras por culpa do CSPP. Temos visto desde julho que algumas das obrigações do universo do CSPP começaram a comportar-se pior do que a média do mercado porque as valorizações se tornaram muito caras”, explica Casey.

“A dívida financeira oferece um perfil atrativo de risco/retorno num contexto incerto de taxas de juro. Os bancos e as seguradoras têm demonstrado a sua capacidade para evoluir neste contexto pouco normal e os fundamentais estabilizaram-se durante o segundo e terceiro trimestre de 2016, embora num nível de rentabilidade baixo”, observa Julien de Saussure, gestor da Edmond de Rothschild Asset Management.       

No caso da subida das taxas de juro – algo que não preveem no futuro próximo na zona euro – o gestor afirma que “a dívida subordinada financeira oferece um perfil atrativo de spread/duração em comparação com outros segmentos de obrigações, enquanto que uma curva/taxa de juro mais pronunciados impulsionarião claramente os lucros”.

Na sua opinião, “a dívida subordinada financeira oferece um carry atrativo e não pode ser simplesmente olhada por alto”. O especialista acredita que os títulos financeiros podem ter um bom rendimento em 2017, “em particular centrando-se nas entidades core e em estruturas subordinadas destes emissores core”.

Ameaças ao sector financeiro

“O sector financeiro encontra-se atualmente cercado por duas forças opostas: o pragmatismo regulatório, por um lado, e por outro lado, a volatilidade que se espera que surja na raiz dos eventos políticos”, afirma o gestor da Edmond de Rothschild. Este assegura que “a pressão regulatória não vai diminuir no futuro próximo devido aos longos prazos de implementação da maioria dos requisitos adicionais, o que é positivo para os detentores da dívida, em detrimento de quem possui ações”.

No entanto, acrescenta, “o draft recentemente publicado sobre os requisitos de capital (CRR, CRD) e do regime de resolução (BRRD, SRMD) na UE supõe passos positivos para os detentores de obrigações júnior”. Isto explica-se por dois motivos. A preferência do cupão sobre o dividendo e os bónus em alguns casos, e pelos ajustes para os bancos do Pilar 2 que se divide em dois segmentos: um requisito obrigatório e outro orientativo, que faz com que o risco de suspensão do cupão seja muito remoto. “A próxima ronda de negociações de Basileia, que se espera que se complete no final do primeiro semestre de 2017, seguramente estabelecerá uma pedra angular”, explica o gestor. A sua expetativa é que “se suavizem alguns dos requerimentos mais punitivos” e, independentemente do resultado final, “que o prémio pela incerteza regulatória afecte tanto as ações como o crédito, fazendo com que se travem consideravelmente”.

Saussure dedica finalmente  palavras ao aumento do risco político, visto que no ano que vem se celebrarão eleições em França, Alemanha e Holanda. “Consideramos que o referendo do Brexit e as eleições nos EUA têm demonstrado que os mercados tendem a subestimar a natureza binária de alguns eventos, enquanto que os efeitos a longo prazo apenas se materializarão com o passar do tempo”.