A visão dos investidores face à evolução que pode ter o crescimento na Europa, e a sua recuperação nos mercados de valores, ganhou otimismo à medida que este ano foi avançando. Há apenas um mês já comentávamos neste artigo que a Europa começa a pedir mais espaço nas carteiras e, a julgar pelos resultados do último inquérito publicado pelo BoFa Securities, esse espaço está a começar a ser preenchido.
Segundo a mesma, a percentagem de gestores que sobrepondera ações da zona euro nas suas carteiras cresceu no último mês seis pontos até alcançar 41%, o que é o número mais alto desde janeiro de 2018. Por detrás deste aumento da preferência pela Europa há várias causas, tal como explica Peter van der Welle, estratega da equipa Global Macro da Robeco.
Vacinas e impacto na economia
A primeira delas é o ritmo de vacinação que se está a alcançar na Europa e, sobretudo, o efeito que pode ter na economia quanto ao aumento da mobilidade entre as regiões europeias. “As taxas de vacinação continuam a ser inferiores às dos EUA e do Reino Unido, mas a lacuna reduz-se e o ritmo aumenta: cerca de metade da população alemã recebeu pelo menos uma injeção, enquanto em França e nos Países Baixos a percentagem ronda os 40%”, afirma.
Aforro convertido em consumo
A segunda causa que especialista refere é o previsível impacto de que a elevada taxa de poupança que se acumulou nos tempos da COVID-19 acabe por se transformar num aumento do consumo, com o seu correspondente impacto na economia. “As taxas de poupança estão atualmente elevadas, o que vai dar um forte incentivo para que esse dinheiro seja gasto no segundo semestre, quando o sucesso das campanhas de vacinação abrir ainda mais as economias”, afirma. Em concreto, a Euler Hermes e a Allianz produziram um relatório intitulado European Households: the double dividend of excess savings, no qual balizam em 1,5% o impacto no PIB que pode ter na Europa só esse excesso de aforro se se transformar em consumo.
Estímulos fiscais sine die
Nesse crescimento também vai desempenhar um papel importante a injeção que representa para as economias os estímulos fiscais aprovados pelos governos além das políticas acomodatícias. E enquanto os EUA já começam a falar da retirada de estímulos, na Europa esta possibilidade ainda não está contemplada e, daí, segundo van der Welle, a mudança para a esquerda que se vê no velho continente contribui. “Em comparação com o que aconteceu depois da crise da zona do euro de 2011, este ano será difícil para os falcões fiscais defenderem medidas de austeridade, dado o rumo esquerdista e populista que a política tomou”, comenta.
O caminho das valorizações
Em conjunto com os critérios mais sociais e económicos, outros especialistas sublinham também as valorizações que oferece as ações europeias apesar do rally visto no último ano, sobretudo, em comparação com o mercado americano. “Ainda que o mercado americano esteja caro, as valorizações na Europa dispararam, sobretudo, se observarmos o prémio de risco (rentabilidade dos ganhos menos a rentabilidade dos bunds alemães). Por último, as ações historicamente foram uma boa defesa contra a inflação, o que as torna atrativas no contexto atual”, afirma Gilles Seurat, gestor de multiativos da La Française AM.
Além disso, é previsível que a abertura internacional das economias tenhas um maior impacto nas empresas europeias que em outras devido à sensibilidade que tem a Europa face ao comércio mundial. “Algo que costuma acontecer por alto é o facto de que as empresas europeias são mais diversificadas internacionalmente de todas as regiões do mundo”, afirma Peter Abbott, gestores de ações europeias da BNP Paribas AM. E refere: “Se nos fixarmos onde geram a maior parte das suas vendas e dos seus ganhos, vemos que as empresas europeias são as que estão mais expostas ao crescimento mundial, e mais concretamente ao crescimento dos Estados Unidos, China e países emergentes. Estão especialmente bem posicionadas perante uma vasta recuperação da economia”.