Dos 10 ativos com maior peso no índice, apenas 3 que dominavam a indústria em 2000 continuam no top 10. A maior mudança foi a ascensão da Apple, que na altura apenas tinha uma capitalização de 22.000 milhões de dólares.
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Em 2009 iniciou-se um dos ciclos ‘bull’ mais fortes e duradouros desde que a bolsa é conhecida como tal. Seis anos depois, uma das consequências deste domínio do “Bull Market” foi a superação da barreira psicológica dos 5.000 pontos no Nasdaq. Desta forma, o índice tecnológico regressou a um terreno que não pisava há 15 anos, em coincidência com o auge das .com. Da BlackRock, Heidi Richardson defende, no entanto, que desta vez o contexto é diferente, e que os investidores não têm de temer o que sucedeu em 2000 depois do Nasdaq ter tocado os 5.000 pontos (perdeu metade do seu valor desde o máximo até final do ano). “Embora alguns sectores possam parecer sobrevalorizados, acreditamos que há outros que têm margem para crescer”, indica.
Richardson recorda que, no ano 2000, estavam na ordem do dia as identidades falsas na internet (sock puppet) e as empresas esgotavam rapidamente o seu capital disponível para financiar-se para o futuro sem saberem à partida se eram capazes de gerar fluxos de caixa. “Parecia que a única coisa que uma empresa precisava de fazer para atrair investidores era adicionar um ‘e-‘ o inicio do nome e um ‘.com’ no final”, recorda. A especialista assinala que hoje em dia a capacidade das empresas tecnológicas para gerar lucro é muito importante. ”Num mundo de crescimento lento, geralmente os investidores dão prioridade às indústrias e empresas que têm potencial para gerar lucros sólidos, não as elegendo apenas porque estão na moda”, sublinha. Para a representante da BlackRock, um bom exemplo são as empresas tecnológicas maduras (como, por exemplo, a Microsoft), já que podem beneficiar da mudança de ciclo e espera-se que incrementem o seu capex (despesas de capital ou investimento em bens de capital).
Encontre as cinco diferenças
Não é a única diferença entre o mercado tecnológico de 2000 e aquele que se vive atualmente. De facto, Richardson destaca cinco diferenças entre a estrutura do Nasdaq na “bolha das .com” e o Nasdaq atual, apesar do índice estar a cotar a níveis similares. A primeira têm a ver com os sectores representados: enquanto que em 2000 as tecnológicas representavam 65% do índice e as Telecom 12%, atualmente as primeiras têm um peso de 43% enquanto as empresas ligadas ao sector das telecomunicações representam menos de 1%, tendo entrado também novos sectores no índice, tornando-o mais diversificado.
A segunda diferença compara os valores com maior ponderação: Apenas podemos encontrar 3 empresas, no top 10, que se encontravam nesse "estatuto" em 2000 e agora em 2015. A maior mudança acontece na Apple, que em 2000 tinha apenas uma capitalização bolsista de 22.000 milhões de dólares.
Top 10 de Nasdaq 100 a 31/12/1999 | Top 10 do Nasdaq 100 a 25/02/2015 |
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Microsoft | Apple |
Cisco | Microsoft |
Qualcomm | |
Intel | Amazon |
WorldCom | |
Oracle | Intel |
Dell | GileadSciences |
Sun Microsystems | Cisco |
Yahoo | Comcast |
JDS Uniphase | Amgen |
Fonte: BlackRock
Em terceiro lugar, a entrada em cena de novos negócios que têm por base a internet, como é o caso das redes sociais, onde se destaca a entrada da Facebook, que registou a maior OPV tecnológica desde a entrada da Google.
Richardson destaca, em quarto lugar, que o “forte crescimento dos lucros ajuda a manter as valorizações atrativas”. Enquanto que há 15 anos muitas .com apresentavam modelos de negócio difusos, em que era difícil compreender como iriam gerar lucros, agora abundam as empresas com balanços sólidos, com potencial de crescimento e com níveis de caixa record, nalguns casos. O caso seguinte evidencia isso na perfeição: o PER médio do Nasdaq no ano 2000 era superior a 200x e estava inflacionado pela expansão dos múltiplos. Agora, o PER médio atual ronda as 23x.
A última razão evidenciada pela especialista tem a ver com factores técnicos: se na mudança de século o índice subiu 95% entre outubro de 1999 e o máximo de março de 2000, agora a subida foi menos forte, mas mais firme e continuada: o Nasdaq avançou 21% entre outubro de 2014 e março de 2015.
“A última contagem dos 5.000 pontos no Nadaq está a receber muita atenção e com direito próprio. Mas hoje em dia a qualidade das tecnológicas maduras parece ser mais sólida do que era no ano 2000. Aprendemos da maneira mais difícil que os lucros importam”, conclui a representante da BlackRock.