As duas histórias dos equity long-short da Jupiter

Magnus_Spence Jupiter AM
Cedida

Duas histórias muito diferentes são contadas à Funds People por Magnus Spence, Head of Investment Alternatives na Jupiter AM, quando fala do universo de equity long-short da entidade gestora britânica. Duas histórias de dois fundos geridos por dois profissionais com extensa experiência e uma significativa especialização. Por um lado, o Jupiter Europa fund, focado, como o próprio nome indica, na Europa e, pelo outro, o Jupiter Global Absolute Return fund, na sua versão UCITS desde junho do ano passado, com um enfoque global.

“Uma forma de obter alguma participação na subida dos mercados, mas também alguma proteção”

É a história que Magnus Spence conta do fundo long-short europeu Jupiter Europa. Com uma correlação positiva de 0,32, é um fundo que encaixa muito bem numa carteira de investimento se a convicção do investidor for de que os mercados ainda têm margem para subir. Com uma exposição líquida de entre 30% e 40%, Mike Buhl-Nielsen traz para esta estratégia um conjunto de skills acumuladas em resultado de muitos anos como trader de opções e outros tantos como stock picker. “O gestor faz duas coisas muito bem. Por um lado produz muito alpha do lado longo do portefólio. Por outro, utiliza opções sobre o índice para proteger os investidores dos ‘tail risks’ do mercado. Quando os mercados de ações caem, a exposição líquida rapidamente se reduz”, explica o responsável de estratégias alternativas líquidas da Jupiter AM. 

“Se apenas pode investir num fundo, não invista neste, porque os mercados tendem a subir e não a descer!”

Fora de contexto até poderia parecer que o profissional da boutique de investimentos britânica não estaria a argumentar a favor do Jupiter GARF, mas a verdade é que, a seu ver, o potencial de uma estratégia como esta, com características de risco, retorno e correlação pouco comuns, é uma peça fundamental na construção de uma carteira diversificada com exposição a ações. Nomeadamente, Magnus Spence argumenta que “a injeção num portefólio deste perfil de risco/retorno e correlação negativa reduz significativamente o risco global do portefólio e melhora o seu perfil”. E, de facto, esta estratégia, gerida por James Clunie, destaca-se das demais pelo seu coeficiente de correlação de -0,35, resultado do expertise de um profissional que, tendo passado grande parte da sua vida a gerir fundos long only, acabou por regressar à vida académica para fazer um PhD em posições curtas em ações individuais.

“Na sua tese, James realça o facto de que grande parte do mundo quer ver os mercados de ações a subir. A gestão das empresas quer, os fundos de pensões querem, os investidores, corretores ... pelo que, se um investidor quer assumir posições curtas tem que saber algo que o resto do mercado não sabe. Ter a convicção para realizar uma aposta de investimento que vai contra o que o resto do mercado está a fazer é muito difícil”, introduz o responsável. Com esta noção do mercado, o gestor do fundo tentou então identificar os sinais indicativos de que posições curtas se estariam a formar, “porque shortar sozinho nunca terá grande influência, mas se outros investidores se moverem no mesmo sentido, aumenta a probabilidade do título cair”, explica Magnus Spence.

Foi então que na sua vida de académico Clunie identificou uma base de dados de uma empresa chamada Markit onde estava patente a evolução histórica do custo do empréstimo de ações para a tomada de posições curtas. “Cada ação tem o seu custo de shorting e, como em qualquer mercado, quanto mais gente estiver a shortar a ação, maior será o seu custo”, explica Magnus Spence. Como resultado de um longo processo de análise e de ‘backtesting’ destes dados, o gestor percebeu que se verificava um padrão na relação entre o custo de shortar uma ação e o período que demoraria a ação a corrigir.

E é com base nesta lógica de “saber mais que o resto do mercado” que Clunie tem vindo a gerir um fundo com características muito peculiares. O fundo tem uma tendência para estar longo em ações desprezadas pelo mercado. Os bancos no Reino Unido são para ele uma boa fonte de valor, bem como empresas energéticas russas, por exemplo. No geral, o fundo está longo no Reino Unido, Japão e Rússia e apenas está curto nos Estados Unidos. “O James está curto onde menos se esperaria que estivesse. Está curto em Netflix, Tesla, Caterpillar, McDonalds, Campbell Soup... Algumas destas empresas são boas empresas, não vão falir de modo algum, mas grande parte dos investidores tem estado a movimentar o dinheiro para estas boas empresas por uma questão de segurança, pelo que as valuations estão para lá de esticadas. Por outro lado, um empresa como a Tesla está a queimar dinheiro, e a este preço parece que o mercado assume que a empresa vai produzir todos os carros do planeta num futuro próximo. Sabemos que a BMW não vai deixar isso acontecer! A Netflix é outro caso flagrante. O mercado foca-se apenas no volume de subscrições, que cresce rapidamente, mas a rentabilidade do negócio deixa muito a desejar”, explica Magnus Spence.

Não é que sejamos contrarian, mas focando no valor ao invés do sentimento ou glamour temos conseguido uma boa performance”, relata. “Por exemplo, em 2016, proporcionámos 10% de retorno, mas apenas fizemos dinheiro em dois períodos: em janeiro, quando os mercados caíram 15%, e no mês do Brexit, em que os mercados caíram 3%”. No ano de 2017 o fundo mostra um retorno marginalmente positivo, mas coerente com os objectivos a que se propõe. “Neste ano o fundo não está a operar no seu contexto natural de mercado. Complacência, baixa volatilidade  e um ambiente perfeitamente benigno num mercado que gradualmente tem subido não é o terreno ideal para esta estratégia, segundo Magnus Spence. “Mas não há problema. Nós esperamos que os investidores no fundo tenham já uma grande exposição aos mercados de ações, mas quando estes corrigirem, é bom que tenham acesso a um pouco de alpha, para abrandar essa correção. Portanto, se já tem ações em carteira, ou mesmo outras estratégias correlacionadas, não se podem dar ao luxo de não investir nesta estratégia pelas suas características muito únicas”, explica. “É excelente para melhorar o perfil de risco e retorno de uma carteira diversificada”, conclui.