As forças opostas que estão a dominar o mercado de ações britânico

7274814328_09f148c5c7
Rbanks, Flickr, Creative Commons

O mercado de ações britânico está dominado por forças opostas como consequência do Brexit. Muitas empresas cotadas do país serão escassamente afectadas pela saída do Reino Unido da UE, enquanto que outras serão muito prejudicadas. É importante ter em conta que 67% das receitas das empresas cotadas (FTSE All Share) se geraram em moedas distintas da libra. Estas receitas beneficiaram da substancial depreciação da libra, ao serem transferidas para o Reino Unido e trouxeram consigo revisões em alta dos lucros das empresas. Por outro lado, os índices de pequena capitalização, que abrangem uma maior proporção de empresas com uma exposição elevada à libra nos seus lucros, estão a comportar-se pior do que o resto, desde que foi conhecido o resultado do referendo. Na verdade, o FTSE 100 e o FTSE 250 têm mostrado comportamentos opostos.

Captura_de_ecra__2016-07-20__a_s_16

 

Desde o referendo do Brexit de 23 de junho, o índice FTSE 100 tem subido cerca de 5% enquanto que o índice FTSE 250 tem caído quase na mesma proporção (ver gráfico 1: fonte London Stock Exchange). O FTSE 100 contém empresas mais internacionais e menos dependentes do Reino Unido comparativamente com o FTSE 250. “Os investidores não parecem ter reagido imediatamente perante a decisão do eleitorado britânico de abandonar  a UE, já que os produtos cotados de ações britânicas registaram saídas de apenas 72 milhões de dólares depois do anúncio. Na verdade, dentro das exposições a produtos cotados europeus, o Reino Unido é um dos poucos  países que continuam positivos no que diz respeito aos fluxos acumulados no ano, com entradas líquidas de 1.300 milhões de dólares”, explica Ursula Marchiono, diretora de estratégias da iShares para EMEA, na BlackRock.

No entanto, a especialista reconhece que aconteceu uma clara rotação dos títulos britânicos de média capitalização (FTSE 250) para os de grande capitalização (FTSE 100). “Visto que apenas 21% das receitas das empresas do FTSE 100  procedem do Reino Unido, face aos 58,6% das que são provenientes do FTSE 250, os investidores estão claramente a tender para empresas de grande capitalização pela maior exposição das suas receitas aos mercados internacionais num contexto de incerteza nacional”, afirma. De todas as formas, o bom comportamento registado pelo FTSE 100 e a relativa resistência mostrada pelo FTSE 250 levanta questões. “Embora nos deixe contentes que o sucedido não tenha terminado numa situação de caos, estamos convencidos de que o mercado bolsista está a ser excessivamente complacente no que diz respeito à globalidade desta situação”, avisa Lukas Daalder, diretor de investimentos da Robeco.

“Naturalmente, as perspectivas para os próximos dois meses são bastante estáveis, e provavelmente não se produzirão acontecimentos significativos, mas isto não deve entender-se como indicativo de que a atividade possa voltar a normalidade. Consideramos que falta muito para conhecer a evolução desta situação. Pode acontecer que a economia britânica saia mais ou menos ilesa da situação, com um efeito marginal sobre os lucros empresariais tanto no Reino Unido como na Europa, o que seria um claro sinal de que abandonar a União não é tão mau como se antecipava, abrindo assim a porta para que se convoquem consultas similares noutros estados membros. Neste caso, o mercado europeu começaria a desintegrar-se, o que finalmente suporia a extinção da zona euro também”, assinala o especialista.

Captura_de_ecra__2016-07-20__a_s_18

Reação dos mercados de valores durante e depois do referendo. Fonte: Bloomberg, Robeco.