As grandes apostas das gestoras para investir em ações em 2020

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A oferta de produtos das gestoras internacionais evolui... e as ideias de investimento dos responsáveis destas entidades também. Este ano fizeram-no de forma muito significativa. Segundo o inquérito que todos os anos a Funds People faz aos responsáveis das maiores empresas internacionais com escritório na Península Ibérica, que este ano cumpre a sua sexta edição, os fundos temáticos tornaram-se nas melhores ideias de investimento face a 2020.

As razões que explicam esta aposta nestes produtos são várias. Tratam-se de estratégias que investem globalmente, nas quais a narrativa tem uma grande importância ao ponto de ser tornar num poderoso argumento capaz de atrair a atenção dos investidores. Isto é demonstrado pelo facto de que, num ano de fortes saídas de dinheiro em ações na Europa, as principais categorias de fundos temáticos estão a registar entradas líquidas em 2019. Neste sentido, os produtos deste estilo assinalados pelos responsáveis máximos das entidades seguem estratégias que procuram aproveitar tendências globais de todo o tipo: mudanças climáticas, longevidade, consumo...

O produto selecionado por Marta Marín, diretora geral da Amundi para a Península Ibérica, é o Amundi Funds Marta MarínEuropean Equity Value. Em ações, acredita que é provável que tenhamos deixado para trás a maior parte da direccionalidade do mercado. Na sua opinião, “as empresas de boa qualidade dentro do value europeu poderão representar uma oportunidade em 2020 (as empresas com balaços sólidos, fluxos de dinheiro sustentáveis e modelos de negócio sólidos). Este fundo procura investir em empresas europeias de qualidade com uma abordagem value. Definimos a qualidade como a capacidade de uma empresa gerar retornos acima do custo de capital e de forma sustentável; e queremos investir nesta quando negoceia com um desconto significativo (margem de segurança). O resultado é uma carteira de convicção, equiponderada e de baixa rotação. Uma abordagem conservadora com um horizonte a longo prazo que procura preservar o capital e gerar rentabilidades positivas a longo prazo”, destaca Marín.

Beatriz Barros de Lis AXATal como destaca Beatriz Barros de Lis, nas últimas décadas está a acontecer uma mudança demográfica imparável pelo que a população mundial está a envelhecer a tal ritmo que as Nações Unidos estimam que a população com mais de 60 anos crescerá até 2030 a uma velocidade cinco vezes superior à da população com menos de 60 anos. “Esta situação representa, sem dúvida, uma série de desafios para as sociedades e também oportunidades importantes para os investidores que saibam aproveitar. Neste contexto, na AXA IM acreditamos que o AXA WF Framlington Longevity Economy, um fundo que se centra nas oportunidades de investimento que oferecem as empresas que desempenham um papel cada vez mais relevante na vida das pessoas da terceira idade. Neste sentido, o setor da saúde é um dos que mais vai beneficiar (medicamentos, cuidados médicos...), seguido da indústria do consumo (viagens, entretenimento e beleza)”, assinala a diretora-geral da AXA IM para Portugal e Espanha.

A grande aposta de Aitor Jauregui, responsável da BlackRock em Portugal, Espanha e Andorra é o BGF Aitor JaureguiContinental European Flexible Fund. “Este fundo, gerido por Alister Hibbert, com foco na Europa, evita uma das regiões com maior incerteza política atualmente, o Reino Unido, e tem uma abordagem flexível, podendo investir em qualquer setor, país ou tamanho de empresa. A equipa de gestão centra o seu processo de investimento numa análise fundamental, partindo de uma abordagem bottom-up para poder encontrar empresas que geram alfa. O fundo consegue alguma da sua rentabilidade pelo facto de evitar a região do Reino Unido atualmente,mas também ao comparar com o seu índice de referência FTSE World Europe ex UK, gera alfa de forma sustentável a longo prazo recompensando os investidores por se mantêm investidos. É capaz de manter um elevado Sharpe ratio controlando o risco e servindo-se dos sistemas de gestão de risco da plataforma Aladdin”.

O fundo eleito por Sasha Evers é o BNY Mellon Long-Term Global Equity, produto gerido pela Walter Scott, empresa com sede em Edimburgo especializada na gestão de carteiras de ações globais. “O fundo investe em Sasha Eversempresas de elevada qualidade (empresas com baixos níveis de alavancagem) capazes de crescer acima do nível dos seus concorrentes e do mercado. São as empresas tipicamente de grande capitalização com um ROE (rentabilidade de recursos próprios) e ROI (retorno do investimento) de entre 20-25%. A sua carteira concentra-se em 40-60 valores que são geridos sob uma estratégia de comprar e manter a longo prazo dirigida a maximizar o potencial de revalorização das ações. A rotação anual do fundo é baixa (tipicamente entre 15-20%). A qualidade da carteira é refletida no bom comportamento da estratégia do fundo em momentos de stress dos mercados financeiros (2008, 2011, 2018). É um fundos que é gerido de forma ativa com um estilo mais focado nas características das ações individuais do que nas tendências macro. Utiliza o índice MSCI World como indicador de referência para a composição da carteira”, destaca o diretor geral da BNY Mellon IM para a Península Ibérica e América Latina.

Álvaro Fernández Arrieta e Mario González, diretores de desenvolvimento de negócio da Capital Group para Portugal e Espanha, elegem o Capital Group New Perspective, “o único fundo Gold Morningstar da sua categoria, que se tornou num clássico em muitas carteiras de clientes ibéricos e no resto do mundo”. Segundo explicam, “trata-se de um fundo de ações globais, com mais de dois milhões de clientes, conservador e Álvaro Fernández Arrieta_ Mario Gonzálezcom resultados muito consistentes. Cabe recordar que o fundo nos seus 46 anos de histórico proporcionou uma rentabilidade após comissões de 12%, quase 4% acima do seu índice de referência. Estes resultados foram alcançados com um nível de risco menor do que o índice e especialmente mediante a proteção em mercados em queda; de facto, o fundo saiu-se melhor após comissões em 100% dos períodos bearish do mercado (medidos como rolling três anos) enquanto nos mercados bullish fê-lo 85% das vezes. O fundo, desde o seu início em 1973, investe em empresas multinacionais, sobretudo de nova geração. Sem uso de derivados, com um active share alto e um tracking error moderado, com uma rotação próxima a 25%, o fundo investe em todo o tipo de empresas multi-nacionais sem importar a sua capitalização ou o país de domicílio”.

As ações são para Mariano Arenillas, responsável da DWS para a Península Ibérica, as que a priori têm maior potencial de revalorização para 2020, “apesar dos preços das ações em geral serem já Mariano Arenillasexigentes e refletirem as expectativas futuras, pelo que notícias que possam afetar negativamente a saúde empresarial (Brexit, guerra comercial, instabilidade política...) serão claramente entraves para a continuidade do ciclo. Não obstante, as baixas expectativas de rentabilidade nos ativos conservadores continuarão a atrair investidores para as ações. É possível salvaguarda-se neste contexto? Não, sem risco não há rentabilidade, mas talvez uma forma mais defensiva de aceder a ações é o investimento em empresas globais de dividendo sustentável, através do nosso mítico DWS Invest Top Dividend, onde esperamos continuar a repartir em 2020 pelo menos 3,2% do capital conseguido via dividendo”, afirma.

O produto escolhido por Sebástian Velasco, diretor-geral da Fidelity para Portugal e Espanha, é o FF Dynamic SebastianGrowth, um fundo bottom-up e sem restrições, de ações europeias, que investe em empresas de elevada qualidade nas quais a tese de investimento é endógena às mesmas, independentemente do contexto macro, e sempre com os olhos postos no longo prazo (mantém as posições em média durante cinco anos). “O gestor, Fabio Riccelli, alcançou uma rentabilidade anualizada de 13,5% desde que assumiu as rédeas do fundo há 11 anos, superando a do seu benchmark em 4,5%. Com vista a 2020 a valorização das ações europeias é relativamente atrativa face à de outros mercados. Criaram-se oportunidades atrativas de compra pela incerteza atual nos mercados derivada do Brexit ou da situação China-EUA”, aponta Velasco.

Lucía Catalán_goldman sachsLucía Catalán, diretora geral da Goldman Sachs AM para a Península Ibérica e América Latina, elege o GS Global Equity Millennials, já que acredita que as características e preferências da geração dos millennials vão ter uma grande influência quanto às temáticas de investimento para os investidores nos próximos anos. “Esta geração forma atualmente o grupo demográfico de maior relevância e tornou-se na maior fonte de rendimentos e de consumo a nível mundial. Na nossa opinião, um fator importante para gerar alfa no futuro vai consistir em encontrar empresas que sejam capazes de beneficiar dos hábitos de consumo desta geração. São três os motores que caracterizam esta geração: tecnologia, economia colaborativa assim como saúde e bem-estar. A carteira final é composta por entre 40 a 50 valores, de maior convicção e com maior exposição à temática. Está situado no primeiro quartil a um e a três anos. O índice de referencia é o MSCI ACWI Growth”, explica a responsável.

Íñigo Escudero, diretor de Vendas e Serviço ao Cliente da Invesco para a Península Ibérica e América Latina Inigo Escudero Invescofica com o Inveco Developing Markets Equity. “Após um 2019 com subidas próximas a 20% para os principais índices de mercados desenvolvidos, pensa que que os mercados emergentes podem estar entre os favoritos dos investidores em 2020. A alternativa neste segmento é o Invesco Developing Markets Equity Fund, a versão europeia do fundo de ações emergentes da Oppenheimer, um dos maiores (46.000 milhões de dólares) e de com mais sucesso do mundo. Essa gestão é baseada numa alta convicção: carteira diversificada (80-120 posições, 90 atualmente) com um horizonte de investimento a médio e longo prazo (as posições permanecem habitualmente em carteiras entre e cinco anos) com uma estratégia de rotação baixa. Centra-se nas empresas, não nos países. Desde que foi lançado em 1996 o fundo registou uma rentabilidade líquida média anual superior a 11%, praticamente quatro ponto percentuais acima do índice de referência”, destaca.

javierO produto de ações selecionado por Javier Dorado, diretor geral da J.P.Morgan AM para Portugal e Espanha é o JPM Funds – Europe  Equity Plus, fundo de ações europeias que se diferencia principalmente porque toma posições longas nas empresas sobre  as que têm uma maior convicção, e posições curtas nas empresas cujas perspetivas não são boas. “É gerido seguindo o nosso processo de investimento de finanças comportamentais, que explora as anomalias de avaliação, de qualidade e de momentum. A exposição líquida será sempre de 100%, já que se compensam as posições longas com as curtas (130/30). Este fundo apresenta um comportamento histórico muito atrativo e é gerido por uma equipa muito estável com uma longa trajetória”, aponta Dorado.

O Jupiter European Growth é a escolha de Gonzalo Azcoitia, responsável do escritório Ibérico da Jupiter Asset Gonzalo Azcoitia_JupiterManagement. “Os cogestores do fundo, Mark Nichols and Mark Heslop, pretendem atingir um crescimento de capital a longo prazo ao explorar oportunidades de investimento especiais na Europa. O fundo é adequado para investidores que percebem que o segredo é desenvolver um bom processo de escolha de ações, escolher empresas e manter posições a longo prazo. O portefólio de 35-40 títulos vê, tipicamente, 70% dos ativos concentradosem apenas 20 açõesque podem ser muito diferentes do seu benchmark. É o exemplo perfeito da filosofia de alta convicção que existe desde 1995”, explica o responsável da Jupiter.

Apesar da economia mundial estar a mostrar claros sinais de desaceleração, o mercado de ações americanas Javier_Mallo_Legg_Masondenota, um ano mais, máximos históricos. Este comportamento leva Javier Mallo a pensar que “as ações americanas continuarão a oferecer oportunidades que só a gestão ativa será capaz de aproveitar. Especialmente relevante continuará a ser o segmento das empresas de grande capitalização graças à sua capacidade de adaptação às diferentes condições de mercado. O Legg Mason ClearBridge US Large Cap Growth é uma aposta segura já que seleciona empresas líderes no seu setor, de âmbito global e que obtêm bons resultados a longo prazo. O fundo, que além disso conta com um rating de sustentabilidade da Morningstar superior à média, configura a sua carteira em torno de três cabazes (valores cíclicos, estáveis e select) cujo peso varia segundo as condições de mercado. Esta flexibilidade é uma das chaves dos bons rendimentos que regista a longo prazo”, afirma o responsável da Legg Mason para Portugal e Espanha.

ignacio rodriguezSegundo Ignacio Rodríguez Añino, responsável da M&G Investments para Portugal, Espanha e América Latina, as infraestruturas cotadas vão tornar-se numa classe de ativos chave nas carteiras dos investidores de ações durante o próximo ano. “Por isso, a nossa aposta nesta categoria é o M&G (Lux) Global Listed Infraestructure, fundo gerido por Alex Araujo, que acumula uma rentabilidade de 29% nos últimos 12 meses. Investe de forma global em empresas cotadas de infraestruturas que sejam básicas para o crescimento global e cujos ativos contribuam para o funcionamento quotidiano da sociedade. Um dos traços diferenciadores desta estratégia é que investe unicamente em empresas proprietárias de uma infraestrutura física ou que tenham concessões ou royalties perpétuas ou semi-perpétuas. Além disso, conta com um  foco principal no crescimento do dividendo e incorpora no seu processo de investimento a análise ESG”, assegura.

O produto selecionado por Laura Donzella é o Nordea 1 Global Climate and Environment Fund. Segundo explica laura donzellaa diretora de vendas da Nordea AM para a Península Ibérica e América Latina, “quando se trata de investir em soluções climáticas, focamo-nos em empresas que criam um impacto positivo. Dito isto, o nosso fundo baseia-se numa estratégia bottom-up e decidimos invstir numa empresa com base no seu atrativo a partir de uma perspetiva de rentabilidade-risco, o que se baseia na nossa análise estratégica e de valorizações. Como investidores fundamentais, mantemos uma conexão próxima com as empresas onde investimos. Reunimo-nos com a administração, votamos nas reuniões anuais de acionistas e interagimos sobre as posições que temos para monitorizar os critérios ESG, ajudando a tornar-se melhores empresas. Acreditamos firmemente que o investimento no clima e no meio ambiente não é só uma tendência. Dado que a necessidade se tornou numa realidade, cada vez mais empresas se estão a focar para encontrar soluções para este problema. A história da Nordea dentro desta temática começou há muitos anos. Temos uma solução única, bem estabilizada e  com provas dadas, desenhada para desempenhar um papel chave dentro dos desafios ESG que a sociedade enfrenta atualmente”.

Gonzalo_Rengifo_Pictet_AMDe acordo com Gonzalo Rengifo, diretor geral da Pictet AM na Península Ibérica e América Latina, em ações globais é preciso considerar o investimento em megatendências através de fundos temáticos, relativamente independentes do ciclo económico, com acesso a empresas que não estão nos principais índices, o que pode melhorar o perfil de risco/rentabilidade. “Uma estratégia muito eficiente é o Pictet Global Megatrend Selection, que engloba o conjunto de estratégias temáticas de forma equiponderada com o rebalanceamento mensal. Trata-se de uma combinação equilibrada que pode ser anticíclica. Proporciona uma alternativa às carteiras tradicionais de ações globais ativas (e passivas), sento amplamente diversificada, com alto active share e baixa sobreposição ao índice MSCI World Index, e maior exposição a mercados emergentes. Tem qualidades relativamente defensivas em períodos nos quais os índices de ações mundiais sofreram”, afirma.

De acordo com Carla Bergareche, diretora geral da Schroders para Portugal e Espanha, as mudanças climáticas Carlasão o maior desafio que enfrentamos nos próximos anos. “Para ganhar esta batalha, será necessário evoluir para uma economia baixa em carbono. Isto representará mudanças tanto para a sociedade e para a indústria como para as empresas. Todas as mudanças acarretam oportunidades, por isso, as empresas que reconhecerem esta ameaça e enfrentarem os desafios que surgem, ou tragam soluções para os problemas que implicam as mudanças climáticas, acabarão por superar o resto do mercado. Esta convicção forma a base da abordagem de investimento do Schroder ISF Global Climate Change desde que foi lançado em 2007. A nossa convicção a respeito desta megatendência só tem aumentado com o passar do tempo”, revela.

Segundo Alvaro Cabeza, apesar de ser o seu ativo preferido para 2020, cada vez se encontra com maisimage investidores que têm sérias dúvidas sobre a trajetória futura deste tipo de ativo, depois de um 2019 espetacular. “Para aqueles que querem continuar investidos em ações na zona euro, mas com um perfil marcadamente defensivo o UBS (Luz) Equity SICAV – Euro Countries Income é uma alternativa a ter em conta. Trata-se de uma carteira construída de forma sistemática com uma abordagem de dividendo sustentável e critérios de qualidade. Sobre essa carteira estabelecemos uma estratégia sistemática de venda de opções call, através da qual adicionamentos rendimentos decorrentes de um prémio de forma recorrente. O resultado é uma carteira que mostrou um bom comportamento relativo em mercados laterais ou bearish”, conclui o responsável de vendas da UBS AM para a Península Ibérica.