O debate entre seguir a tendência do mercado ou manter-se fiel às suas convicções de investimento está a decorrer, à medida que os ETF equal-weighted ganham popularidade como alternativa de diversificação.
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Numa apresentação recente, a Morningstar explorou a crescente concentração do mercado liderada pelas gigantes da tecnologia e a forma como os ETF estão a redefinir o panorama financeiro. Discutiram o impacto da gestão ativa versus passiva, as estratégias de prevenção de riscos e as últimas tendências em matéria de sustentabilidade e tecnologia de investimento. Os especialistas concordaram: navegar próximo do índice não é sinónimo de fracasso, mas de adaptação estratégica.
Concentração dos mercados: um fenómeno global?
A concentração nos mercados de ações não é um fenómeno novo, mas atingiu níveis históricos com as chamadas Sete Magníficas. Este grupo selecionado de empresas tecnológicas gerou uma concentração sem precedentes, especialmente no mercado norte-americano.
José García-Zarate, diretor associado de Manager Research da Morningstar, abriu a apresentação com uma análise aprofundada do fenómeno da concentração do mercado e dos riscos envolvidos. “Embora não seja novo, a concentração dos índices atingiu níveis que suscitam preocupações. Desta vez, o foco está num pequeno número de empresas tecnológicas, o que aumenta a exposição ao risco se o mercado mudar”, explicou Garcia-Zarate. A sua análise baseou-se em dados históricos que mostram como esta dinâmica se tem repetido em todas as regiões e setores, embora com caraterísticas únicas em cada caso.
Fernando Luque, editor da Morningstar, apresentou uma abordagem prática sobre a forma como os gestores de fundos se podem adaptar a este contexto. Destacou a diferença entre os ETF e os fundos geridos ativamente em termos de concentração: enquanto os ETF podem alocar até 20% da sua carteira a uma única empresa, os fundos ativos estão limitados a 10%. “Isto resulta em carteiras muito diferentes, o que nem sempre é óbvio para os investidores. Saber como esta concentração afeta o desempenho é crucial para tomar decisões informadas”, sublinhou Luque.
O gestor referiu que setores como a energia no Reino Unido e os mercados emergentes na Ásia também enfrentam níveis significativos de concentração, embora com caraterísticas diferentes. Em todos os casos, o ponto-chave é gerir eficazmente os riscos, algo que García-Zarate definiu como uma das principais virtudes dos bons gestores ativos.
ETF: um termómetro da dinâmica dos mercados
A ascensão dos ETF foi outro tema central. Os dados da Morningstar mostram que, na Europa, os fluxos para estes veículos continuam a bater recordes, especialmente no que se refere às ações americanas.
No entanto, Fernando Luque aponta a volatilidade de agosto de 2024, que provocou uma reação significativa no mercado, com um aumento acentuado da procura de ETF equal-weighted, um fenómeno que descreveu como “um reflexo de como os investidores institucionais estão a procurar diversificação face ao risco percebido”.
Esta mudança nas preferências de investimento sugere uma preocupação crescente com os riscos de uma elevada concentração do mercado.
Gestão ativa versus inércia do mercado
Um dos pontos mais controversos da apresentação foi o dilema que os gestores ativos enfrentam num ambiente dominado pela concentração. Garcia-Zarate argumentou que, em determinadas circunstâncias, seguir o índice não é um sinal de fraqueza, mas sim uma estratégia prudente. No entanto, salientou que esta decisão deve ser bem informada e comunicada aos investidores. “O objetivo não é alimentar o ego do gestor, mas maximizar o retorno para o investidor".
Fernando Luque complementou esta afirmação, salientando que alguns gestores ativos preferem manter a sua filosofia, mesmo que isso signifique renunciar a participar nas tendências dominantes do mercado. Citou como exemplo um fundo que evitou investir na Nvidia apesar do seu excelente desempenho, uma decisão que responde a uma estratégia bem definida e não a uma falta de visão.
A ascensão dos ETF ativos
O mercado de ETF ativos está a registar um crescimento significativo, especialmente nos EUA, onde representa 25-30% dos fluxos, enquanto na Europa se mantém a níveis mais modestos de 7-8%. Esta evolução está a abrir novas oportunidades para os gestores de fundos tradicionais que procuram expandir-se para o mercado de ETF.
Além disso, os especialistas salientaram que a gestão ativa nos ETF está a abrir novas oportunidades, embora não sem barreiras. “Nem todos os estilos de investimento ativo são compatíveis com a estrutura dos ETF, o que limita o seu desenvolvimento”, explicou Luque. O especialista também destacou a chegada de inovações como os ETF temáticos, que utilizam inteligência artificial para identificar tendências de mercado e redesenhar carteiras.