Como é afetada a rentabilidade pela estabilidade da equipa e política de remuneração do gestor: o caso do Capital Group

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A estabilidade de uma gestora, da equipa de profissionais que a integram e as métricas que utilizam na entidade para calcular a remuneração para os seus gestores e analistas tem um efeito direto em relação aos resultados dos fundos. E este efeito é muito positivo. Não é fácil de chegar a esta conclusão, uma vez que, na indústria, não existem muitas entidades que não tenham participado nos imensos processos de consolidação que o setor viveu, que não sofram alterações de forma frequente nas suas equipas de investimento ou que remunerem os seus profissionais pelos resultados que obtenham a longo prazo, entendendo-se por longo prazo o facto de se dar um maior peso no cálculo da retribuição aos resultados obtidos em mais de cinco anos. Não existem muitas entidades que cumpram estes três requisitos e, por isso, fazer uma análise ao nível de gestora é complicado. Mas podem-se encontrar alguns casos de estudo, como o do Capital Group.

Desde a sua criação nos anos 30, a gestora americana não participou em nenhum processo de fusões ou aquisições (M&A), remunera os seus gestores e analistas dando um maior peso aos resultados obtidos a longo prazo e é muito raro ver alterações nas suas equipas de investimento. “Isto é único na indústria”, assegura numa entrevista à Funds People Grant Leon, responsável de vendas da Capital Group para a Europa e Ásia, que não hesita em expor alguns exemplos do diferenciador modelo desta entidade. “Em 2008, quando muitas gestoras estavam a reduzir os custos, nós abrimos dois escritórios de gestão em Mumbai e Pequim. E, em toda a nossa história, nunca fechámos nenhum. O sermos capazes de pensar e executar planos a partir de uma perspetiva de negócio de longo prazo faz do nosso modelo único no setor e boa parte da razão motivada pelo facto de que os acionistas do Capital Group estarem nas mãos dos seus funcionários”, sublinha Leon.

Segundo o responsável de distribuição da empresa para a Europa e Ásia, esta estrutura é uma das razões que explica a estabilidade dos 390 profissionais, aproximadamente, que trabalham na equipa de investimento que, em média, permanecem 22 anos na Capital Group, um valor muito alto numa indústria habituada a vaivéns. “Todo o santo dia aparecem informações nos meios de comunicação sobre gestores que abandonam uma empresa para entrar noutra. Na Capital Group isso não acontece, em parte, deve-se ao facto de que os nossos profissionais de investimento são sócios da empresa. Se trabalhar para uma entidade da qual faz parte e dispõe de total estabilidade corporativa, tem à sua disposição todos os instrumentos que necessita para fazer bem o seu trabalho. Conta com uma das equipas de analistas mais extensas e com mais experiência… porque vai querer ir embora? A única razão para sair seria o facto de não estar a gerar bons resultados”, argumenta.

A forma com a qual o Capital Group remunera os seus funcionários é um aspeto óbvio diferenciador na indústria, mas também é pouco habitual o facto de os gestores e analistas investirem quantidades significativas do seu próprio dinheiro nas estratégias que gerem. “Algumas organizações externas analisam a relação que existe entre o facto de os profissionais investirem nos seus próprios fundos de forma significativa e os resultados que obtêm com os seus produtos. E não há surpresas. Existe uma grande correlação. Os resultados que os fundos onde os gestores investem o seu dinheiro geram são melhores do que aqueles em que não investem”, recorda Leon. E aqui vem o aspeto verdadeiramente interessante face aos investidores: esta estrutura e filosofia gera, a longo prazo, resultados superiores aos do mercado e aos do conjunto da indústria. Não é uma questão de marketing. É o que os dados demonstram.

Os resultados 

A nível quantitativo, 80% da gama luxemburguesa do Capital Group tem quatro ou cinco estrelas Morningstar. No plano qualitativo, atualmente na Europa apenas cinco gestoras têm três ou mais fundos com rating Gold Morningstar. O Capital Group é uma delas. Nos Estados Unidos, de todas as entidades que comercializam os seus produtos no país, a casa pode assumir ser a quarta que apresenta um rating mais elevado, tendo em conta as medalhas que a empresa de análise concede. Isto é importante devido ao caráter de previsão do rating. A Morningstar calculou o alfa médio anualizado dos produtos Gold, Silver e Bronze face aos seus concorrentes em períodos de cinco anos, entre março de 2002 e março de 2017. Os resultados são conclusivos: fundos com rating positivo (e especialmente aqueles que conseguem um Gold) obtêm melhores resultados do que aqueles com um rating Negative ou Neutral.

“Um fundo comportar-se-á bem no futuro não só se demonstrou que no passado conseguiu ultrapassar os seus rivais, como também dependerá da consistência no processo de investimento, da estabilidade da equipa gestora, do facto de a entidade gestora estar muito ou pouco alinhada com os interesses dos seus participantes, ou dos gastos totais que cobra aos investidores, por citar alguns dos fatores que a equipa de análise de fundos da Mornigstar tem em conta ao atribuir as suas medalhas (Gold, Bronze, Silver, Neutral ou Negative) aos fundos analisados”, corrobora Fernando Luque, editor financeiro na Morningstar. Assim, todas essas qualidades mencionadas pelo especialista, que respondem na sua maioria a uma análise qualitativa, são aspetos importante que o investidor devia ter em conta na altura de selecionar um fundo de investimento.

Na verdade, a empresa de análise tem-nos muito presentes todos os anos quando submete cerca de 8.000 produtos nos Estados Unidos a uma análise quantitativa e qualitativa com o objetivo de identificar as 43 melhores. O processo procura identificar os produtos que cumpram com uma série de características, muitas das quais são exigências habituais dos investidores: baixo custo, volatilidade reduzida, que o seu gestor invista pelo menos um milhão de dólares no fundo que gere, que tenha como mínimo um track record de cinco anos face à estratégia e que o produto conte com um rating Morningstar Bronze ou superior. Deste filtro realizado pela empresa de análise, o Capital Group é a gestora ativa que de forma recorrente consegue incluir um maior número de fundos, 13 na última edição. “Estamos muito orgulhosos disso”, conclui Leon.