Brasil: o que poderá acontecer a seguir?

brasil
Créditos: Matheus Câmara da Silva (Unsplash)

O Brasil protagonizou a sua própria versão do episódio da invasão do Capitólio quando milhares de partidários radicais do ex-presidente Bolsonaro entraram na Praça dos Três Poderes de Brasília. Os manifestantes invadiram e saquearam os edifícios do palácio presidencial, o Congresso e o Tribunal Supremo em sinal de protesto contra o novo presidente e pedindo ao Exército a sua destituição. O que poderá acontecer a seguir? E que efeitos poderá ter sobre o mercado do país?

Impacto político

Tal como explica Mali Chivakul, economista de mercados emergentes na J. Safra Sarasin Sustainable AM, os recentes distúrbios no Brasil relembram-nos que este continua a ser um país polarizado. “A rápida intervenção de uma frente unida dos três poderes do Estado para proteger a democracia é tranquilizadora. No entanto, olhando para o futuro, o sucesso aumentou o risco de que o Governo de Lula não faça progressos nas difíceis reformas e se incline para uma maior despesa para manter a paz”.  

A situação fiscal no Brasil também é delicada. “Estabilizar a dívida pública exigirá desfazer as isenções de imposto sobre o combustível que foram prolongadas até fevereiro e alguns cortes nas despesas para compensar o pacote aprovado pelo Congresso em dezembro. Espera-se que o Governo anuncie esta semana novas medidas que poderão contribuir para a confiança dos investidores a curto prazo”, destaca.

Impacto no mercado 

De acordo com Thierry Larose, gestor da Vontobel AM, estes acontecimentos irão provavelmente induzir um maior grau de polarização política que poderá, no pior dos casos, afetar a governabilidade do país se o clima social ou económico se deteriorar muito. “Isto poderá acabar por se traduzir num prémio de risco estruturalmente mais elevado para os ativos brasileiros”.

No entanto, o especialista considera que o prémio de risco adicional do Brasil já está presente e é bastante elevado para os padrões dos mercados emergentes, especialmente nas taxas locais (que incorporam taxas reais ex ante muito elevadas) e nas ações (que apresentam uma elevada rentabilidade por dividendo e múltiplos baixos). “Ao contrário do que aconteceu nos EUA, no Brasil a condenação foi unânime em todo o espectro político e nenhum líder político da oposição se mostrou disposto a apoiar os invasores. Nem sequer o próprio Bolsonaro se atreveu a reivindicar a sua ação, apesar de o terem feito em seu nome”.

A conclusão a que Larose chega é que, embora se deva agir com cautela nas próximas horas e dias, qualquer surto extremo de volatilidade deve ser visto como uma oportunidade, uma vez que é provável que os investidores estrangeiros fiquem tranquilizados com a força da democracia brasileira e com a capacidade das suas instituições para manter um nível adequado de lei e ordem.