Um estudo da Corum Investments Portugal e da BA&N Research Unit mostra como é que a inflação crescente tem prejudicado a poupança dos portugueses. Remunerações reais negativas já devem superar 75% da poupança em Portugal.
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Numa tentativa de aferir sobre o impacto que as condições da inflação têm tido na poupança dos portugueses, a Corum Investments Portugal e a BA&N Research Unit lançaram o estudo denominado Poupança das famílias em tempos de inflação. Um documento que demonstra bem o impacto negativo que o aumento dos preços tem tido na forma como as famílias nacionais poupam.
O documento releva que a penalização tem sido dupla. As famílias portuguesas, referem no estudo, "estão a baixar de forma considerável a capacidade de gerar poupanças devido à subida dos preços, ao mesmo tempo que reforçam a aplicação em alternativas que persistem com retornos reais negativos".
3/4 das poupanças em depósitos ou produtos do Estado
Segundo os dados das duas entidades, em junho de 2023 mais de três quartos do stock das poupanças acumuladas pelos portugueses estavam aplicados em depósitos bancários ou produtos de poupança do Estado, "arriscando por isso um retorno real negativo numa altura em que a inflação persiste acima dos 4%".
Nas alternativas tradicionais de gestão de ativos, o peso das poupanças alocadas é menor. "Em fundos de investimento, fundos de pensões, PPR e diversos veículos de gestão de património, os portugueses têm já menos de um quarto das poupanças acumuladas", pode ler-se. Mas esse valor caiu face a 2022. Menos 2% do que um ano antes, com o montante a situar-se nos 72 mil milhões de euros, no final de junho de 2023. Face ao final de 2021, a queda é ainda maior: 12%.
Tendo em conta que "dentro da gestão ativos também há muitos produtos com remunerações reduzidas", das entidades estimam que "a poupança dos portugueses com remunerações reais negativas será bem superior a 75%".
Cinco euros aplicados em depósitos para um euro em fundos
Na perspetiva da Corum Investments Portugal e da BA&N Research Unit a realidade atrás descrita reflete a "elevada aversão ao risco dos portugueses". Recorrendo a dados do Eurostat mostram mesmo que "por cada cinco euros aplicados em depósitos, apenas um euro é colocado em fundos de investimento". Este é mesmo um dos rácios mais baixos da zona euro, dizem. Por outro lado, sublinham também que "do montante aplicado em fundos, os portugueses são os que menos apostam em fundos de ações"
A taxa de poupança das famílias tem vindo, de facto, a decrescer. Recuou para 5,3% no primeiro trimestre e permaneceu abaixo de 6% no segundo trimestre (5,7%). Um valor "que já não acontecia desde 2008". O indicador, conforme relatado no relatório, afasta-se de várias referências. "Está agora a menos de metade do valor registado no primeiro ano da pandemia (11,9% em 2020) e cada vez mais longe dos níveis registados noutros países europeus".
Recorde-se que a taxa de poupança da zona euro desceu de 19,7% em 2020 para 14% no primeiro trimestre, mais do que duplicando o registado em Portugal. No documento indicam que "o diferencial é agora o mais elevado desde (pelo menos) 2010, refletindo o maior impacto da inflação nas finanças das famílias portuguesas".
Embora o rendimento disponível dos particulares tenha subido 8% para 166,4 mil milhões de euros em 2022, tal "não foi suficiente para compensar a subida da inflação, uma vez que a despesa de consumo final subiu 13%". Esta discrepância é apontada pelo estudo como motivadora de "uma quebra de 34% no valor da poupança em 2022 (10,7 mil milhões de euros)". Nos 12 meses até junho de 2023, a diferença entre rendimento e despesa das famílias portuguesas situou-se em 9,7 mil milhões de euros, um valor 44% inferior ao montante que as famílias conseguiram poupar em 2020 (17,4 mil milhões de euros)".