China encara o ano do boi com um tailwind a favor dos investidores

China
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Feliz ano do boi. A China acaba de entrar num novo ano, o do boi, que segundo o seu horóscopo significa prosperidade conseguida através de trabalho, paciência e um certo individualismo. E fá-lo com um bom clima económico e social que fez com que apenas um ano depois e com apenas 2,82% da população com pelo menos uma dose da vacina (dados de ourworldindata.org), na China se possa falar de um pseudo regresso à normalidade. A mesma que tanto ansiamos no Ocidente.

Essa normalidade não chegou com o Ano Novo. Já se viu no último trimestre de 2020. Foi o primeiro país a entrar em crise e o primeiro a despedir-se do ano com um crescimento de 2,3% interanual, sendo um dos únicos países do G20 a registar um crescimento positivo no ano passado. As perspetivas económicas continuam a ser positivas e “prevê-se que a taxa de crescimento do PIB chinês supere os 8% este ano, fator que criará grandes oportunidades nos mercados”, afirma Jaime Raga, responsável de relação com clientes da UBS AM Iberia. Essa boa expectativa encontra a sua réplica nas empresas chinesas e, por conseguinte, no seu mercado. “Este reinício mais cedo em comparação com outras economias dá aos investidores uma maior clareza sobre as perspetivas para os lucros empresariais”, afirma Nicholas Yeo, responsável de ações chinesas da Aberdeen Standard Investments.

Razões para o otimismo

Ao fim e ao cabo, são muitos os catalisadores positivos que apresenta o gigante asiático que, com certeza, já é o segundo contribuidor para o PIB mundial, atrás dos EUA, com 18%. Só para citar algumas:

  • Melhoria das relações comerciais após a vitória de Biden nos EUA;
  • Auge de novos modelos de negócio após a pandemia;
  • Política fiscal e monetária expansiva;
  • Visibilidade económica positiva a propósito da apresentação do plano quinquenal para os próximos cinco anos;
  • Maior abertura a investidores estrangeiros;
  • Regresso à normalidade mais cedo do que os outros.

Neste contexto não é de estranhar que os mercados emergentes, cujo comportamento continua a depender muito da evolução da China, se tenham tornado nos mais sobrepodenderados pelos gestores de fundos, segundo o último inquérito a gestores da Bofa Securities. Essa preferência não só implica as ações chinesas, mas também o seu mercado de obrigações, sobretudo, tendo em conta que em tempos de pandemia se ganhou um posto no seleto grupo de ativos-refúgio.

Oportunidades em obrigações

“O facto de que as obrigações japonesas e alemãs não terem oferecido um refúgio contra as quedas do primeiro trimestre de 2020 sugere que o papel dos mercados de obrigações tradicionais como ativos defensivos na próxima recessão podem ser limitados, com retornos de 0%. Isto faz com que as obrigações soberanas chinesas sejam uma alternativa convincente como ativo defensivo de alta qualidade para muitos investidores”, afirma David Cheng, responsável de investimento em obrigações asiáticas na Schroders. De facto, a rentabilidade das obrigações governamentais chinesas a 10 anos é superior a 3% e o seu spread face às obrigações mundiais “encontram-se nos seus níveis mais amplos em comparação com os soberanos mundiais nos últimos 10 anos, graças à força da recuperação económica do país após a pandemia”, explica Cheng. “São um bom argumento no atual contexto de baixas taxas de juro. Além disso, consideramos que o risco de altas flutuações monetárias é baixo”, coincidem na DWS.

Além disso, a parte corporativa do segmento de dívida oferece oportunidades para investidores que estão dispostos a assumir riscos em troca de obter retornos que lhes permitam ter um hedge face ao aumento da inflação. Especialmente, considerando que a estrutura do mercado de dívida empresarial chinesa apresenta um viés setorial mais defensivo do que outros, com maior presença de setores ligados ao governo, consumo e também ao imobiliário.

No entanto, a dispersão do mercado que a COVID-19 trouxe consigo requer uma seleção cuidadosa. Particularmente considerando que, como Cosmo Zhang, analista da Vontobel Fixed Income Boutique explica, “o total de incumprimentos em 2020 pode ser maior do que em 2019, e impulsionar o rácio de incumprimento de obrigações corporativas onshore de 2020 de 0,62% para mais de 1,0% em 2019”. Assim sendo, pede-se tranquilidade já que “o risco é gerível e não representa uma ameaça sistémica graças aos abundantes recursos dos responsáveis políticos chineses”.

Alternativa em ações

Na BNY Mellon identificam duas claras áreas que oferecem potencial dentro do mercado chinês. “Para os investidores que estão a considerar investir na China, estes temas a longo prazo da desglobalização e digitalização podem proporcionar valiosas oportunidades de investimento neste Ano Novo chinês e mais além”, afirmam. Lars Kalbreir, CIO na Edmond de Rothschild Banca Privada soma a esta lista os setores ligados à revolução verde, a saúde, o consumo e o envelhecimento.

No lado contrário, Kim Catechis, responsável de estratégia de investimento da Martin Currie, gestora de investimento especializada em ações da Franklin Templeton, recomenda evitar os setores que apresentam maiores riscos. “Os setores vulneráveis às agressões geopolíticas são a tecnologia e as finanças”.

Ao fim e ao cabo, é preciso ter em conta que apesar de a China contar com boas perspetivas, é possível que muitas delas já estejam previstas nas suas valorizações. Não é em vão que desde 1 de janeiro de 2020 que os mercados de ações chinesas subiram 45% em dólares, face aos 18% do índice S&P500 e 5% do MSCI Europe.

“Apesar disto, as valorizações das ações da China continuam muito atrativas. O índice de ações MSCI China negoceia lucros a 15 vezes, com crescimento de 25% no lucro por ação esperado pelo consenso em cinco anos, favorável face às 24 vezes com que negoceiam as ações americanas para um crescimento esperado de lucros por ação de 10% em cinco anos”, afirma Kiran Nadra, especialista da Pictet AM.