CMVM: “A recuperação ocorrida em 2017 não permite ainda compensar as perdas de valor registadas durante as crises  financeira e da dívida soberana"

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No Relatório Anual Sobre os Mercados de Valores Mobiliários, referente a 2017, a CMVM destaca o bom comportamento dos índices acionistas nacionais no exercício em questão. Medidos pelos índices PSI 20, PSI 20 Total Return e PSI Geral, o agregado dos títulos de empresas nacionais proporcionou retornos na ordem dos 15,2%, 19,3% e 13,6% e 2017, respetivamente, pelo que a entidade supervisora dos mercados financeiras faz uma observação:

“Usando estes índices como um proxy para o investimento no mercado acionista, pode concluir-se que no último ano, em Portugal, a rentabilidade deste mercado teria sido mais compensadora (mas igualmente com mais risco) do que a de outras aplicações financeiras, como obrigações do Tesouro (OT) ou certificados de aforro.

Comportamento a 10 anos

Contudo, a CMVM deixa claro no relatório que “a recuperação ocorrida em 2017 não permite ainda compensar as perdas de valor registadas durante as crises  financeira e da dívida soberana que, além disso, prejudicaram a confiança dos investidores, seja por via de eventos marcantes ocorridos em diversos emitentes nacionais, seja por expectativas menos otimistas quanto aos resultados futuros das empresas cotadas, em parte devido a reduções significativas do investimento, à manutenção de elevados níveis de dívida (que ainda persistem) e, nalguns casos, à distribuição de dividendos oriundos de resultados transitados.”

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Para ilustrar diferentes resultados que diferentes abordagens ao mercado poderiam proporcionar ao investidor, a CMVM observa que se, no  final de 2007, um investidor, deparando-se com a opção entre investir no mercado acionista em Portugal ou em dívida pública nacional, e admitindo que este investidor é neutro face ao risco, a melhor opção teria sido uma OT para o período de 10 anos que termina no  final de 2017.  Neste cenário, “por cada euro investido, o investidor iria receber 1,68 euros em 2017, o que contrasta com o valor de 41 cêntimos se o mesmo investimento tivesse sido feito no cabaz de ações que replica o índice PSI 20”.

Obviamente há que refletir nestes valores o efeito da inflação “pois poderia acontecer que em 2017 o investidor comprasse menos bens com os 1,68 euros do que com 1 euro uma década antes”, pelo que “após a inclusão da variação do índice de preços no consumidor (IPC), passados dez anos o investidor receberia 1,55 euros pelo seu investimento de 1 Euro em OT e 29 cêntimos se tivesse investido no cabaz de ações que constitui o índice PSI 20, pelo que o investimento em dívida pública teria sido mais atrativo (e com menor risco)”. Já se o índice considerado fosse o índice de retorno total do PSI 20, incluindo os dividendos, portanto, a perda do investidor em ações nacionais seria inferior e ao final dos 10 anos o investidor deteria cerca de 61 cêntimos por cada euro. Isto resulta do facto de várias empresas do PSI 20 distribuírem dividendos, sendo que, no exercício mais recente 14 empresas distribuíram dividendos aos acionistas. Apesar disso, a CMVM destaca o facto de “o montante de resultados distribuídos ter sido inferior ao do ano transato”, com o payout ratio das empresas com resultados líquidos positivos a atingir os 53%.

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Diversificação

Considerando que a análise anterior assume uma aplicação financeira numa única opção de investimento e que a “grande maioria dos investidores decide (e bem) diversificar os seus investimentos, constituindo uma carteira que inclui várias aplicações financeiras”, a CMVM recorre no relatório a dados sobre os patrimónios  financeiros (ativos) do segmento de particulares de 2007,  para executar um exercício teórico de investimento diversificado de um montante de 100.000 euros: “Se um investidor tivesse aplicado 100 000 euros no final de 2007, numa carteira constituída por depósitos a prazo (80,7%), obrigações do Tesouro (5,6%), certificados de aforro (5,6%) e ações cotadas (8,1%), essa carteira teria, passada uma década, um valor de 119.961 euros. Ou seja, no período de 10 anos, o investidor teria obtido uma rentabilidade acumulada de cerca de 20% (ou 7,3% em termos reais, descontando o efeito da inflação)”.

Em resultado desses retornos, no final de 2017, “a carteira deste investidor teria uma composição diferente da inicial, com um aumento do peso dos depósitos a prazo (para 82,2%) e das OT (para 7,8%), diminuição nas ações cotadas (para 4,4%) e sem alteração nos certicados de aforro (5,6%)”.

“As alterações ocorridas na última década na estrutura da carteira de ativos das famílias não se resumem, porém, aos efeitos decorrentes das diferentes remunerações proporcionadas pelos vários tipos de aplicações financeiras. Alterações decorrentes de  flutuações da taxa de poupança têm igualmente impacto naquela estrutura. Em percentagem do rendimento disponível dos agregados familiares em Portugal, a taxa de poupança caiu de 7,6% em 2007 para 5,2% dez anos mais tarde, o que terá certamente impacto na composição da carteira”, conclui a CMVM.