Comentários da CMVM à gestão de ativos nacional e internacional em 2018

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Num ano em que os mercados afetaram significativamente a leitura do mercado de gestão de ativos a 31 de dezembro, a CMVM dá conta no Relatório Sobre os Mercados de Valores Mobiliários de 2018, que a gestão de ativos nacional representava 42,7% do PIB português no final do ano passado. 

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O regulador dos mercados financeiros comenta também que “a relevância da gestão individual de carteiras nacional tem sido crescente desde o início do milénio, tendo o respetivo valor administrado ascendido a 75% do total da gestão de ativos no  final de 2018, uma percentagem bastante superior à média europeia e que se deve sobretudo à atual menor importância relativa da gestão coletiva de ativos em Portugal”. A nível europeu a gestão de ativos representava 147% do PIB europeu em 2017. Segundo o relatório, se forem excluídas da análise jurisdições como o Luxemburgo e a Irlanda, os rácios de ativos sob gestão no PIB são mais elevados no Reino Unido, na Suíça e na Holanda. “Direta e indiretamente, as cerca de 4.200 entidades gestoras de ativos europeias eram responsáveis por um pouco mais de 600 mil postos de trabalho”, está patente no relatório.

No universo de gestão de ativos nacional, a entidade reguladora destaca o peso dos investidores de retalho. Este segmento do mercado detinha 19 em cada 100 euros sob administração, com um maior contributo da gestão coletiva de ativos, onde o peso desta classe de investidor atinge os 53,7%. Na Europa o peso médio é de 30%, mas é também na gestão coletiva que o investidor de retalho mais pesa. No entanto, no relatório está patente que ocorreu “alguma retoma da gestão de carteiras de pessoas singulares, para o que terão contribuído a recuperação de rendimentos e a menor competitividade de outras alternativas de investimento”.

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No ano o número de sociedades gestoras manteve-se inalterado, mas a CMVM dá nota de  uma maior concentração no sector. “No final do ano, os cinco principais operadores agregavam cerca de três em cada quatro euros sob gestão”, sendo que nos demais países europeus o setor é dominado também por um número restrito de empresas.

Mais conservadores que na Europa

No relatório está patente que a gestão individual nacional  privilegia a dívida pública nos seus investimentos, em particular a nacional, mas na gestão coletiva a dívida privada estrangeira assume maior relevância. As ações apresentam um peso reduzido (menos de cinco em cada cem euros investidos) na gestão de ativos nacional comparativamente com o que sucede na Europa (31%). Contudo, na Europa mantém-se ainda um elevado peso da dívida nas carteiras (41%). “Tal tem sido atribuído ao facto de estes instrumentos serem per- cecionados como mais seguros em termos de preservação de capital e de geração de rendimento periódico, ao enquadramento regulatório em matéria de fundos próprios dos bancos (que favorece a emissão de instrumentos de dívida e outros de natureza híbrida em detrimento de instrumentos de capital próprio) e, dada a persistência de muito baixas taxas de juro, a movimentos de procura de retorno (search-for-yield), particularmente envolvendo dívida de empresas não  financeiras”, comenta a CMVM.

Importância da gestão de ativos no financiamento das economias

A relevância dos fundos de investimento da Zona Euro no financiamento da economia europeia é visível através da proporção das emissões de dívida e de ações das empresas incluídas nas respetivas carteiras. No final de 2018, os fundos de investimento da Zona Euro detinham 27,5% da dívida e 17,7% das ações emitidas pelas sociedades não  financeiras europeias, e 10,6% da dívida emitida pelos Estados”, pode ler-se no relatório da CMVM.

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A entidade reguladora comenta também que “apesar de o peso da dívida privada se ter reduzido ligeiramente, e de o da dívida pública e das ações ter estabilizado, estas quotas são representativas da importância dos fundos enquanto investidores institucionais que asseguram a satisfação das necessidades de  financiamento das empresas e dos Estados europeus quando estes procuram obter fundos através do mercado de capitais”. No caso português, no entanto, os fundos de investimento domiciliados em Portugal detinham em carteira no  final do ano ações que correspondiam a 0,4% da capitalização acionista da Euronext Lisbon e detinham 0,07% da dívida soberana emitida pela República.

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