Maxence Mormede, diretor de Obrigações da AllianzGI, explica como a sua equipa utiliza modelos quantitativos avançados e análises de big data para otimizar as carteiras de obrigações.
Num mundo em que os ETF e a gestão passiva ganham terreno, Maxence Mormede, com mais de duas décadas de experiência na gestora Allianz Global Investors, e a sua equipa estão a demonstrar que ainda há espaço para a gestão ativa em obrigações, sempre que feita de forma inteligente, e a aproveitar o poder da tecnologia. A equipa de Maxence Mormede, conhecida como Advanced Fixed Income, conseguiu crescer de 4.700 milhões de euros em 2011 para mais de 59.000 milhões em 2024. Este sucesso deve-se a uma abordagem que combina análise quantitativa com a gestão tradicional de carteiras.
Os modelos quantitativos podem falhar
Segundo Maxence Mormede, diretor de Investimentos de Obrigações, os modelos quantitativos podem ser muito eficazes para identificar relações passadas entre variáveis, mas têm as suas limitações. Um dos principais desafios é que estes modelos não são capazes de prever ruturas estruturais nos mercados, o que pode causar grandes perdas. “A gestão quantitativa funciona bem até deixar de o fazer, e, quando falha, falha bastante”, alerta.
Para abordar esta debilidade, o especialista desenvolveu uma estratégia que combina a análise quantitativa com a experiência humana na construção de carteiras. “Não queria que a construção da carteira se baseasse unicamente em algoritmos. O cérebro humano continua a ser essencial”, afirma. No entanto, o processo apoia-se num modelo de risco em tempo real, que permite visualizar o perfil de risco da carteira antes de executar qualquer operação.
Além disso, a análise profunda de cada ativo é fundamental para se entender os riscos associados, e tal é apoiado por uma equipa diversa e altamente qualificada, que inclui desde economistas, até doutorados em astrofísica. Esta diversidade cognitiva é um dos pilares da equipa da AllianzGI, que lhe permite abordar os problemas a partir de várias perspetivas.
Big data e supercomputação ao serviço das obrigações
O que distingue a equipa de Maxence Mormede é a sua utilização intensiva de big data e de modelos matemáticos avançados. A equipa gera e analisa mais de dois terabytes de dados anualmente, utilizando ferramentas de computação na nuvem e técnicas de inteligência artificial para processar esta imensa quantidade de informação. Graças a esta infraestrutura, podem avaliar riscos complexos, como o risco de pré-pagamento a nível de empréstimo individual no mercado de hipotecas norte-americanas.
Esta utilização avançada da tecnologia não só permite otimizar a gestão do risco, como também maximizar as oportunidades de diversificação nas carteiras. “Queremos aumentar o número de posições ativas na carteira para reduzir a dependência de uma só dimensão, como a duração”, explica. Esta abordagem diversificada é fundamental para melhorar os rácios de informação e Sharpe, permitindo o fundo superar muitos concorrentes no espaço de obrigações.
Otimizar o rácio de informação
Ao contrário de muitos gestores tradicionais que se centram unicamente em maximizar o retorno, a equipa de Maxence Mormede foca-se em otimizar o rácio de informação, que mede o excesso de retorno por unidade de risco assumido. Esta abordagem é especialmente atrativa para investidores institucionais como bancos centrais, seguradoras e fundos de pensões, que estão sujeitos a estritas regulamentações de risco.
Uma conquista destacada da equipa é que, desde a sua criação, nunca registaram um default nas suas carteiras. Isto inclui terem evitado perdas em eventos críticos como a crise de dívida grega ou a queda da Lehman Brothers. Maxence Mormede atribui este sucesso ao seu rigoroso sistema de classificação interna e a modelos especializados, como o que avalia a sustentabilidade da dívida soberana.
Durante a crise do euro, este modelo permitiu-lhes prever com precisão que Espanha não seria desclassificada a nível especulativo, contradizendo as expetativas do mercado. Este tipo de análise é o que permitiu à equipa da AllianzGI diferenciar-se e oferecer um valor acrescentado aos seus investidores em momentos de incerteza.