O especialista da Generali AM explica a diferença entre um engagement bem-sucedido e um que também consiga adicionalidade como investidores.
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No seu relatório sobre engagement e votação em 2023, os especialistas da Generali AM referem que, no passado, 25 dos 96 casos de engagement em que estiveram envolvidos foram bem sucedidos, o que consideram quando a empresa ou emitente cumpriu todas as expetativas da gestora.
No entanto, na Generali AM distinguem entre esse sucesso e um passo mais além: demonstrar adicionalidade como investidores. No seu caso, em 2023 conseguiram demonstrá-lo em três dos 25 casos de sucesso. “A adicionalidade é demonstrada quando a empresa reconhece o valor acrescentado do nosso engagement”, afirmam. O conceito de adicionalidade está frequentemente associado ao valor acrescentado de uma atividade, quando se pode dizer que um evento não teria acontecido sem esta atividade, e faz parte dos três fatores que definem um investimento de impacto, juntamente com a intenção e a mensurabilidade.
Os três pilares da abordagem de adicionalidade
François Humbert, lead engagement manager na Generali AM, explica que este passo mais além, esta abordagem da adicionalidade no engagement, assenta em três pilares: “Uma preparação centrada na criação de valor acrescentado, uma colaboração com a empresa para definir e ajustar esse valor acrescentado através da negociação, e a criação ou gestão de uma coligação de investidores, sempre que pertinente e possível, o que implica também negociação”.
Dado o esforço adicional de análise e de negociação que esta abordagem implica, a decisão sobre as empresas a escolher para este tipo de interação é tomada pelo comité de engagement. “É formado por pessoas da equipa de sustentabilidade, mas também por gestores e analistas. Trata-se de obter uma visão entre uma diversidade. Além da visão comum, contar com o input da parte de crédito e de equity ajuda a entender as implicações financeiras para a empresa do que lhes é pedido com esse engagement”, explica François Humbert.
O profissional afirma que a sua equipa aborda o seu papel como se fossem “gestores de engagement, pelo que destinamos esse tempo onde pensamos que irá haver um maior retorno para todas as ações envolvidas. Se existirem duas empresas com o mesmo problema, mas uma for mais recetiva, optamos por essa”. Também se vêm como negociadores: “Estabelecemos objetivos, se nos dizem que não, tentamos perceber os motivos, as barreiras, e a partir daí podemos fazer ajustes. Além disso, é preciso negociar com outros investidores e também com a equipa da gestora. É um processo de construção de confiança”.
Quadro teórico
A Generali AM utiliza um quadro teórico para distinguir a adicionalidade de um investidor da adicionalidade de uma empresa. “Num processo de engagement, podemos dizer que foi adicional quando a empresa com que nos comprometemos reconhece esse valor acrescentado (privada ou publicamente)”, explica.
O quadro teórico proposto para evitar a confusão entre a adicionalidade de um investidor e adicionalidade de uma empresa baseia-se numa análise da cadeia de resultados da teoria da mudança, que é utilizada para avaliar o impacto de diversos projetos.
A cadeia de resultados da teoria da mudança
Esta cadeia de resultados liga cinco passos do engagement. O primeiro é o input, que são recursos utilizados, o segundo são as atividades ou como esse input é utilizado através de diferentes ações e decisões (análise, conversas, negociações). O resultado de ambos é o output, que é o produto final em que o investidor dá formalmente a conhecer ao emitente as suas expetativas. O outcome, ou resultado, seria a mudança de comportamento do emitente, podendo envolver a divulgação de novos dados, a fixação de novos objetivos, estratégias, políticas ou alterações na governance e na organização, etc. Por último, há o impacto, que seria a mudança a longo prazo do indicador desejado no mundo real (PIA, contribuição para os ODS, redução de GEE, controlo de casos de corrupção…)
“Utilizando os conceitos definidos anteriormente, encerramos um caso de engagement quando as nossas expetativas (output do engagement) correspondem à mudança de comportamento (outcome da empresa). A adicionalidade é alcançada quando o emitente reconhece que a sua mudança de comportamento não teria ocorrido sem as expetativas do investidor (outpu) e as atividades de apoio. É aqui que reside a adicionalidade do investidor: entre o output e o outcome, quando a empresa reconhece o nexo de causalidade”, afirma François Humbert.

Os investidores não podem reivindicar o impacto final, que é consequência das ações do emitente. Por exemplo, a adicionalidade do investidor pode consistir no facto de a empresa divulgar um plano de transição, enquanto a adicionalidade do emitente consiste em aplicá-lo construindo parques eólicos, o que lhes permite reduzir emissões e ter um impacto real no mundo.
Perspetivas
Quanto às perspetivas deste tipo de engagement, o especialista destaca que “permite demonstrar que o trabalho de compromisso produz efeitos e faz a diferença”. Neste sentido, acredita que seria útil, no geral, repensar a forma de avaliar o engagement “porque tem de ser a melhor qualidade e é preciso avaliar essa adicionalidade”.
Medir a adicionalidade é importante porque “se investirmos no engagement, temos de ser capazes de medir esses resultados. Além disso, ganha-se credibilidade aos olhos das empresas, porque vamos mais além de marcar as coisas como feitas”. François Humbert conclui sublinhando que “no trabalho de engagement é essencial poder responder à questão de se se está a fazer a diferença”.