Como gerar rendimentos num contexto de subida de taxas

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GotCredit, Flickr, Creative Commons

A geração de rendimentos converteu-se numa necessidade vital para muitos aforradores e investidores que atualmente procuram alternativas para depósitos bancários que oferecem rentabilidades próximas de 0%. Um produto ‘income’ com alguma popularidade em Portugal é o JPM Global Income, produto com a classificação Blocbuster Funds People. Michael Schoenhaut e Talib Sheikh, gestores do fundo, reconhecem que o contexto de mercado não é particularmente simples para quem procura rendimentos. Por esse motivo, os gestores do J.P. Morgan AM elaboraram um guia no qual explicam como ter êxito para gerar rendimentos num contexto de subida de taxas de juro.

Primeiro passo: conhecer o terreno

Quando se tem de subir uma montanha, conhecer o terreno é tão importante como a preparação física e mental. Antes de investir com um objetivo de geração de rendimentos no contexto atual, Schoenhaut e Talib Sheikh acreditam que é importante conhecer os riscos que ameaçam o investimento e como podem desenvolver-se. “A ninguém lhes ocorrerá sair de casa sem uma gabardine se houver uma elevada probabilidade de chuva”.

Risco de taxas de juro

O risco de taxa de juro é um dos riscos mais importantes para os investidores que investem em para rendimento. Ao longo das últimas três décadas (concretamente desde 1981), as rentabilidades das obrigações têm sido apoiadas por uma progressiva queda de taxas de juro que levaram as yields das treasuries para o mínimo histórico de 1,36% em julho de 2016.

Aproximadamente 83% das 251 carteiras institucionais de obrigações core norte-americanas  (que somam um património total próximo dos 1,02 biliões de dólares) têm como referência o índice Bloomberg Barclays U.S. Aggregate e, no entanto, a duração do índice (que mede a sua sensibilidade às variações de taxas de juro) encontra-se em máximos históricos. “Se os mercados mantiverem esta perspetiva de reflação, a potencial pressão de subida sobre as taxas de juro irá supor um desafio para os investidores em obrigações”, afirmam.

Divergência de fluxos

Os fluxos das classes de ativos refletem o sentimento e a procura dos investidores. Embora as obrigações tenham sido receptoras da maioria dos fluxos desde a crise financeira de 2008, esta tendência poderá reverter-se se se mantiveram as pressões de subida sobre as taxas de juro. “A última vez que os fluxos de entrada em ações superaram significativamente as entradas em obrigações foi em 2013, o ano do ‘taper tantrum’ (quando o mercado reagiu de forma exagerada à possibilidade de que a Fed iniciasse o processo de normalização monetária). Nesse ano, as taxas de juro das treasuries norte-americanas dispararam quando a Fed começou a suavizar o seu programa de expansão quantitativa e as obrigações registaram fluxos negativos pela primeira (e única) vez desde a crise. Os fluxos de entrada em ações estão a recuperar depois das eleições norte-americanas do passado mês de novembro. Uma rotação sustentada para ações, fomentada pelas subidas de taxas poderá impulsionar as rentabilidades desta classe de ativos”.

Risco nas ações

O risco de taxa de juro não é exclusivo das ações. Alguns sectores de ações  tradicionalmente associados à geração de rendimentos, como as utilities ou as operadoras de telecomunicações, tendem a comportar-se como as obrigações pela sua natureza de distribuição de dividendos estáveis. “À medida que os investidores têm feito a sua rotação para ‘bond proxies’ (ações que se comportam como obrigações), as suas rentabilidades têm mostrado uma correlação ainda mais negativa com o aumento das taxas de juro das obrigações do tesouro norte-americano. Por este motivo, diversificar mediante o investimento neste tipo de ações pode acrescentar sensibilidade às variações das taxas de juro numa carteira com o objetivo de geração de rendimentos, como se pode verificar, quando os ‘bond proxies’ registaram uma rentabilidade de cerca de 10% inferior ao resto dos sectores das ações depois das taxas dos treasuries começarem a aumentar depois do seu mínimo do mês de julho”.

Segundo passo: escolher o equipamento adequado

Segundo explicam Michael Schoenhaut e Talib Sheikh, contar com o equipamento adequado é determinante para chegar onde nos propusemos. “Num contexto de maior crescimento potencial em que as taxas de juro serão submetidas a uma constante pressão de subida, os investidores em rendimento deverão saber com que ferramentas contam para alcançar um equilíbrio adequado entre rentabilidade e risco”, indicam.

Um conjunto de oportunidades mais amplo

À medida que aumentam as taxas de juro, as carteiras de geração de rendimentos que investem unicamente em obrigações core perderão valor. Na sua opinião, mover-se na escala de crédito dentro do universo de obrigações onde investir, por exemplo, em obrigações high yield ou em títulos com garantia hipotecária (MBS) pode contribuir para reduzir a sensibilidade da subidas de taxas. “Este tipo de títulos de rendimento fixo oferecem spreads atrativos face às treasuries, o que lhes permite absorver parte do impacto negativo dos aumentos de taxas. Na verdade, apesar de as taxas de juro terem ganho mais de 110 pontos base desde o mínimo marcado pela obrigação do tesouro norte-americano a 10 anos em 2016, o high yield no seu conjunto tem conseguido uma rentabilidade positiva face às obrigações core, que oferece spreads mais baixos e que registou perdas no mesmo período”.

Por outro lado, os especialistas consideram que acrescentar ‘oportunidades de crédito’ (como emissões hipotecárias 'non-agency') pode acrescentar diversificação a uma carteira de rendimentos. “As hipotecas 'non-agency' são uma classe de ativos tipicamente institucional e, como os investidores institucionais costumam investir mais a longo prazo, estes títulos tendem a ser menos sensíveis aos movimentos das taxas de juro. Na atualidade, oferecem yields próximas de 5% e veem-se suportadas pela melhoria do mercado imobiliário norte-americano e por dinâmicas positivas de oferta e de procura. Na verdade, muitos destes títulos oferecem cupões a taxa variável que aumentarão à medida que as taxas  de juro aumentam”.

 Seja flexível e olhe para lá das obrigações

Apesar de tudo, os gestores mostram-se convencidos de que centrar-se unicamente nas obrigações não eliminará o impacto negativo das subidas de taxas. “Combinar ativos que mostrem uma correlação baixa ou inclusive negativa com as taxas de juro não só amortizará parte da volatilidade como contribuirá para diversificar tanto as fontes de rendimento como o risco de uma carteira com objetivo de geração de rendimentos. As ações, por exemplo, costumam exibir uma correlação negativa das treasuries a 10 anos e, se as taxas de juro têm um bom motivo para aumentar (por exemplo, por um maior crescimento) as ações beneficiarão para além disso da melhoria do potencial de lucros, o que sublinha as vantagens de adotar um enfoque diversificado, ou multiativo, na hora de investir com um objetivo de geração de rendimentos”.

Mantenha-se ativo

Embora a perspetiva de taxas de juro mais altas resulte positiva para os investidores que necessitem de obter yield, o desafio passou da dificuldade em ser capaz de encontrá-lo para alcançar um equilíbrio adequado entre yield, risco e rentabilidade total de uma carteira. “Neste contexto, a gestão ativa é mais indispensável do que nunca. Os investidores em rendimentos necessitam de investir de forma flexível em diferentes classes de ativos, regiões e estruturas de capital, pelo que deverão ter em conta todas as ferramentas que têm à sua disposição para gerar mais rentabilidade por unidade de risco”, concluem.