Como mudou o investimento value na última década

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FMG2008, Flickr, Creative Commons

O estilo de investimento value está há anos pelas ruas da amargura, como demonstra o facto do gap entre o estilo value e o estilo growth estar a registar máximos históricos. Uma diferença que também se transferiu para os fluxos dos investidores. 

Mas nos últimos meses surgiram cada vez mais vozes que dizem que a sua ressurreição está ao virar da esquina num momento de fim de ciclo como o atual em que os investidores deverão ser mais cautelosos no momento de se posicionarem em ações tendo em conta que as valorizações tendem a estar cada vez mais ajustadas e com expectativas de rentabilidade a longo prazo que nada terão a ver com as vistas no passado.

Os investidores cada vez gostam menos de pagar em excesso pelos títulos mais massificados, quer seja do ponto de vista geográfico ou de estilos, e estão preparados para a mudança. Só precisam de um catalisador. Na nossa perspetiva – a de que não haverá um hard Brexit e de que os EUA e a China cheguem a acordos comerciais parciais que bastem para restabelecer uma certa confiança entre as empresas, que aumentam os seus investimentos de capital e os seus lucros – as ações de fora dos Estados Unidos tornam-se atrativas. Também torna interessante uma mudança de posicionamento em direção ao value”, afirma Fabiana Fedeli, Responsável global de Fundamental Equities da Robeco.

E, de facto, essa rotação em direção ao investimento value já se está a começar a ver nas carteiras dos gestores de fundos já que, segundo o último inquérito publicado pelo Bank of America Merrill Lynch, 34% dos gestores esperam que as ações value tenham melhores resultados que as de growth, 21 pontos percentuais a mais e a terceira variação mensal mais alta desde que se começou a publicar o inquérito em 2007.

Crescem as vozes que dizem que a rotação de ações growth está mais próxima do que nunca de um contexto de altas valorizações de mercado e baixo crescimento. Não obstante, no caso de a rotação se manter com o passar do tempo, os investidores sabem que nestes dez anos de travessia do deserto que passou este estilo de investimento tão popular, o value sofreu muitas transformações.

Por exemplo, segundo explica Pablo Martínez da Amiral Gestion, uma das grandes gestoras value europeias, uma das grandes mudanças é que hoje investir em value não implica deixar de fora o sector tecnológico. “No fim de contas se formos um investidor de longo prazo e não tivermos ativos do sector da tecnologia, estamos a perder uma grande parte do crescimento”, afirma. E isto explica que até o pai do estilo de investidor, o guru Warren Buffett, tenha optado nos últimos anos por comprar através da sua holding financeira, títulos tecnológicos como a Apple ou, mais recentemente, a Amazon. Os números já demonstram que, segundo dados da Morningstar, a percentagem sobre o património dos fundos value (incluem-se as categorias european large cap value y global large cap value) era de 7% em média, enquanto agora é de 10%.

A segunda grande mudança é que a permanência na carteira das empresas nos fundos value já não é tão alta como era no passado. “As nossas carteiras mudam e evoluem, quando iniciamos o Magallanes há cinco anos tínhamos uma carteira muito diferente da atual”, afirmou recentemente Iván Martín na Conferência Internacional da Morningstar. Ao fim e ao cabo, a paciência do investidor também já não é a mesma que no passado.

E a terceira grande mudança é, segundo explica Martinez, que ao contrário do ano passado, as métricas cada vez pesam menos na tomada de decisões já que se analisa mais as vantagens competitivas que as empresas oferecem. “Praticamente todos os sectores nos quais se pode investir enfrentam hoje temas disruptivos e agora é mais difícil selecionar as empresas já que é preciso pensar em segundas e terceiras derivadas”, afirma.