Como os investidores institucionais se estão a adaptar à alteração de paradigma nos mercados?

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Charles Clegg, Flickr

A palavra “normalização” transformar-se-á, provavelmente, numa das mais utilizadas ao longo de 2018. É certo que, embora já há algum tempo os sinais macro tenham vindo a apontar nesta direção, os investidores não levaram a sério a ideia de refletir no preço um cenário de fim de ciclo, a divergência monetária e a normalização da Fed... isto até ao “susto” que os mercados experienciaram no passado mês de fevereiro. Como bem sabem os investidores, nem estas quedas nem as experienciadas em março foram suficientes para reduzir as valorizações que continuam em máximos ou muito perto disso, num bom número de ativos de risco, enquanto que as taxas de juro se mantém em níveis historicamente baixos. Podemos perguntar-nos o que os investidores institucionais estão a fazer para evitar os obstáculos que este cenário emprega. A BlackRock contactou 224 investidores institucionais a uma escala global, com um património comum equivalente a 7,4 biliões de dólares. A resposta, muito resumidamente, é que estes grandes investidores estão concentrados na proteção face a este panorama de riscos ascendentes.

Ora, como estão a implementar esta proteção? O Inquérito a Investidores Institucionais da BlackRock detetou dois procedimentos: conservação de níveis de liquidez em carteira – 65% dos inquiridos não prevê modificar as suas alocações para ativos líquidos em 2018 – e, aumento de alocações para estratégias ativas, mas de forma seletiva. O estudo indica que a maior parte da procura irá canalizar-se para “uma vasta gama de classes de ativos alternativos, como os ativos não líquidos e os hedge funds, assim como para as ações”.

Preferências

Se existe uma preferência autêntica por parte dos institucionais, é relativa a ativos reais ou não líquidos. Segundo o inquérito, 60% dos investidores está disposto a aumentar a sua alocação para ativos reais este ano (ativos de energia renovável e infraestruturas, principalmente), contra 38% que não pretende efetuar alterações nas suas alocações, e 2% que irá optar por reduzi-la.

A segunda ideia na escala de preferências é completada por ativos imobiliários e o capital de risco com quase as mesmas proporções: 42% dos institucionais planeia aumentar o seu investimento a real estate, enquanto que 43% fará o mesmo com o capital de risco à escala mundial.

O inquérito revelou em terceiro lugar que os investidores demonstram mais disposição a investir em hedge funds do que em 2017, uma vez que agora 20% dos inquiridos planeia aumentar a sua alocação neste tipo de veículos. O estudo refere que, apesar da previsão de uma descida global nas alocações para as ações, quase 25% dos investidores institucionais indicaram a sua disposição de transferir as suas alocações para investimentos de gestão ativa em detrimento dos investimentos indexados, contra 16% que planeia fazer o contrário.

As últimas posições são ocupadas por ativos mais tradicionais. No que diz respeito às obrigações, 29% prevê aumentar a sua alocação a obrigações, contra 30% que prevê fazer o contrário; quanto às ações, 35% de investidores indicam que irão reduzir a sua alocação, contra 22% que pretende aumentá-la ao longo deste exercício. Pode consultar em seguida um quadro – resumo com todas as respostas.

Como pensa que a sua alocação irá mudar para as seguintes classes de ativos durante 2018?              
  Aumento %   Sem alterações %   Diminuição %   % líquida (soma líquida, aumentos menos diminuições)
Ações                       22%   43%   35% -14%
Obrigações   29%   42%   30% -1%
Hedge Funds   20%   65%   15% 5%
Capital de risco   43%   47%   10% 33%
Imóveis   42%   49%   9% 32%
Ativos reais   60%   38%   2% 58%
Ativos líquidos   13%   65%   22% -9%

 

A preferência por alternativos também se reflete na procura de rendimentos em segmentos alternativos da dívida corporativa, como as colocações privadas: até 58% dos inquiridos pretende aumentar a sua alocação neste segmento. Dentro da dívida corporativa, cerca de 40% dos inquiridos afirmaram a sua intenção de aumentar o seu investimento na dívida emergente.

Edwin Conway, responsável global do negócio de clientes institucionais da BlackRock, interpreta os resultados do inquérito desta forma: “A intenção dos clientes de realocar o seu capital para os mercados não cotados e para outras estratégias de carácter marcadamente ativo, constitue um reconhecimento de que os riscos mundiais persistem e do valor que a gestão ativa”.

Embora vários porta-vozes na empresa acreditem que o crescimento mundial sincronizado irá manter-se – incluindo Conway – têm vindo a comunicar desde o início do ano que os rendimentos que se podem obter em 2018 na maioria das classes de ativos de risco sejam, provavelmente, inferiores aos dos anos anteriores. “Manter os níveis de liquidez atuais e aumentar a alocação à  gestão ativa poderá parecer um movimento de tendência inversa. Porém, para muitos dos nossos clientes, trata-se da sua estratégia de abordagem dupla para enfrentar o risco e abordar mercados potencialmente voláteis”, acrescenta o responsável.