Como se calcula o risco numa carteira

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Créditos: Nick Seliverstov (Unsplash)

Além da inflação, as perguntas mais comuns que Robert Almeida recebe são sobre as perspetivas de retorno de várias classes de ativos. “Visto que uma ação vale mais que 1000 palavras, as carteiras que administro devem demonstrar a minha opinião sobre as oportunidades e os riscos existentes. No entanto, agradeço e compreendo as perguntas, uma vez que a maioria dos estrategas que conheço não gerem ativos. Certamente que alguns deles terão alguma responsabilidade na gestão de carteiras. Mas a verdade é que não conheço muitos”, argumenta o gestor de Carteiras e estratega de Investimento Global na MFS IM.

Na sua opinião, há uma importante diferença entre como o dinheiro é alocado na realidade e o que é dito durante uma entrevista televisiva ou num comentário por escrito. “É fácil opinar quando o capital não está em perigo. Para mim, é mais útil ver como se orçamenta o risco numa carteira”, assinala.

O rendimento esperado

Como explica, geralmente, existem três fatores cruciais a considerar na hora de determinar a ponderação de qualquer ativo de uma carteira. O primeiro é o retorno esperado. “Uma vez que os cash flow determinam o retorno do investimento, é importante perguntar quais são as perspetivas dos mesmos ou da principal hipótese de investimento”, indica.

Distribuição prevista do rendimento e volatilidade

O segundo é a distribuição prevista do retorno e da volatilidade. “Como será a distribuição dos cash flows? Qual será o intervalo dos possíveis resultados? Quão voláteis serão os retornos? O que pode correr muito mal? Qual é a assimetria do potencial de retorno no que diz respeito ao risco?”. Estas são, na sua opinião, algumas das questões que têm de ser colocadas.

Correlação esperada

O terceiro é a correlação esperada. Na sua opinião, entre as perguntas que devem ser colocadas estão as diferenças entre as possíveis fontes de cash flow, como os fluxos de rendimento podem interagir com os restantes ativos em carteira ou que capacidade de diversificação ou concentração de risco tem um determinado ativo na carteira. “Uma vez que o futuro é incerto, só podemos recorrer a hipóteses quando tentamos responder a estas perguntas”, reconhece.

A sua hipótese no início de 2022 sugeria que as taxas de juro eram demasiado baixas e que os ativos de risco estavam sobrevalorizados. À medida que o ano avançava, as curvas das taxas aumentaram e os ativos de risco entraram numa espiral de vendas. E agora? 

Apesar da sua opinião sobre o contínuo endurecimento da política monetária com o objetivo de mitigar a procura agregada e, em última instância, a inflação, o achatamento e a inversão das curvas das taxas refletem o que o especialista pensa há algum tempo: perspetivas débeis de crescimento económico a médio e longo prazo. “Embora as taxas a longo prazo possam ter a tendência de subir à medida que os balanços dos bancos centrais diminuem e uma maior oferta catapulta o prémio de risco para manter obrigações soberanas, acreditamos que grande parte da reavaliação já é coisa do passado, aumentando a atratividade das obrigações de elevada qualidade e de longa duração em comparação com outros ativos financeiros”, revela.

As suas grandes apostas no contexto atual

Em consequência, desde há uns meses que a equipa começou a investir consideravelmente em obrigações do Tesouro norte-americano com classificação AAA, títulos de agências e obrigações de titularização hipotecária nas carteiras multissetoriais que gere. Tanto é assim que a ponderação ativa dos títulos AAA situa-se no nível máximo desde que começou a gerir a estratégia.

Ao mesmo tempo, dado o aumento das yields nominais e a quase duplicação dos spreads em relação aos estreitos níveis registados há um ano, liquidaram a subponderação em crédito norte-americano com classificação investment grade. “Embora os spreads possam aumentar como consequência dos riscos de recessão, acredito que estas obrigações têm um valor estratégico ou de longo prazo, tendo em conta o seu reduzido risco de incumprimento. Em comparação com outros ativos de risco, o potencial retorno por unidade de risco no crédito norte-americano é agora muito mais atrativo, visto que o intervalo de resultados diminuiu”.