Consolidação na gestão de ativos e as perspetivas para os private assets

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“Perante o esperado cenário de disrupção económica, e das mais que prováveis quebras de resultados operacionais das empresas, será plausível antecipar cenários relativamente à evolução do sector de fusões e aquisições e que, naturalmente, se poderão fazer sentir de forma mais ou menos prolongada no tempo, em função da capacidade de cada país conter a atual crise sanitária e social”. Quem o diz é Pedro Correia Pereira, especialista em Private Equity e M&A na Marsh Portugal que perante tal contexto económico partilha as suas opiniões e previsões relativamente à consolidação que se tem verificado no segmento da gestão de ativos. Só em 2020 observaram-se duas grandes movimentações corporativas no sector que prometem alterar a fotografia de mercado entre as maiores entidades gestoras mundiais. Falamos da oferta de aquisição da Merian GLobal Investors pela Jupiter Asset Management, num negócio de 469 milhões de euros, e da oferta de compra da Legg Mason, por um valor de 4.160 milhões de euros, por parte da Franklin Templeton.

 

Para o profissional da Marsh Portugal, “é interessante constatar que, ao longo dos últimos anos, assistimos a um movimento de consolidação do sector financeiro, tendência que também se verifica nas sociedades gestoras de ativos, especialmente em sociedades de pequena e média dimensão”. Para melhor compreender o “fenómeno (ou necessidade) de consolidação” o profissional alude aos desafios que as gestoras têm enfrentado, nomeadamente às exigências regulatórias impostas pela MiFID II, que impactaram as estruturas, margens e forma de fazer negócio destas entidades, bem como à “não menos relevante, concorrência promovida por empresas de base tecnológica como as WealthTech e robot-advisors”.

 

“Se perante o atenuar das tensões comerciais entre os Estados Unidos e a China, a resolução do Brexit, a manutenção de taxas de juro diretoras baixas e um entorno económico positivo, a perspetiva seria de que o movimento de consolidação prosseguisse. Contudo, entendemos que, o mais que previsível arrefecimento económico irá provocar ainda maior pressão nas gestoras de ativos para gerar sinergias de forma a não deteriorar as, já reduzidas, margens operacionais. As entidades que, porventura, não sejam capazes de cumprir com o acima referido, ficarão, naturalmente, mais expostas a movimentos de integração que poderão vir a tornar-se frequentes, embora com valores de aquisição mais comedidos”, comenta.

 

Mercado de private assets

 

Outra das grandes tendências que se tem verificado ao longo dos últimos anos tem sido o crescimento do interesse dos investidores por soluções menos líquidas como fontes de retorno adicional. No private equity em particular, Pedro Correia Pereira considera que de forma transversal, “o sentimento deverá ser pautado pela extrema cautela e alteração - ainda que temporária - do perfil de investimentos que estarão recetivos a considerar, priorizando projetos cujas atividades se revelem menos afetados pelos efeitos da pandemia”. 

 

Considera que  “não poderemos ignorar a pressão que recai sobre as equipas que compõem as sociedades gestoras de fundos de capital de risco - principalmente as que utilizem abordagens hands-on - em garantir que as empresas suas investidas desenvolvem e aplicam planos de contingência eficazes e necessários para responder ao COVID-19, por forma a conter potenciais desvalorizações nos valores das unidades de participação dos fundos. Por outro lado, estas entidades contam com volumes de dry powder nunca antes vistos. Os dados divulgados pela Prequin e com referência ao final de 2019, apontam para 2,4 biliões dos quais um bilião terá sido captado durante o ano passado”. Posto isto, o profissional da Marsh Portugal considera que “tal indicador permite concluir que a disponibilidade para realizar investimentos é efetiva, não devendo permitir que a atividade de análise e identificação de oportunidades de investimento abrande. Eventuais oportunidades poderão ser materializadas, de forma oportunística, durante o período de maior abrandamento económico, que se deverá fazer sentir nos próximos meses, existindo maior dinâmica quando a perspetiva de retoma económica for, razoavelmente, antecipada”.

 

Numa breve nota, Pedro Correia Pereira refere-se ainda aos sectores imobiliário e de infraestruturas, nomeadamente energias renováveis. O profissional considera que perante o atual contexto, “poderão vir a ser reconhecidos como investimentos de refúgio durante os próximos meses e até que se tenha real noção dos impactos financeiros provocados noutras atividades económicas. Este movimento é, de resto, o reflexo da atividade da prática de Private Equity e M&A da Marsh em Portugal, na medida em que, desde o início da pandemia, verificámos maior fluxo de projetos nestes dois sectores em detrimento de outros impactados diretamente pela crise como, por exemplo, retalho (non-food) e turismo, onde os processos tendem a ser interrompidos ou adiados”, conclui.