“Corpo e alma” de stockpicker com foco na gestão de risco

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Tambako the Jaguar, Flickr, Creative Commons

No final do ano passado tudo fazia acreditar que, no mundo das ações, teríamos uma Europa a apresentar melhores resultados, no entanto, e uma vez mais na história, os índices norte-americanos mostram a sua resiliência e passam a rasteira e os emergentes destacam-se positivamente. No mundo das obrigações, as dúvidas continuam a imperar e a pergunta mantém-se? Onde encontramos yield? É certo que existe em dívida emergente, mas não terá já passado o momento certo de entrada? Muitas são as questões e aqui iremos dedicar-nos à gestão de Niall Gallagher que tem algo quiçá pouco comum para gestores de ações – a gestão do risco.

Tradicionalmente, a avaliação de riscos é o deleite dos gestores de obrigações que o fazem seja por defeito ou por feitio. Aqui, claramente por feitio e pelo modelo criado pelo próprio gestor, atualmente responsável pela equipa de ações europeias na GAM e gestor dos fundos: GAM Star Continental European Equity – fundo com classificação Consistente Funds People e, que como o nome indica se trata de um fundo pan-europeu que não investe no Reino Unido, – e o GAM Star European Equity que inclui todo o “velho continente” enquanto geografia de investimento.

Semelhanças e diferenças

Seguindo um processo de investimento que não inventa a caixa de pandora face aos demais fundos de ações europeias, também Niall Gallagher se afirma como um “stock picker cujo processo de seleção de empresas é bottom-up, seguindo uma análise fundamental”, recorrendo também a analistas externos, baseando-se em diferentes critérios e, naturalmente, na experiência do profissional que gere fundos há quase duas décadas.

Claramente, o factor diferenciador surge na construção de portfólios e é colocando ênfase pelo gestor na passagem da teoria para a prática. “Se voltarmos atrás no tempo, para a altura em que frequentávamos a universidade, recordamos que sempre fomos ensinados que este trabalho tinha dois lados: a seleção dos ativos individuais e a teoria de portfólio. No entanto, quando comecei a trabalhar nesta área percebi que a segunda parte era completamente ignorada.” Neste sentido, para Niall, juntar os profissionais bons na construção de portfólios com os que são eficientes e de sucesso a fazer stock picking, é a “melhor maneira de construir portfólios inteligentes e ajustados ao risco”.

Deste modo, a estratégia do responsável de ações europeias da GAM centra-se numa construção de carteiras em que o profissional divide o risco das diferentes ações individuais em dois: o risco específico e o risco sistemático, por factores, como momentum, capitalização bolsista, estilo ‘growth’, ‘value’, etc. “Devemos ser capazes de mostrar, ex ante e ex post, que a maior parte do risco assumido é específico”, destaca. Esclarece ainda que, se um cliente paga a um gestor ativo para ser stock picker, é aí que deve ir buscar a rentabilidade e não a outra fonte e que isso deve ser comprovado.

Modelo multi-factorial: rigor e disciplina

O modelo foi desenvolvido por Gallagher quando o próprio estava na BlackRock (1998-2007), em estreita colaboração com as equipas de risco e caracteriza-se pelo facto de na construção da carteira, tanto nenhuma empresa como nenhum factor de risco superar 10% do tracking error total da carteira.

Esta gestão de risco que, no fundo surge após todo o processo de análise fundamental das empresas, critérios qualitativos na sua seleção, visitas e conversas com os quadros diretivos, análise macro e screening mais global do universo de ações europeias, é de extrema relevância, dado que elimina qualquer enviesamento que o portfólio possa ter. Permite ainda obter uma verdadeira diversificação e balanceamento de riscos em termos da construção da carteira.

No início do ano, o modelo mostrava que a “banda elástica” do mercado estava completamente esticada, ou seja, a diferença no retorno dos diferentes estilos de investimento estava em máximos. “Quando isto acontece, achamos que é muito importante, como gestores ativos, pensar ainda mais na construção do portfólio”, reitera. “Isto acontece porque aumenta a possibilidade de uma reversão dos factores que pode impactar significativamente a rentabilidade”, explica Niall. Neste contexto, em que o modelo mostrava sinais muito fortes, voltou a analisar os fundamentais de cada empresa analisando os desequilíbrios no mercado.

Além disso, olhando para o primeiro trimestre deste ano, em que a rotação sectorial foi mais do que evidente, o valor acrescentado deste modelo foi o de visualizar com maior clarividência quais as empresas e factores de risco que mais pesavam no portfólio e, dessa forma, proceder aos devidos ajustamentos.