Criptoativos e o investidor institucional: qual pode ser o ponto de viragem?

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Créditos: Markus Spiske (Unsplash)

Não obstante toda a dinâmica que tem impactado negativamente o mundo cripto em 2022, a verdade é que os últimos anos têm trazido estas temáticas para uma posição menos marginal nos média e nos fóruns de investidores. Fala-se da adoção no mundo da gestão de ativos, mas a verdade é que várias entidades gestoras deixam claro que os passos dados no sentido de oferecer soluções de investimento nesta área não são mais do que a resposta à exigência dos clientes que fazem questão de obter exposição a este universo. 

Para trazer mais alguma luz sobre este tema, o CFA Institute divulgou esta semana um estudo com o título Criptoativos: Para além do Hype onde se propôs a questionar e aprender com profissionais de vários campos de trabalho que interagiram de uma forma ou de outra com os criptoativos e as finanças digitais. Foram conduzidas uma série de entrevistas e recolhidas e organizadas algumas observações-chave. “A principal perspetiva do nosso inquérito foi a de tomar o ponto de vista dos investidores e dos profissionais de investimento à medida que se adaptam ao que pode tornar-se uma classe de ativos inteiramente nova”, explicam os autores. 

Uma das principais observações: “Investir em criptoativos é semelhante ao capital de risco e ao investimento em startups”. Para os autores, num ambiente de retornos baixos e convergentes em classes de ativos tradicionais, o mundo cripto vinha oferecendo “o potencial para um desempenho superior ao normal”. No entanto, deixam claro que “são ainda largamente equivalentes a uma promessa ou reivindicação sobre o futuro, em oposição a um empreendimento económico formal presente”.

Sobre o posicionamento dos investidores institucionais parece haver um acordo sobre a ideia de que os criptoativos e o ecossistema relacionado “ainda não atingiram um nível de qualidade institucional. As instituições e os consultores vinculados pelo seu dever fiduciário exigirão mais progressos em matéria de segurança jurídica e regulamentar, princípios de avaliação, lógica da volatilidade e custódia, antes de começarem a considerar seriamente a inclusão material de criptoativos numa carteira estratégica”. 

Contudo, os autores realçam também que algumas instituições “aventurar-se-ão no setor através de exposições mínimas, de modo a melhorar progressivamente os seus conhecimentos sobre estes instrumentos”. Em geral, dizem no relatório, os grandes proprietários de ativos, tais como fundos de pensões, não se veem a si próprios como os primeiros a entrar no campo. “Consideram que o seu nível de conhecimento é demasiado baixo, pelo que a perceção é que primeiro precisam de construir a sua base de conhecimentos sobre o setor”.

Ponto de viragem para os investidores institucionais? 

Segundo o relatório do CFA Institute, os investidores institucionais e os proprietários de ativos estão à espera que as seguintes condições sejam cumpridas antes de estarem prontos a considerar uma exposição material: 

  • Um quadro regulamentar mais claro e coerente 
  • Um historial decente 
  • Um potencial mais claro em termos de aplicações económicas 
  • Clareza e certeza sobre os aspetos de segurança 
  • Auditoria clara e informação transparente sobre o processo de due diligence e detalhes de aquisição 
  • Análise custo-benefício fiável 

O dever fiduciário é uma consideração fundamental para os investidores institucionais e um obstáculo atual à consideração de potenciais investimentos no mercado de cryptoassets, incluindo as seguintes questões: 

  • Dificuldade de explicar a base dos movimentos de preços do mercado
  • Imprevisibilidade 
  • Dificuldade de racionalizar pontos de entrada e saída para um investimento ou estabelecer um objetivo de retorno absoluto 
  • Dificuldade de quantificar o potencial ascendente 
  • Dificuldade de incluir um investimento em criptoativos no quadro de conformidade e gestão de risco existente 
  • Dificuldade em classificar os criptoativos, “talvez porque podem estar a meio caminho entre uma mercadoria e um instrumento financeiro” 
  • Atenção ao nível de utilização de criptoativos para atividades ilícitas e o risco de reputação associado

Nesta perspetiva, os autores indicam que os institucionais e os proprietários de ativos preferirão começar a ”explorar este campo de forma indireta, através de gestores de ativos especializados de terceiros vinculados pelo seu dever fiduciário em oposição aos investimentos diretos”. São da opinião de que nesta fase de desenvolvimento dos mercados de criptoativos, “os investidores devem considerar os méritos e riscos dos fundos de investimento cripto de uma forma semelhante à que consideram um investimento em fundos de investimento alternativos típicos, hedge funds, ou fundos de private equity”. Um paradigma que pode mudar com o tempo, à medida que o contexto regulamentar clarifica.