Crise de mercado devido à variante Ómicron: é isto que se está a ver nas mesas de trading

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Créditos: Ivan Diaz (Unsplash)

Apesar de alguns comentários no fim de semana sobre a possibilidade de os sintomas da nova variante da COVID-19 serem leves, a Ómicron tornou-se uma preocupação séria devido à sua possível transmissibilidade aumentada e à capacidade de neutralizar a imunidade. Embora ainda haja muita incerteza sobre as suas outras características – como o risco de mortalidade – esta notícia tem o potencial de alterar as perspetivas macroeconómicas e de mercado a curto prazo. De facto, os mercados financeiros estão a antecipar-se, com fortes correções.

“Os riscos para o crescimento global apresentam um viés negativo. A desaceleração da China e a crise energética são os principais headwinds. E agora a nova variante do vírus acrescenta mais incerteza às perspetivas macroeconómicas e políticas para os próximos meses. Com a inflação suscetível de permanecer em níveis elevados e mais perturbações na cadeia de abastecimento, os bancos centrais enfrentam um dilema político cada vez mais difícil”, reconhece Anna Stupnytska, economista da Fidelity.  

As principais questões a responder são duas

Na sua opinião, para proteger o crescimento e os mercados de trabalho, a retórica agressiva de instituições como a Reserva Federal e o Banco de Inglaterra poderá ter de ser reduzida. Pelo menos até que a nova variante revele as suas cartas. Para os mercados, esta época festiva pode revelar-se mais volátil do que os investidores esperam. Olhando para o futuro, as duas questões-chave para os investidores são as colocadas por Mathieu Racheter, responsável de Análise e Estratégia em Ações da Julius Baer:  quão contagiosa é esta variante do vírus e quão eficazes são as vacinas na prevenção de mortes? “Podemos não saber as respostas durante semanas”.

Os cientistas podem precisar de mais de duas semanas para descobrir, mas o elevado número de mutações relevantes é preocupante. “Qualquer novo confinamento será uma má notícia para o sentimento de risco, como evidenciado pela forte correção desta sexta-feira”, aponta Elisa Belgacem, estratega sénior de Crédito da Generali Investments.  As perguntas que a nova variante traz podem levar semanas a ter uma resposta, uma vez que os tempos científicos são outros. No entanto, podemos saber como os investidores estão a reagir graças ao que nos dizem das mesas de trading das gestoras.

O que nos contam as mesas de trading das gestoras

Tal como revela Eric Heleine, responsável da Mesa de Trading da Groupama AM, na sexta-feira passada assistimos a um movimento de redução de riscos que conduziu a uma queda geral das ações e a uma descida das yields vinculada ao sentimento de fuga em direção à qualidade. “Este movimento traduz-se principalmente em vendas de futuros nos mercados de ações. Não observamos pânico nem nenhuma deslocação do mercado. Simplesmente assistimos a um fenómeno de cobertura de um risco exógeno durante uma sessão na qual a liquidez era muito escassa devido ao Dia de Ação de Graças”, explica.

Quanto ao mercado de crédito, o movimento também aconteceu. Principalmente através dos derivados, com o iTraxx Crossover a saltar quase 19 pontos base na sexta-feira. Foi o maior movimento diário desde setembro, voltando ao seu nível mais elevado visto em novembro de 2020. Da mesa europeia de Trading da Franklin Templeton observaram algo parecido. “Embora se tenham produzido alguns movimentos extremos e seja difícil quantificar o impacto, é provável que a volatilidade se veja exacerbada pela ausência de muitos participantes no mercado norte-americano como consequência do Thanksgiving”.

A atividade na Europa foi alta

No entanto, da equipa destacam que a atividade no mercado europeu foi elevada. “Na sexta-feira passada registou-se o terceiro volume diário mais alto do ano no índice Stoxx 60. As empresas vinculadas à mobilidade (viagens, energia…) venderam-se de forma agressiva nessa sexta-feira por causa de alguns investidores que procuraram comodidade em empresas com uma maior orientação para o teletrabalho”.

“Se analisarmos os participantes ativos neste movimento do mercado, vemos que os fundos sistemáticos se viram obrigados a vender. Isto aconteceu devido ao aumento da volatilidade e ao facto dos indicadores de tendência a curto prazo estarem a dar a volta. Entretanto, os investidores de retalho voltaram a entrar em jogo como compradores contrarian para beneficiarem dos novos pontos de entrada. As gestoras de fundos não participaram muito neste movimento. Preferiram não reagir no momento, aproveitando a experiência dos últimos episódios de mercado quando se descobriram novas variantes”, afirma Heleine.

Isto é algo que corroboram de entidades como a BlackRock. “As notícias da nova variante contagiosa provocaram uma onda de vendas dos ativos de risco. Preocupam-nos os estragos que poderá causar na população e esperamos novas restrições de atividade. No entanto, de momento mantemos os investimentos tendo em conta que a nova variante do vírus e o aumento de casos de COVID-19 na Europa estão a afastar a predisposição ao risco. Qualquer atraso na vigorosa reativação económica atual implica uma maior atratividade no futuro”, manifestam da entidade americana.