Após dois anos de atraso face à tecnologia, o setor da saúde poderá recuperar em 2025, impulsionado por valorizações atrativas, M&A e avanços em biotecnologia, obesidade e inteligência artificial.
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O setor da saúde tem sido historicamente considerado um investimento defensivo. O seu crescimento estável e a sua resiliência tornaram-no num pilar de muitas carteiras. No entanto, nos últimos anos, tem ficado para trás em comparação com o setor tecnológico. Enquanto as chamadas Sete Magníficas dominam os mercados com as suas valorizações em máximos históricos, as ações do setor da saúde enfrentaram vários obstáculos: pressões regulamentares, incerteza política e um contexto de investimento mais centrado no crescimento agressivo do que na estabilidade.
Não obstante, 2025 poderá marcar um ponto de viragem. Com valorizações atrativas, uma potencial retoma das fusões e aquisições (M&A) e avanços na inovação médica, o setor da saúde poderá recuperar o interesse dos investidores. Num evento organizado pela Bellevue Asset Management, o gestor Cyrill Zimmermann destacou as principais tendências e oportunidades para este ano, abordando:
- A subvalorização do setor e o seu potencial de recuperação.
- As megatendências em biotecnologia, obesidade e digitalização.
- O impacto do contexto regulamentar e político nos EUA.
- A evolução das estratégias de investimento em saúde.
Setor da saúde em mínimos históricos de valorização
Segundo Cyrill Zimmermann, a ponderação do setor da saúde no índice S&P 500 diminuiu drasticamente na última década. Atualmente, representa apenas 10,1% do índice, apesar de as despesas na saúde nos EUA serem equivalentes a 18% do seu PIB. “A saúde tem estado fora do radar dos investidores. Os fluxos de investimento são negativos há dois anos, mas isso pode mudar em 2025”, afirma o gestor, que acrescenta que, desde os últimos meses de 2024, se começou a sentir um renovado interesse pelo setor.
Este desinteresse levou a valorizações atrativas, com um desconto de 30% em relação ao MSCI World. Cyrill Zimmermann destaca que a recuperação do apetite por ativos defensivos e a crescente atividade de fusões e aquisições poderão ser os catalisadores para a recuperação do setor.
Principais tendências: biotecnologia, obesidade e digitalização
- Biotecnologia: o regresso do investimento e o auge das aquisições
Os últimos três anos foram difíceis para o setor biotecnológico. A falta de financiamento e a ausência de OPV limitaram o crescimento de muitas empresas. No entanto, as grandes farmacêuticas estão a aproveitar as baixas valorizações para fortalecer o seu pipeline com aquisições estratégicas.
“O ciclo de M&A recomeçou. Em outubro, estive na Califórnia com uma empresa especializada em trombose, e, há algumas semanas, foi adquirida”, explica Cyrill Zimmermann, sublinhando o renovado interesse do setor em absorver empresas inovadoras com elevado potencial de crescimento.
Áreas como a oncologia, a edição genética e a neurociência são as que mais beneficiarão desta onda de aquisições.
- Obesidade: o novo megamercado dos cuidados de saúde
O impacto da obesidade na saúde pública e nos custos de saúde provocou um pico de tratamentos inovadores. Os medicamentos GLP-1 da Novo Nordisk e da Eli Lilly revolucionaram o setor, com estudos que demonstram uma redução de 20% da mortalidade em pacientes de alto risco.
“Não se trata apenas de uma tendência nos EUA ou na Europa. É um fenómeno global que continuará a atrair investidores”, destaca o especialista. Espera-se que o mercado cresça até aos 200.000 milhões de dólares, impulsionado por novos desenvolvimentos em terapias combinadas e pela expansão de tratamentos na China e na Índia, onde a obesidade também é um problema crescente.
- Digitalização e inteligência artificial na saúde
A utilização da inteligência artificial (IA) na saúde tem vindo a ganhar destaque nos últimos anos. Estima-se que a digitalização poderá eliminar até 300.000 milhões de dólares em ineficiências no sistema de saúde.
“A IA irá reduzir o tempo de desenvolvimento de medicamentos e otimizar o tratamento de doenças crónicas. Empresas como a Intuitive Surgical já utilizam biópsias digitais que permitem diagnósticos imediatos, sem ser preciso esperar pelas tradicionais análises”, afirma o especialista.
Além disso, o desenvolvimento de sensores avançados, como os monitores contínuos de glicose, está a permitir um melhor controlo das doenças metabólicas e uma abordagem mais preventiva da medicina.
Contexto regulamentar e político: oportunidade ou risco?
O panorama regulamentar nos EUA continua a ser um fator-chave. A administração Biden implementou a Lei da Redução da Inflação (IRA), que limita o preço de determinados medicamentos. No entanto, Cyrill Zimmermann comenta que esta medida afeta principalmente fármacos na fase final das suas patentes, pelo que o seu impacto no setor é limitado.
Quanto à aprovação de novos tratamentos, a FDA está a acelerar os processos regulamentares, especialmente em oncologia e dispositivos médicos. Cyrill Zimmermann sublinha que “um contexto mais favorável à inovação e com menos regulamentação beneficiaria as empresas de biotecnologia e de tecnologia médica”, o que poderia impulsionar o crescimento do setor nos próximos anos.
Em termos geopolíticos, a tensão entre os EUA e a China continua a ser um risco. No entanto, a Bellevue prevê que, com o tempo, o capital possa deslocar-se novamente da Índia para a China, dado o encarecimento das valorizações no mercado indiano.
Estratégias de investimento da Bellevue para 2025
A Bellevue, com mais de 80% dos seus ativos sob gestão no setor da saúde, dispõe de estratégias para capitalizar as oportunidades do setor, com destaque para as seguintes abordagens:
- Fundos diversificados com exposição global, especialmente na Ásia.
- Fundos temáticos focados em MedTech, obesidade e inteligência artificial na saúde. Neste caso, o fundo Bellevue Funds (Lux) Bellevue Medtech & Services é um fundo da gestora suíça com Rating FundsPeople 2025.
- Aposta nos mercados emergentes, com um maior investimento na China, na Índia e no Brasil.