Da privatização da CGD à constituição de um banco público...foi um salto!

É impressionante como as decisões mudam num curto espaço de tempo. Antes do Verão, falava-se na hipótese de uma privatização parcial da CGD; hoje, vamos avançar na constituição de outro banco público.

Não está aqui em causa a utilidade dessa decisão, uma vez que só daqui a uns anos é que saberemos se realmente existiu. Em teoria, tudo o que seja para incentivar o crescimento económico de um país com dificuldades estruturais em crescer, é bem vindo. O problema que muitas vezes acontece em Portugal são os resultados práticos!

Contudo, havendo no sector empresarial do Estado um grupo financeiro de dimensão e que por sinal já não será privatizado nesta legislatura, porque não aproveitar as competências do banco de investimento que a ele pertence, para potenciar a actividade de project finance e de financiamento da economia em termos gerais? Não se aumenta a despesa criando um novo banco e aproveitam-se as condições já existentes para se atingir uma maior eficiência.

Faz-me lembrar aqueles gestores de activos financeiros que têm por exemplo 20 títulos em carteira e que de repente surgem duas novas idéias. Em vez de analisarem a performance dos 20 activos e substituirem 2 com performance aquém do esperado pelas novas idéias, optam antes por adicionar essas novas idéias à carteira, passando de 20 para 22. Logicamente que, na maior parte dos casos, esta decisão não é eficiente.

Neste caso do banco de fomento, é quase a mesma coisa. Não existindo financiamento como se desejaria, dadas as condições difíceis do País e as restrições dos bancos para concederem crédito de forma mais expansiva, alguém se lembrou que a criação de mais um banco público vai resolver o problema, “esquecendo-se” que já existe um e que pode fazer esse trabalho com melhores resultados.

Existindo já recursos de qualidade numa instituição financeira pública que desenvolve a actividade de banca de investimento, porquê então estar a ciar mais custos de funcionamento, numa altura em que uma das palavras de ordem é “emagrecer” o Estado?

Já houve situações em Portugal que deram maus resultados, mas não sei porquê, temos uma tendência generalizada para repetir os mesmos erros! Na década de 80 do século passado, havia um banco do mesmo género, o Banco de Fomento Nacional mais tarde rebaptizado em Banco de Fomento Exterior. Enquanto não foi privatizado, não se descansou. Entre outras razões, uma delas era a de que só deveria existir uma instituição bancária do Estado, que  teria todas as condições para desenvolver operações de financiamento de m/l prazo. Hoje, quer criar-se um novo banco público com os mesmos objectivos!

É caso para lembrar uma frase célebre do saudoso Fernando Pessa: e esta hem?!