Em tempos de incerteza nos mercados e de uma elevada falta de visibilidade do que poderá estar para vir, olhamos um pouco para trás, para o passado, mais especificamente para as carteiras agregadas dos fundos de pensões nacionais e como estas evoluíram ao longo dos últimos 12 anos (com base nas séries longas disponibilizadas pela Autoridade de Supervisão de Seguros e Fundos de Pensões (ASF)). A multiplicidade de contextos de mercado é grande no período entre 2008 e 2019 e se é visível que o período de 2011 e 2012 foi o mais conturbado no que se refere às carteiras dos fundos de pensões (incluindo a passagem de alguns fundos de pensões para a segurança social), vemos também que 2008, o ano em que se concentrou grande parte da incerteza relativa à Grande Crise Financeira, teve um impacto mais moderado.
Fonte: ASF
No entanto, foi exatamente em 2008 que se verificou uma alteração de paradigma nos fundos de pensões que dura até aos dias de hoje. O peso do investimento direto em ações nas carteiras agregadas dos fundos, na ordem dos 25% no início de 2008, recuou significativamente, nesse ano, para menos de metade, e desde então não voltou mais a ter uma representação relevante. Fechou 2019 com um peso de meramente 4,5% no total das carteiras.
No entanto, observamos também uma tendência plurianual de crescimento do peso dos ativos alocados a fundos de investimento. Esta rubrica não aparece desagregada por classe de ativos nos dados da ASF, pelo que fica incógnita a sub alocação por tipo de ativo dentro da rubrica de fundos de investimento. É, contudo, inegável, que a confiança de quem gere fundos de pensões em veículos de investimento geridos por terceiros para canalizar uma parte significativa e crescente do investimento. De 25% do total dos ativos no final de 2007, os fundos de investimento passaram a englobar 31% no final de 2019.
Outras tendências evidentes nestes dados são, por exemplo, o crescimento do peso da dívida pública. Depois de uma quebra de tendência durante a crise de crédito do início da década, o peso da dívida pública não parou de aumentar, ultrapassando os 33% na leitura mais recente, o que compara com os 17% do final de 2007.
Finalmente, de realçar que os produtos estruturados praticamente desapareceram no princípio da década, tendo mostrado a sua maior relevância em termos de ponderação no total no final de 2009, e as obrigações corporativas e o imobiliário mantiveram o seu peso ao longo do tempo, de cerca de 16% e 8%, respetivamente.