Desembarque da nova SGOIC nacional: da perseverança do navio USS Nevada até ao foco na gestão de risco

Miguel Munhoz e Gabriela Poli. Nevada Investments
Miguel Munhoz e Gabriela Poli. Créditos: Vítor Duarte

A Nevada Investments chega ao mercado nacional como sociedade gestora (SGOIC) de um Organismo de Investimento Alternativo, depois de um track record de dois anos ainda como sociedade unipessoal. Como explica agora à FundsPeople Miguel Munhoz, presidente do conselho de administração e responsável de Fixed Income, esse período de dois anos permitiu à entidade “aproximar-se de potenciais investidores institucionais”.

Mas pode dizer-se que são anteriores a 2022 os primórdios deste projeto. Miguel Munhoz e os restantes sócios fundadores da entidade (cinco sócios no total, grupo do qual faz parte Gabriela Poli, na fotografia), conheceram-se aquando da partilha profissional no brasileiro BTG Pactual, e aí chegaram a algumas conclusões sobre o que poderiam fazer no mercado português. “Sentimos que em Portugal havia agentes muito vocacionados para a área de private equity e capital de risco e para o imobiliário. No entanto, percebemos também que existia ainda uma concentração de bancos relativamente a outros produtos. Vimos isso como uma oportunidade”, assegura.

Cada sócio, um gestor e uma classe de ativos

O track record do NEVADA - Fundo de Investimento Alternativo Flexível Aberto foi sendo, portanto, traçado de forma informal, desde 2022. Como o próprio nome indica, trata-se de um fundo “flexível aberto”, que pode investir em “diversas classes de ativos”.  Ou seja, como explica o responsável, na carteira podem entrar “obrigações soberanas e corporativas, divisas e ações”. A particularidade deste produto é que “cada sócio está responsável por uma classe de ativos”, como acontece com Miguel Munhoz, que comanda a parte de obrigações e divisas.

A experiência internacional da equipa é uma das mais-valias destacadas no trabalho que fazem. Miguel Munhoz acredita que o facto de terem “conhecimento sobre países emergentes poderá fazer alguma diferença em termos de gestão”, sobretudo porque se dizem conhecedores, por exemplo, de realidades distintas, “como países com hiperinflação”. Contextos que para quem gere um fundo multiativos “acabam por ser bastante úteis”, relata. Neste período de praticamente três anos em que colocaram em marcha a estratégia, já tiveram o know how da equipa a ser testado. Anteciparam que o mundo se encaminhava para um cenário de inflação em 2022, apesar de a Europa e os EUA estarem há 40 anos sem experienciar esse contexto. Essa visão, diz, deu-lhes “alguma performance”, num momento em que o S&P 500 caía 20%. “Nessa altura nós conseguimos crescer mais de 5%”, recorda.

Gestão muito assente no risco

A gestão do fundo multiativo faz-se através de “estratégias combinadas”, e com uma visão que apelidam de “fundamental”, suportada por “modelos sistemáticos”. Embora os gestores implementem as estratégias por classe de ativos, “a construção do portefólio deverá obedecer ao cumprimento dos processos internos definidos, nomeadamente da aprovação do comité de investimento”.

A gestão do fundo é sobretudo focada na gestão de risco e, por isso, atribuem “a cada exposição um risco específico, em cada uma das classes de ativos”. Posteriormente, explica o responsável, à medida que o cenário base da casa seja mais ou menos otimista, alocam mais ou menos peso a cada uma das classes. Diz que a vantagem do produto reside nessa agilidade. “Conseguimos diversificar as estratégias, ou seja, conseguimos ter um beta menor do fundo e conseguimos garantir, mesmo assim, retorno para o investidor”, explica.

O investimento direto é a base de investimento do produto, embora os ETF também façam parte do leque de alternativas, em concreto na parte de obrigações. “Como não temos ainda uma dimensão muito relevante, estes instrumentos facilitam na parte da liquidez e ao nível dos custos, também”, aponta. Sendo este um fundo em que o trabalho de vários gestores é posto à prova, há que avaliar a performance de cada um, e fazem-no através do sharpe ratio. “Temos uma avaliação que é muito justa para cada gestor. O que fazemos é basicamente ver o retorno por gestor ajustado ao risco”, diz.

ESG: reflexo da cultura da empresa

Deliberadamente, a sustentabilidade é um dos pontos em que a equipa gestora se foca. O produto é classificado como artigo 8.º da SFDR, e “10% dos ativos são promotores de caraterísticas ambientais”, enquanto 20% se focam na parte social. Ponderações que Miguel Munhoz acredita que se incrementarão ao longo do tempo, à medida que consigam “criar novos comités e contratar recursos humanos com esse conhecimento”. O responsável confessa mesmo que esta vertente era “um objetivo quase pessoal e da cultura da sociedade”.

Em termos de clientes, os institucionais são, para já, o foco da entidade. Apesar disso, e com os olhos postos no futuro, constituíram duas classes de fundo para, eventualmente, poderem chegar ao segmento de retalho. “Queremos chegar não só a investidores profissionais, como a não profissionais; numa fase inicial, a prioridade é uma captação de recursos na parte de institucionais, visto que a parte de retalho também exige outro tipo de recursos”, assinala. O fundo está disponível para comercialização no Banco Bison - que é também o banco depositário do produto -, e ainda na Interbolsa.

Planos de futuro suportados pela perseverança

Os planos da entidade para o futuro são ambiciosos, mas sabendo que o crescimento tem de ser feito paulatinamente. Querem ter uma equipa maior, com funções mais diversificadas, e em termos de ativos sob gestão, quem sabe, chegar aos 20 milhões de euros nos próximos dois/três anos. A garantia é de que a resiliência será o fio condutor do caminho, já que até no nome da entidade essa caraterística está impressa. “O Nevada (USS Nevada) era um navio que foi atacado na Segunda Guerra Mundial por uma armada japonesa, e que acabou por conseguir sair de Pearl Harbor. Nunca se rendeu. Esta é uma história de resiliência e de perseverança, e acho que se nós nos adaptarmos às condições que enfrentamos, acabaremos por ter neste nome um bom presságio”, concluiu.