A Europa, tradicionalmente impulsionada pelos dividendos, adiciona agora ao seu atrativo a recompra de ações, aumentando a sua atratividade para o investidor.
Historicamente, os dividendos desempenham um papel mais importante na Europa do que nos EUA, mas a pandemia causou uma mudança nesta tendência. As empresas europeias têm recorrido cada vez mais à recompra de ações como um meio de devolver capital aos acionistas, oferecendo mais flexibilidade e uma rentabilidade potencialmente maior. Esta mudança é evidente na recente onda de grandes empresas europeias e britânicas que anunciaram recompras, como a BP, UBS, Unicredit, Beiersdorg e outras.
Esta tendência para o aumento da atividade de recompra fora dos EUA é considerada por alguns especialistas como uma oportunidade para os investidores.
As empresas europeias desafiam o domínio dos EUA na recompra de ações
Em 2023, a proporção de grandes empresas europeias (especialmente no Reino Unido, em França e na Alemanha) que recompraram pelo menos 1% das suas ações estava quase igual à dos EUA, que historicamente têm dominado na atividade de recompra. De facto, segundo Harry Goodacre, estratega na Schroders, a percentagem de grandes empresas britânicas que recompraram pelo menos 5% das suas ações foi maior do que a das empresas americanas.
Guillaume Jaisson, estratega na Goldman Sachs AM, acrescenta que isto se deve, em parte, aos 1,5 biliões de euros nos balanços das empresas europeias, o que representa mais 35% do que antes da pandemia, pelo que o rácio de liquidez em ativos está acima do nível de 2005, que precedeu a um grande auge não só das despesas de capital como também das fusões e aquisições e das recompras de ações.
O começo de uma nova Era de retorno para os acionistas
“Os dividendos vão continuar a ser a principal fonte de retorno”, assinala Guillaume, embora reconheça que as recompras estão a crescer. Além disso, segundo o último relatório publicado pela Goldman Sachs, o especialista argumenta que espera que as empresas do índice europeu STOXX 600 devolvam mais de meio bilião de euros aos acionistas através de dividendos e recompras, um número recorde.
Outro dado proporcionado pela Goldman Sachs é que as recompras representam atualmente 35% do retorno absoluto do acionista face ao nível histórico de 20-25%, acrescentando que esta combinação de recompras e a falta de novas emissões fizeram com que a oferta de ações públicas tenha reduzido ao ritmo mais rápido da história, registando uma diminuição de 170.000 milhões de euros líquidos nos últimos 12 meses.
Segundo o estratega, “o retorno de fluxo de caixa livre encontra-se em cerca de 6% na Europa, mais de um ponto percentual acima dos EUA, e o retorno esperado torna o STOXX 600 uma alternativa razoável às obrigações do Tesouro americano a dez anos e ao S&P 500, pelo que as ações europeias raramente pareceram mais baratas em termos absolutos e relativos”.